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Empresa de explosivos junta os cacos da VianaGrés

O grupo Moura Silva & Filhos comprou a falida fábrica de cerâmica, que em dois anos disparou a produção, começou a exportar louça de forno e está a batalhar por contratos milionários com a Starbucks e a Guinness.

29 de Março de 2016 às 00:01
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O letreiro antiquado espetado no telhado da fábrica, à face da estrada nacional 308, na freguesia de Carvoeiro, encaixa na narrativa dos largos 28 anos de história da VianaGrés, uma das mais emblemáticas indústrias do concelho de Viana. No interior, os novos donos desta cerâmica deitaram a mão à semiótica e fizeram pender cartazes gigantes que tornam impossível não ler a qualquer hora que "as oportunidades multiplicam-se à medida que são agarradas" e que "não podemos prever o futuro mas podemos criá-lo".

O pai de Jorge Vieira também não podia antecipar que a Moura Silva & Filhos, a sua empresa de produção de explosivos, acabasse a tomar conta de um negócio de louça no Alto Minho. Pertencia à construtora Aurélio Martins Sobreiro, que encerrou em 2012 com dívidas de 31,3 milhões de euros, e em Novembro de 2013 o grupo da Póvoa de Lanhoso que lhe fornecia os explosivos para as obras acabou por salvá-lo da insolvência.

Com pouca orientação e nenhum salário, durante quase dois anos as quatro dezenas de trabalhadores mantiveram as velhas máquinas a funcionar e foram respondendo às poucas encomendas que chegavam. "Isto foi a única coisa que a maior parte deles fez na vida. Quiseram segurar os postos de trabalho a ver se aparecia alguém e aguentaram a empresa até chegarmos. Se eles se tivessem ido embora, se calhar a VianaGrés estaria fechada", destacou o director financeiro, Sérgio Guimarães.

Os 41 funcionários "assumidos" passaram a 51. A produção média cresceu de 45 mil para 110 mil peças por mês. Ao investimento inicial de 800 mil euros para ficar com todo o imobilizado, alguns créditos e com os clientes que só tinham no mercado nacional, os novos sócios somaram meio milhão de euros em novas máquinas, calculou o gerente, Jorge Vieira. Em 2015 superou o milhão de euros de vendas e 60% delas foram feitas no estrangeiro.

A britânica Rayware, distribuidora de louça e utensílios de cozinha, e a germânica Rastal, a quem vende canecas de cerveja, são os clientes mais "emblemáticos". Ainda assim, marcas que, em notoriedade, ficam a anos-luz da Starbucks e Guinness, com quem negoceia o fornecimento, respectivamente, de louças comemorativas de cidades europeias e de "merchandising". Apesar de ainda estar na fase de enviar amostras e de partir "muito atrás" dos concorrentes, Vieira olha para a caneca meio cheia: "sabemos que será muito difícil vencer, tal e qual estamos neste momento, mas pelo menos é uma preparação para vencer outros no futuro".

cotacao Os operários quiseram segurar os postos de trabalho e aguentaram
até chegarmos. Se tivessem ido embora, se calhar a VianaGrés estaria fechada.
que dá mais dores de cabeça.
tome nota Meter clientes no forno e tirar gás aos custos  Há dois anos, a VianaGrés não exportava. O "milagre" foi orientar a produção para a procura dos estrangeiros. Os maiores concorrentes são nacionais e a energia o custo que dá mais dores de cabeça. 

Forno para exterior

A VianaGrés está a "tentar vocacionar-se mais" para a louça de forno, composta sobretudo por assadeiras e terrinas, pois "é o que o mercado externo está a pedir", justifica o director financeiro. Aliás, já pesa mais do que a louça de mesa (pratos, tigelas, copos). Aquela que chegou a ser uma das maiores fabricantes de canecas a nível europeu, com perto de sete mil unidades por dia, está também a tentar recuperar esse mercado no exterior, em particular na Alemanha.

"Inimigo" à porta

Os maiores concorrentes da VianaGrés estão em Portugal, esclarece Sérgio Guimarães, descrevendo um sector que "está a crescer muito,  cada vez mais competitivo e [em que] há muitas empresas a abrir e a fazer cerâmica em pasta grés". Esta pasta está cada vez mais na moda a nível internacional, por ser mais barata, mais flexível a nível de cores e mais resistente do que a porcelana para o uso diário na cozinha.

Responder a nichos

A maior parte dos concorrentes tem muito maior produção e está mais interessada em grandes volumes, de centenas de milhares de peças, do que em encomendas de "cinco mil de uma cor e depois outras tantas de outra cor", aponta o director. Além de "conseguir fazer esses nichos", garante que é a única empresa a nível nacional que pinta à mão.

Gás natural à espera

Os recursos humanos justificam 50% dos custos e, com o forno ligado 24 horas por dia, o segundo que mais pesa é o gás propano, gastando 20 a 25 mil euros por mês. A VianaGrés está, por isso, a negociar com a Câmara para "ver se [consegue] que chegue cá a rede de gás natural, que é muito mais barata", diz Sérgio Guimarães.

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