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Bolas de Berlim do Natário até à Tailândia já chegaram

A confeitaria Manuel Natário já é um ex-libris de Viana do Castelo, com verdadeiras romarias ao fim-de-semana e no Verão. A receita é secreta e os bolos chegam aos quatro cantos do mundo.

29 de Março de 2016 às 00:01
Paulo Duarte
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São 11:30 e as bolas estão quase a sair. Na confeitaria Manuel Natário está tudo cronometrado: há duas fornadas de bolas de Berlim por dia, uma às 11:30 e outra às 16:30 e os clientes já sabem.

Com o aproximar da hora a fila vai crescendo e já está na rua, algo que, para Fernanda Natário, até é estranho, tendo em conta que é quarta-feira. "Quando vi estas pessoas todas aqui à porta pensei logo: isto é uma excursão que aterrou em Viana. Há excursões de pessoas de outros lados, outras terras que vêm cá buscar biscoito de Viana, bolas, etc", contou a viúva de Manuel Natário, que deu fama à confeitaria de Viana do Castelo, um local de paragem obrigatória na cidade.

Fernanda já contou a história da casa que gere tantas vezes que diz que vai "gravar uma cassete". A confeitaria, com mais de 80 anos, foi fundada pelos pais de Manuel Natário e a receita secreta das bolas é do próprio. A dona do negócio não consegue dizer exactamente quantas bolas vende por dia.  "Às vezes estamos a contar com muitos clientes e as bolas ficam. Ao domingo chegamos a ter 40 ou 50 pessoas ao mesmo tempo e as bolas não chegam", garantiu.

A fama das bolas do Natário chega longe. Há quem vá comprar para familiares emigrados ou envie pelo correio. "Já têm ido para a Tailândia, para o Brasil, para Angola. As pessoas vão visitar a família e levam bolas. Conheço uma senhora que mandou meia dúzia de bolas por correio para a Alemanha. Imagino como lá chegaram", ironizou Fernanda.

A encabeçar a fila para as bolas estava Deolinda Mateus, confirmando a globalização do doce. "Venho aqui de Ponte de Lima, de propósito comprar, porque logo vou para Paris e vou levar para os meus filhos". Na fila também está Dorinda Alves, que  encomendou antes. "Perdoamos o mal que faz pelo bem que sabe", brincou a cliente.

O negócio é pequeno, mas já conta com 10 funcionários que, por vezes, não têm mãos a medir. Albino Vieira, 64 anos, trabalha no Natário há 30.  "Os estrangeiros gostam muito da nossa pastelaria. Já trazem o livrinho, o roteiro, levam às ‘carradas’ para as mesas para comerem", contou. "Às vezes não chegam as bolas. E pronto. Ninguém se zanga , no outro dia há mais", concluiu.

A próxima geração da família já está a tomar conta do Natário. "Para o futuro espero que o meu neto gostasse de continuar aqui... mas não sei. E eu estou com vontade de mais dia ou menos dia me reformar", referiu a viúva do fundador. Ao Negócios, o neto Alexandre quis deixar a avó mais descansada. "Sim, planeio ficar a tomar conta do negócio, a pouco e pouco vou gostando", referiu o informático de 27 anos. As bolas têm futuro assegurado.

cotacao As bolas já têm ido para Paris, para a Tailândia, para o Brasil e Angola. Fernanda Natário Dona da confeitaria Natário
curiosidades O segredo é a alma do negócio As filas dão a volta ao quarteirão e a confeitaria Manuel Natário chega a vender mil bolas por dia. A receita é um segredo bem guardado, num negócio que sofreu com os impostos.

Mil bolas

Há dias, no Verão, em que a pastelaria pode chegar a vender "mil bolas" por dia, dizem os funcionários. Numa manhã típica, referiu Albino Vieira, saem 400 bolas para os clientes.

Negócio "dá para viver"

"Isto dá para pagar aos funcionários e aos fornecedores, e eu tenho que viver também", referiu Fernanda Natário. Mas reconheceu que "antigamente [o negócio] dava mais dinheiro, mas agora com o que se paga de impostos é complicado". Apesar de o "contabilista estar sempre a ligar", Fernanda recusa-se a "chorar". "Os funcionários às vezes dizem: ganhámos tanto dinheiro hoje! Pois é, mas eu tenho muito a pagar. São dez pessoas, há a renda, a luz. E os fornecedores não têm razão de queixa", garantiu.

Segredo bem guardado

Quando um produto tem o sucesso das bolas do Natário é normal que a receita desperte curiosidade. "Há tempos ligaram-me para virem ver o fabrico das bolas de Berlim. Eu não deixei", contou Fernanda. O mesmo acontece com os biscoitos de Viana e com os rebuçados do senhor dos Passos. "Pediram-me também se não podia por uma etiqueta colada no saquinho a dizer os ingredientes que os rebuçados levavam". Nada disto convence Fernanda a abdicar do segredo.

Bolas para revenda

Por vezes os clientes compram um número suspeito de bolas de Berlim. "Vêm cá ao fim-de-semana comerciantes, que têm pastelarias, comprar bolas, vão vender e dizem que ainda ganham dinheiro", garantiu Fernanda.

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