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Todas as semanas chegam pedidos de CV [curriculum vitae] de recém-mestres e licenciados em Engenharia Têxtil aos serviços da Universidade do Minho. A indústria precisa de sangue novo, e a oferta não chega para a procura. Num esforço de divulgação destes pedidos de emprego, a direcção do DET [Departamento de Engenharia Têxtil] decidiu publicar estas mensagens", lê-se na página de entrada da secção "Empregos" do seu site.
São várias dezenas de mensagens de empresas à procura de engenheiros têxteis, mas que acabam por ficar sem resposta. "São seguramente cento e muitas ofertas. Todos os meus colegas de faculdade, que têm a minha idade e estão na indústria têxtil, telefonaram-me, desesperados, a dizer que querem engenheiros para começar a ‘passar a pasta’ mas não têm", confidenciou, ao Negócios, Joana Cunha, directora da licenciatura em Design e Marketing de Moda, curso que, tal como de Engenharia Têxtil, também funciona no campus de Guimarães da UMinho.
A falta de engenheiros têxteis é resultado da má fama granjeada pelo sector têxtil português ao longo de muitos anos. "Como houve, em tempos, um declínio desta indústria, os filhos olhavam para os pais e diziam: ‘Não quero seguir esta carreira!’", ilustra Domingos Bragança, presidente da Câmara Municipal de Guimarães, cidade que ganhou o epíteto de "fábrica têxtil da Europa" e que tem sete têxteis no top-10 das suas maiores exportadoras.
Ainda hoje, apesar de a indústria têxtil estar a passar por um período de grande pujança, conta-se pelos dedos de duas ou três mãos os jovens interessados em seguir Engenharia Têxtil. "Não é um problema de vagas, mas de candidatos", sintetiza António Cunha, reitor da UMinho. "A inversão do ciclo que esta indústria fez demora a chegar à opinião pública", sublinha. Daí que a universidade, "juntamente com os industriais do sector e as autoridades locais", esteja a trabalhar num plano de acções para atrair jovens para "este sector com futuro".
Ainda no final do ano passado, durante a quinta reunião do Conselho Consultivo para o Investimento e Emprego, promovida pelo presidente da autarquia vimaranense, dedicado à "importância dos cursos têxteis na economia nacional", os donos das têxteis Riopele, Somelos e Petratex queixaram-se de que não encontram engenheiros para contratar.
Cenário ‘negro’ à vista
"Temos 18 engenheiros e 36 licenciados noutras áreas, aos quais acrescem cinco outros em estágio profissional, três dos quais engenheiros, e estamos abertos a contratar mais engenheiros", revela Paulo Coelho Lima, administrador da têxtil Lameirinho, segunda maior exportadora de Guimarães.
O empresário assume que a Lameirinho, como muitas outras grandes têxteis, "tem um problema grave: há uns 15 anos, a média de idades dos nossos colaboradores rondava os 30 anos - hoje anda pelos 45, sendo que poucos são os engenheiros que estão abaixo dessa média. Não há engenheiros novos", lamenta.
Paulo Coelho Lima não usa tecidos quentes nesta problemática: "Temos um cenário completamente negro a médio e longo prazo. Dentro de uns 10 anos, o cenário pode ser muito, muito, muito, muito complicado", denuncia.
O pólo de Azurém (Guimarães) da Universidade do Minho (UMinho) vai formar uma média anual de apenas 15 engenheiros têxteis nos próximos anos, o que significa, "no máximo, metade do que seria necessário", reconhece António Cunha, reitor da UMinho.
A falta de engenheiros têxteis é um problema de insuficiência de vagas na universidade?
Não temos um problema de vagas, mas de candidatos. O que aconteceu foi que, durante muitos anos, lia-se nos jornais títulos de falências de indústrias têxteis e, portanto, todo o sector tinha uma imagem pouco atractiva. Ora, a inversão de ciclo que a indústria têxtil fez demora a chegar à opinião pública. O grande problema que aqui temos é que os engenheiros são precisos hoje, sendo que as pessoas que entrarem no curso em Setembro próximo só vão ser engenheiros daqui a cinco anos.
Quantos engenheiros da área têxtil irão sair este ano da UMinho?
Cerca de 20, mas trata-se de pessoas que já estavam na indústria, portanto, não se encaixam no perfil do estudante de 18, 19, 20 anos, que vem à procura de uma formação inicial, sendo que o que nós precisamos é de gente nova. Há cinco anos tínhamos zero candidatos. Este ano tivemos cerca de 15. Esta é a recuperação que queremos fazer.
Tem ideia do nível de procura de engenheiros têxteis por parte das empresas?
Os pedidos são intensos. No mínimo, temos uma relação de cerca de cinco [ofertas de emprego] para um [engenheiro em formação]. Se tivéssemos 50, 75 ou mesmo 100 engenheiros, provavelmente todos teriam lugar no mercado. Poderíamos formar 30 a 50 engenheiros por ano. Há procura para isso.
Do pólo de Azurém da UMinho deverão sair apenas uns 15 engenheiros têxteis por ano nos próximos anos, certo?
Sim, o que é nitidamente pouco. Estamos a falar de, no máximo, metade do que seria necessário.
O que é que a universidade tem feito para dar a volta a esta situação?
Estamos a ter contactos directos com os industriais do sector e com as autoridades locais, incluindo autarquias da região, no sentido de, todos juntos, transmitirmos uma imagem de robustez e atractividade do sector, levando os jovens a perceberem que este é um sector com futuro. Mas isto é um processo de médio prazo, no mínimo, porque é sobretudo nas escolas secundárias que este trabalho se faz.