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Na freguesia de Brito há sempre três bandeiras hasteadas: a "the stars and stripes" a recordar que desde 1997 os proprietários são os americanos da Amtrol; uma portuguesa para assinalar a equipa e gestão 100% nacionais; e outra, escolhida numa colecção de 120, para dar as boas-vindas aos estrangeiros de visita ao complexo de 25 mil metros quadrados e seis fábricas. A cada quatro segundos sai uma garrafa de gás das linhas de produção, o que faz desta metalomecânica a maior produtora europeia e a maior exportadora mundial do sector.
Com clientes numa centena de países e vendas regulares para 60, em 2015 a Amtrol-Alfa aumentou a facturação em 19%, para 86 milhões de euros. O GPL (propano e butano) é a utilização para 70% das garrafas, que vende a grandes empresas energéticas, como a Shell, Total, Cepsa, Galp, Repsol, Rubis ou Prio. O resto do negócio é direccionado para os gases técnicos e também os de alta pressão, que são usados, por exemplo, em hospitais, nas áreas industriais ou nas feiras para encher os balões de hélio.
A quota de exportação nunca sai do intervalo entre 93% e 97%. No último exercício surgiram Espanha, Inglaterra e França como melhores compradores europeus e Camarões, Angola e Kuwait na lista extra-comunitária. Mas a fatia que foi agora dos espanhóis, já foi noutros anos da Colômbia ou Polónia. "Quando as empresas decidem investir em garrafas de gás, compram muitas quantidades. Somos bons a agarrar essas oportunidades: surgem e temos de ser os primeiros a chegar lá", explica o administrador, Tiago Oliveira.
É o que vão fazer em 2017 na Rússia, "dos poucos países em que ainda não [estão]" e com tanto potencial como complexidade e barreiras à entrada de fornecedores estrangeiros. Sobre a internacionalização, o engenheiro mecânico, 48 anos, assegura que "olham várias vezes" para a hipótese, que "faria sentido" em África mas onde é "difícil fazer acontecer". Além disso, este produto é "difícil de descentralizar, pois os investimentos são grandes e o país tem de ter um mercado próprio suficientemente grande para absorver a produção pelo menos durante três anos".
Leve com peso
Para já, contam com os 600 trabalhadores dos quadros e 200 temporários que chamam quando há um pico de procura. O que ocupa seis centenas, há 15 anos ocupava 1.200 operários. A automação revolucionou esta indústria vizinha do rio Ave mas continua a "não [haver] margem para erro" na segurança. Além das certificações, há repetidas verificações de procedimentos. O trabalho é pesado e só começam a aparecer as mulheres quando se sobe na hierarquia.
É com discos de chapa de aço, cortados num armazém satélite e arrumados como gigantes moedas empilhadas, que arranca a produção em todas as linhas. Seja naquelas em que se sente o óleo debaixo dos sapatos e um calor sufoca; seja naquelas de materiais compósitos, que o gestor anuncia como "o século XXI" e em que os robôs dançam em movimentos repetidos com o "coração" das botijas.
Foi em 2003 que a inovação passou de incremental a radical. Os "cliques" foram o declínio das garrafas descartáveis – tinha motivado a compra pela Amtrol – e a busca por soluções leves que os clientes começavam a pedir. Em parceria com a Galp, criou então a Pluma, que em dois anos chegaria com estrondo ao mercado e até obrigou a construir uma fábrica de raiz.
As garrafas desenvolvidas a partir de 2005 valem hoje mais de metade das vendas e impediram que esta indústria vimaranense fosse "devorada por indianos e tailandeses". O anúncio publicitário em que uma jovem atraente carrega uma bilha com facilidade, trouxe notoriedade até a nível internacional, recorda o gestor, expressando, entre risos, um único lamento: "Infelizmente, a modelo nunca cá veio".