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Warren “AI” Buffett

Artigo de Luís Oliveira, Departamento de Finanças da ISCTE-IUL Business School

Negócios 20 de Novembro de 2024 às 12:00
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Luís Oliveira, Departamento de Finanças da ISCTE-IUL Business School

Se estivesse, por exemplo, a tentar descrever e recriar as características essenciais de Warren Buffett (WB) como génio investidor, como o faria? Muito provavelmente, a resposta seria "ele é totalmente descrito pelo seu ADN, por isso, bastava obter o seu ADN e cloná-lo num laboratório", mas isso não parece ser possível com a tecnologia atual. Não precisamos de captar a sua aparência física, as suas fraquezas pessoais ou a sua humanidade inefável; estamos interessados em recriar apenas o investidor bem-sucedido. Por outras palavras, o que pretendemos é uma forma de reduzir a complexa humanidade do ser humano Warren Buffett a uma fórmula reproduzível que aprendesse a selecionar ações da forma como ele as escolhe/escolheria. Parece uma boa ideia.

Muita da investigação em finanças centra-se em responder à questão: como medir e descrever determinada abordagem de investimento? Em 2018 três autores, Andrea Frazzini, David Kabiller e Lasse Pedersen da AQR, publicaram um artigo intitulado "Buffett’s Alpha", que "decompõe o desempenho de Buffett nas componentes alavancagem, ações de empresas cotadas em bolsa e empresas detidas a 100%, e revela que a Berkshire Hathaway carrega significativamente nos fatores ‘beta against beta" (BAB) e "quality minus junk" (QMJ) e conclui que estes fatores explicam quase completamente o desempenho da carteira de investimentos de Buffett. Será que Warren Buffett pode ser reduzido a um modelo explicativo de vários fatores de investimento, mais um pequeno resíduo estatisticamente independente que, não sendo uma explicação completa do seu sucesso, possa mimificar na perfeição o seu historial de seleção de ações? Não seria bem Warren Buffett; seria um Warren "AI" Buffett.

Ao longo dos anos Buffett remeteu muitas cartas aos acionistas descrevendo a sua filosofia de investimento e as suas opiniões sobre determinadas ações. As cartas são populares e os aspirantes a investidores leem avidamente o receituário de Buffett para aprenderem a pensar e a investir como ele. As cartas, ao transmitirem uma ideia da sua mente, poderiam otimizar algumas competências sobre finanças e, bem assim, melhorar as decisões dos seus próprios investimentos. Isso daria muito trabalho, mas, com a tecnologia moderna, há um atalho:

Carregam-se todas as cartas e demais informações sobre a mente de Buffet no ChatGPT, por exemplo, para ensinar a máquina a pensar e, de seguida, o comando "recomenda-me uma ação ao estilo de Warren Buffett", experimentei e recomendou-me "ações de uma empresa fundamentalmente forte, como a Berkshire Hathaway" ou, alternativamente, "investir numa empresa como a Microsoft ou a Visa"; adiante, compramos a ação, esperamos a subida dos preços, porque Warren Buffett é génio a escolher ações, e o ChatGPT é ótimo a construir esse modelo a partir desses escritos de aprendizagem. Esta ideia parece interessante, mas, penso, seria uma loucura. A abordagem corrente à inteligência artificial em finanças traduz-se no "olhar" do computador para as ações que subiram e tentar detetar padrões, para descobrir o que as ações (que subiram) tinham em comum. Uma crítica que por vezes se faz à inteligência artificial em finanças é que o computador é uma caixa negra que escolhe ações por razões que os seus utilizadores humanos não conseguem compreender. O processo de raciocínio da máquina é opaco, razão pela qual não se pode ter a certeza de que se está a escolher ações por boas razões ou devido a correlações espúrias.

Reduzir Buffett a um conjunto de fatores parece de alguma forma não natural; o resíduo inexplicável é onde toda a magia acontece. Reduzir Buffett às suas palavras e modelar a sua mente com base nessas palavras, parece pouco natural e humano, mas talvez o computador possa captar isso. Não podia ficar mais radiante ao saber que a Intelligent Alpha, uma empresa de tecnologia financeira norte-americana, está a lançar um ETF alimentado por um chatbot que promete aproveitar o poder cerebral das mentes mais ilustres do mundo dos investimentos, incluindo, claro, a de Warren Buffett.

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