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Paulo Monteiro Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa
Compreender a diferença entre "stock" e fluxo é essencial para analisar corretamente os mercados financeiros e a economia. Enquanto o PIB anual representa um fluxo, ou seja, a riqueza gerada por um país ao longo de um ano, o "stock" traduz a acumulação dessa riqueza ao longo do tempo. Este "stock" resulta do somatório de múltiplos PIB anuais, descontadas as amortizações e depreciações, que refletem a deterioração dos bens ao longo dos anos. O "stock" inclui todo o património de um país, desde o imobiliário até às infraestruturas, como estradas, pontes, escolas e hospitais, bem como o capital humano e ativos intangíveis, como a reputação ou marca do país no contexto global.
No mundo empresarial, a distinção entre "stock" e fluxo é igualmente relevante. O fluxo refere-se à demonstração de resultados, que reflete os lucros ou as perdas de uma empresa num determinado período. Já o "stock" representa o balanço patrimonial líquido, ou seja, a diferença entre o ativo e o passivo.
Quando Warren Buffett compara índices acionistas, como o S&P 500, ao PIB nominal dos EUA, realiza uma análise que, embora interessante no longo prazo, implica uma comparação de um "stock" com um fluxo. O S&P 500 representa o valor em bolsa do património líquido das 500 maiores empresas americanas (incluindo a sua capacidade de gerar dinheiro, refletida nos seus ativos intangíveis), enquanto o PIB mede a riqueza produzida pelo país num único ano. Esta relação, que tem mostrado consistência ao longo de décadas, pode ser útil para identificar tendências, mas tecnicamente seria mais correto comparar o PIB com os resultados anuais das empresas do S&P 500, pois ambos representam fluxos. Alternativamente, o PIB poderia ser comparado à valorização anual do S&P 500, sendo este último também um fluxo.
Se o objetivo é avaliar adequadamente o "stock" representado pelo S&P 500, a comparação mais apropriada seria com o "stock" "riqueza líquida acumulada do setor privado" dos EUA. Este "stock", que inclui o valor do imobiliário, das ações, das obrigações e de outros ativos, é atualmente estimado em cerca de 153 biliões de dólares, equivalendo a seis vezes o PIB nominal dos EUA, de 28 biliões de dólares em 2023. Todavia, este "stock" financeiro não reflete toda a riqueza do país. Infraestruturas, parte do capital humano e outros ativos intangíveis, ficam fora desta análise. Para uma avaliação mais completa, seria necessário criar um "balanço nacional" que englobasse todos os ativos e passivos, incluindo os do Estado, resultando no património líquido total do país - o "stock" acumulado de riqueza gerada ao longo de muitos anos, correspondendo ao somatório de inúmeros PIB anuais.
Enquanto o PIB reflete a riqueza gerada num ano, o S&P 500 representa o património acumulado. Mas a identificação de tendências ou padrões de longo prazo, abrangendo várias décadas ou até séculos, como faz Warren Buffett, mesmo comparando fluxos com "stocks", ajuda a perceber se os mercados estão sobrevalorizados ou subvalorizados relativamente à sua média histórica.