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Poucas são as indústrias portuguesas tão reconhecidas além-fronteiras como a Logoplaste. Esta empresa, sediada em Cascais, nasceu em 1976 pela mão de Marcel de Botton, que, para evitar riscos do passado, surgiu com um novo modelo de negócio: construir unidades fabris integradas nos complexos industriais dos clientes, tornando-os parceiros de negócio. Estava assim criado o "wall to wall", um modelo construído conforme as necessidades de cada um dos parceiros, com tecnologia adaptada caso a caso.
A inovação, inscrita no seu ADN, tem sido, ao longo destes anos, o pilar de sustentabilidade e de alavancagem dos negócios. Nem sempre o caminho foi realizado em perfeita linha reta, mas depois de afinada a estratégia, a internacionalização não podia ter corrido melhor para a empresa que já tem presença em 16 países com 63 fábricas, e fornece 39 clientes, entre eles os maiores grupos do mundo, como a Procter & Gamble (P&G). O volume de negócios do grupo, que emprega mais de 2.150 colaboradores, ultrapassou já os 500 milhões de euros.
O último grande investimento da marca nacional, que ascendeu a cerca de 170 milhões de euros, foi realizado na construção da maior fábrica de embalagens do mundo em West Virginia, nos Estados Unidos, criada em parceria com a Proter & Gamble, que entrou com mais 2 mil milhões de dólares. Esta unidade arrancou a laboração no final de 2018, embora não esteja ainda a funcionar a todo o gás. "Criámos com este parceiro um modelo inovador, em que instalamos junto à fábrica, e durante três anos, uma unidade exclusiva de inovação, projeto que está agora em fim de vida. Ali desenvolvemos, durante esse período, 84 embalagens que estão a entrar na fase de produção industrial", explica Paulo Correia. Este investimento vai potenciar o crescimento do volume de negócios do grupo Logoplaste em cerca de 150 milhões de euros, a curto prazo. Segundo Filipe de Botton, "chairman" da Logoplaste, a previsão é de que, em cinco anos, 60% da faturação de todo o grupo seja realizada nos Estados Unidos, atingindo este mercado um volume de receitas próximo dos 600 milhões de euros.
Além deste investimento, estão ainda a ser criadas seis novas unidades industriais, todas em fase de arranque industrial e situadas entre a América do Norte e a Europa.
Logoplaste Portugal, no top 10 das maiores exportadoras
A Logoplaste Portugal, uma das empresas do grupo, é uma das maiores exportadoras do concelho de Cascais. Com apenas 158 colaboradores, e um volume de negócios de 51,1 milhões de euros, as vendas para o exterior - essencialmente serviços - atingiram os 18 milhões euros.
Nas instalações de Aldeia de Juzo, onde se encontra a sede, está igualmente o centro nevrálgico de toda a inovação Logoplaste. É ali que está a Logoplaste Innovation Lab, área que ocupa 60 pessoas, distribuídas entre Portugal e Chicago, e que faz venda direta de projetos de desenvolvimento. "Nós fazemos aquilo que inicialmente parecia estranho: transparência tecnológica para concorrentes da Logoplaste", revela o CTO. Isto aconteceu porque havia necessidade deste tipo de serviços no mercado e a Innovation Lab veio colmatar um espaço que não estava ainda preenchido. "Abrimos a possibilidade de fazer desenvolvimento para os nossos parceiros, sem os obrigar a produzir industrialmente connosco. Porém, quando fazemos projetos destes, o nível de confiança com os nossos parceiros é elevado, e o cliente acaba por industrializar com quem o desenvolveu", explica Paulo Correia.
Perguntas a Filipe de Botton
"Chairman" da Logoplaste
"Mercado nacional não vai deixar de ser importante para nós"
Ganhar o contrato da Procter&Gamble, a maior empresa mundial de fast moving consumer goods, tornou a companhia nacional ainda mais reconhecida a nível mundial
Qual é a importância da abertura da maior fábrica de plásticos no mundo para o crescimento do grupo Logoplaste?
Primeiro há que referir a importância de ganhar este contrato de fornecimento, pois concorríamos com os três maiores grupos de embalagens do mundo. Ao sermos escolhidos pela Procter&Gamble, ficou demonstrado que a Logoplaste é a empresa de embalagens de plásticos rígidos mais inovadora do mundo, o que confirma a nossa posição de empresa de referência. Por outro lado, esta nova fábrica vai potenciar, com um único contrato, um crescimento de 20% no nosso volume de negócios a curto prazo.
E com isto o mercado nacional tende a perder cada vez mais importância…
O mercado nacional não vai deixar de ser importante para nós e vai manter o seu valor absoluto, agora o seu peso no negócio, atualmente nos 7%, vai começar a diluir-se com o crescimento em outras áreas geográficas.
Este crescimento só foi possível com a entrada do fundo Carlyle. Já há prazo de saída?
Como sabe os fundos de private equity ficam tipicamente 4 ou 5 anos nas empresas. Esta é uma parceria que está a correr muito bem, está a dar bons frutos. Calculo que dentro de dois ou três anos a Carlyle saia da Logoplaste.
Qual a importância estratégica do vosso Inovation Lab, situado na sede em Cascais?
Quando iniciámos a nossa internacionalização em 1992, éramos uma empresa pequena, sem grandes meios financeiros, e não conseguíamos concorrer com grandes grupos. Definimos que a nossa vantagem competitiva era a nossa massa cinzenta. Por isso pegamos nas pessoas e pusemo-las a olhas para os problemas e procurar resolvê-los de maneira diferente. Foi com esta capacidade de inovar, de ser diferente dos outros, que conseguimos ganhar contratos.
Como se estão a preparar para estes desafios ambientais futuros?
Acreditamos que a solução passa muito pelo sistema de depósito das embalagens e com isto aumentar a taxa de reciclagem para perto de 95%. Já fazemos muita coisa na redução do consumo, já criamos embalagens com menos 50% do plástico necessário há cinco anos e já usamos material 100% reciclado.