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Voluntários da cultura resistem na cidade berço

O Centro para os Assuntos de Artes e Arquitectura vai sobrevivendo, depois da capital europeia da cultura. Mas com muitos desafios pela frente, começando pelo financiamento.

30 de Junho de 2016 às 00:01
Paulo Duarte
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A fábrica que Ricardo Areias e a mulher reabilitaram para a capital europeia da cultura foi pintada de preto, destoando dos edifícios industriais abandonados perto do centro de Guimarães, mas não perto o suficiente para ser um local de entrada para quem passa. E é este um dos principais desafios do Centro para os Assuntos de Arte e Arquitectura (CAAA), fundado um pouco antes da capital europeia da cultura, em 2012.

"Foi criada uma associação que juntava vários artistas e pessoas de áreas diferentes. Tinha dois arquitectos, dois fotógrafos, uma pianista, um designer gráfico, um cineasta, um artista plástico e um advogado", contou Ricardo Areias, director do projecto e arquitecto. 

O espaço, pensado como multidisciplinar, nunca deixou de o ser, ainda que neste momento tenha algumas dificuldades em "vender" a sua programação ao público.  "Os desafios são muitos e prendem-se com questões orçamentais, com a divulgação, e o público. Existiu um grande fluxo de público na capital europeia da cultura, que se habituou a responder a um tipo de comunicação, mas que depois não teve continuidade", explicou Ricardo Areias.

O CAAA tem neste momento programação assegurada até meados do próximo ano, contando muitas vezes com a boa vontade dos artistas.

"Conseguimos ter os mesmos artistas que vão ao centro cultural de Vila Flor, a apresentar coisas aqui a custo zero", referiu Ricardo Areias. Por vezes até pagam as viagens do próprio bolso, como aconteceu com o actor Miguel Moreira. "Sem isso não conseguiríamos ter a programação que temos.

Eles próprios mudam de registo quando estão dentro de uma estrutura destas", explicou o director do centro.

O financiamento tem contado com o apoio da Câmara da cidade, mas que só dá para cobrir a renda que a associação paga ao senhorio.  O espaço alberga algumas empresas de cinema, iluminação e outras actividades que, em troca de uma renda reduzida, ajudam a organizar exposições, "performances" e outras actividades que vão preenchendo a programação do CAAA.

Os bilhetes não têm preço fixo. "O que temos é uma sugestão de donativo, uma caixa à entrada que é simbólica. O público vem às inaugurações e a eventos específicos. Há eventos em que cobramos bilhete, quando são espectáculos com artistas que temos que pagar. Durante a semana há muito menos pessoas", explicou Ricardo Areias.

O director do CAAA elogiou o espírito de quem trabalha no centro, a título voluntário. Mas gostava de ter uma pessoa a tempo inteiro, para conseguir promover melhor o espaço.
tome nota De Nova Iorque para a capital da cultura Ricardo Areias vivia em Nova Iorque antes de se lançar neste projecto. O centro tem quartos para os artistas e não conta muito com mecenato para se financiar.

Viagem transatlântica
Ricardo Areias e Maria Luís Neiva, co-directora do centro, moravam em Nova Iorque antes de decidirem regressar a Guimarães, no período antes da capital europeia da cultura. "Viemos porque tínhamos projectos grandes aqui e optámos por voltar", adiantou o arquitecto.

Residência para artistas
O CAAA conta com alojamento para artistas que vêm de fora e que muitas vezes acabam por pagar do seu próprio bolso para ir actuar ou expor o seu trabalho no centro.

Sala de ensaios é ginásio
Quando não há ensaios, a sala funciona como ginásio, sendo usada por "personal trainers" que dão aulas no CAAA.

Mecenato? complicado
Ricardo Areias admite que o centro poderia ter acesso a mais fundos através do mecenato, mas que isso é uma actividade que exige mais trabalho. "É preciso alguém ir atrás dele. Quando reabilitamos o edifício tivemos uma série de apoios, mas era o dia todo a bater à porta das empresas. O mecenato também não existe muito em Portugal. É mais vantajoso fazê-lo em estruturas públicas do que privadas", explicou.

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