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Maria das Dores Meira: “Não vemos Lisboa como uma ameaça”

Setúbal tem sido palco de um crescimento do turismo e, à semelhança da capital do país, não escapou à febre do alojamento local com 510 habitações licenciadas para o efeito.

26 de Setembro de 2019 às 14:30
Maria das Dores Meira, presidente da Câmara Municipal de Setúbal Rui Minderico
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É uma entusiasta do crescimento do turismo em Setúbal, sublinhando o reforço do alojamento local e da oferta hoteleira, assim como o crescimento do número de bares e restaurantes. Para Maria das Dores Meira, Setúbal tem a sua própria identidade e não deve ter pruridos em dizer que o aumento do turismo em Lisboa é para aproveitar. A contestação de vários empresários às dragagens previstas para o Sado tem dado polémica e a autarca não esconde a sua impaciência com este dossiê.

Como caracteriza o tecido empresarial de Setúbal?
Setúbal foi um concelho ostracizado e esquecido por toda a gente, a todos os níveis. E também do ponto de vista empresarial. Havia até há poucos anos a ideia de que Setúbal era um concelho miserabilista, com muitos problemas sociais, alguma marginalidade, uma taxa de desemprego muito elevada, e empresas, nem vê-las. Ora Setúbal tem uma península com um dos maiores PIB nacionais. Temos a Secil, a Navigator, a maior fábrica de pasta de papel do mundo, e a Lisnave, a maior reparadora naval da Europa. Depois temos um dos principais portos em Portugal, que tem crescido a olhos vistos. Há ainda muitos produtores de vinho. Temos também as queijarias e a produção de pastelaria típica. Estamos é com um problema de falta de mão de obra.

Porquê?
Especializações como carpinteiros, pedreiros ou motoristas são competências que temos pouco. E há uma franja de indiferenciados que não estamos a conseguir recrutar, como na higiene e limpeza e jardinagem. Há restaurantes e alojamentos locais que não conseguem arranjar quem trabalhe. Até porque temos já 510 alojamentos locais legalizados e 14 hotéis. Temos uma taxa de desemprego inferior a 5%.

Mas o grosso das pessoas não trabalham em Lisboa?
Há muita gente a trabalhar em Lisboa, mas não é a maioria. Mas não se deve a isso. Houve um grande "boom" no concelho, nomeadamente de turismo. Com o turismo, vieram bares, restaurantes e operadores turísticos que não existiam. Isto tudo criou emprego, riqueza, desenvolvimento económico na região.

Setúbal beneficiou do aumento de turismo em Lisboa?
Sim, houve um benefício muito, muito grande. O facto de sermos membros do clube das mais belas baías do mundo permitiu um conhecimento mundial da nossa baía, do nosso município.

Mas o concelho é deficitário quanto à oferta hoteleira de qualidade, não é?
Sim, precisamos de hotéis com outro tipo de capacidade e para pessoas com maior poder económico. O que temos aqui ainda é pouco.

O que existe em termos de incentivos ao investimento das empresas?
O incentivo é haver uma espécie de "via verde" cá dentro. Quando querem falar connosco, as empresas são imediatamente atendidas. Do ponto de vista das taxas, o que temos vindo a fazer é dizer às empresas que não queremos receber o dinheiro. Queremos é que façam as infraestruturas à volta.

O que é que está a ser feito para que Setúbal não seja um dormitório de Lisboa?
Não vemos Lisboa como uma ameaça. É a nossa capital e felizmente está a bombar. Isto não é uma competição. Temos outras coisas, até por sermos mais pequenos. Somos um complemento a Lisboa, com uma identidade própria. Temos 123 mil habitantes e mais de 60% estão cá, entre Setúbal e Azeitão, que já tem muita indústria. Temos 14 empresas a fazerem ostras. Tem havido um desenvolvimento da aquacultura, da piscicultura. Temos os golfinhos.

Há pessoas que reclamam [contra as dragagens do Sado] porque senão ninguém sabia quem eram. 

Precisamente pelo ressurgimento da aquacultura ou do visionamento de golfinhos, as dragagens previstas para o Sado têm sido muito criticadas.
As dragagens não são responsabilidade da câmara. São da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra. Nós estamos de acordo [com as dragagens], mas se houver algum impacto negativo nas espécies marinhas opomo-nos imediatamente. Agora, o porto de Setúbal gera postos de trabalho e riqueza para o município.

Estes empresários que contestam as dragagens têm razão para estar preocupados?
Não são empresários. Há um ou dois agentes turísticos para quem, primeiro, está o seu barco. Pois nós estamos preocupados com o negócio deles e dos outros. De todos. Há pessoas que engrossam a voz porque sim, não têm nenhum estudo científico. É porque ouviram dizer. Há outros que podem ter estudos, mas que não nos foram apresentados . Outras pessoas reclamam porque dessa forma têm um holofote em cima da cabeça porque senão ninguém sabia quem eles eram. Assim pode ser que o seu nome e fotografia venham no jornal.

O grupo Pestana, um dos contestatários, não precisa propriamente de ganhar visibilidade.
O grupo Pestana precisa de continuar ali a fazer umas casinhas. Não são umas casas, são umas casinhas. E portanto preza muito que o seu negócio possa desaparecer. É só isso. Respeitamos o grupo como respeitamos todas as outras pessoas que não estão de acordo com as dragagens. Mas não há sustentabilidade nisso.

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13 anos ao leme do concelho

Maria das Dores Meira, que chegou à Câmara Municipal de Setúbal pelas mãos da CDU, está desde 2006 à frente da autarquia. Os primeiros anos foram em substituição do então presidente, que na altura se demitiu, e por isso está desde 2017 a cumprir o seu segundo mandato. Áreas como a cultura, a educação, a habitação, a reabilitação do património na cidade, o reforço do turismo ou o incentivo ao investimento estão entre as áreas que escolheu para se dedicar nestes dois mandatos. Treze anos depois de ter tomado o leme do município, assegura que o concelho sofreu uma grande melhoria e que, ao contrário do que acontecia há alguns anos, Setúbal ganhou outra visibilidade. 

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