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Sem que tenha sido um processo consciente, a ligação de Sandra Louro à cortiça vem da infância. As voltas da vida trouxeram-na de volta ao material que sempre a fascinou e que a levariam a criar a Likecork, uma marca com clientes em muitas partes do mundo.
Original do Algarve, Sandra Louro formou-se na Faculdade de Belas Artes em design de equipamento. Seguiu-se um trabalho na área museológica. "Desde pequena que tenho um fascínio pelo património e ali bebi muita informação sobre a história da região".
De volta ao Algarve, ocorreu-lhe em 2006 pegar num material então menosprezado, a cortiça. "Ninguém trabalhava com a cortiça, apesar de ser um material tão espetacular", recorda.
O que tem a cortiça de tão extraordinário? "É leve, é macia mas tem partes rugosas, tem várias tonalidades, tem densidade, tem flexibilidade", explica a designer.
Entretanto surgem os primeiros protótipos e o início das parcerias com artesãos locais, seja os que trabalham o cobre e o latão, a palma, folha proveniente da palmeira anã, tradicionalmente transformada em sacos, alcofas e capachos, ou a cerâmica.
A associação ao projeto municipal Loulé Criativo pô-la em contacto com uma rede de oficinas e de artes diversas como estas e, com a Loulé Design Lab, incubadora do mesmo projeto, conseguiu o apoio que precisava para se lançar. Em 2012 surge a Likecork, altura em que, em Portugal, "o público ainda não entendia o produto", diz. O mercado externo era, por isso, o principal destino das vendas. Tudo mudou entretanto. "Há uma viragem no sentido da procura de materiais ecológicos, de origem nacional e feitos à mão".
Sandra Louro é a dona da marca e a designer que concebe as peças, desenvolvidas, depois, com as parcerias que estabeleceu com um conjunto de produtores e artesãos locais.
Em paralelo à Likecork, criou outra marca, a Lifecork, onde estão as peças mais comerciais, as pequenas ofertas. As receitas desta última ajudam a suportar a outra marca, mais criativa e para um segmento mais elevado.
Desde candeeiros de teto a bancos, cadeiras e mesas, passando pelas lamparinas inspiradas nas chaminés algarvias, a tapetes ou porta-revistas são várias as criações feitas com a cortiça. Na maioria das vezes em conjunto com os tais outros materiais.
A Likecork vende para mercados como França, Inglaterra, Alemanha e Eslovénia. Mas Portugal tem hoje um peso importante. Fornece hotéis e restaurantes, alguns de topo, nomeadamente os da região algarvia que procuram decoração regional de qualidade. Cá como lá fora também tem clientes particulares. O objetivo para 2020 é desenvolver a parte comercial e reforçar o posicionamento da Likecork em mercados onde a marca é bem aceite.
Tirar partido das potencialidades da cortiça
A cortiça é um material que sempre fascinou Sandra Louro. Já adulta, enquanto designer, voltou a cruzar-se com esta matéria-prima tão portuguesa.
"A Likecork não é o meu ganha pão"
"Tudo o que faço é com o que ganho", diz Sandra Louro. A designer explica que não trabalha a tempo inteiro no projeto Likecork, que não é o seu "ganha pão". E afiança que é isso que a permite ter liberdade para criar como quer. Sem funcionários por sua conta, trabalha com vários parceiros que, por conta do seu negócio, também ganham mais trabalho. Em 2018 as vendas da Likecork rondaram os 20 mil euros e este ano a empresa prevê faturar 27 mil euros.
O primo que trabalhava a cortiça
Sandra Louro acredita que foi influenciada pelo contacto que teve em criança com o trabalho de um primo seu que trabalhava na fileira da cortiça e que nos tempos livres aproveitava para desenvolver pequenas peças, quase esculturas com o desperdício da cortiça. "Aquilo fascinou-me e ficou registado".
Loulé design lab
Projeto da Câmara Municipal, esta incubadora inserida na Loulé Criativo já apoiou perto de vinte projetos criativos da região, de áreas tão diversas como o mobiliário e artigos de decoração como os produtos ecológicos para a prática do desporto, como a cosmética, os acessórios de beleza ou o turismo. Até 15 de janeiro de 2020, estão abertas as candidaturas a novos residentes.