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Private banking em tempos de pandemia

As medidas de confinamento a que as economias europeias foram sujeitas entre março e junho de 2020 tiveram um impacto muito negativo no crescimento económico

Negócios 09 de Dezembro de 2020 às 13:00
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Luís Oliveira, Departamento de Finanças do ISCTE-IUL
Pedro Santos, True Magma AG

As medidas de confinamento a que as economias europeias foram sujeitas entre março e junho de 2020 tiveram um impacto muito negativo no crescimento económico e, bem assim, nas condições de vida em geral, resultando em quedas de PIB históricas, as quais originaram níveis de deterioração das condições económicas nunca previstas e originando substanciais perdas de rendimento que, nalguns casos, corresponderam a perdas totais, sobretudo nas classes sociais mais vulneráveis. Contudo, o impacto do agravamento da situação financeira de empresas e famílias, em particular em países fortemente endividados como Portugal, não é ainda totalmente visível, devido aos amplos programas de estímulo monetário, de supervisão e fiscal, regime de moratórias e garantias estatais que têm vindo a ser colocados em prática. A dimensão do problema será provavelmente maior, tanto em Portugal como no resto da União Europeia, especialmente no contexto de uma aceleração da crise sanitária, com a segunda vaga da pandemia a obrigar a novos confinamentos um pouco por toda a Europa.

Quando as medidas de apoio à economia terminarem, é muito provável que se assista ao fecho de uma parte das empresas que beneficiaram de medidas de emergência, conduzindo ao aumento do desemprego. Outra ameaça poderá passar pela redução dos preços do imobiliário, que até agora estiveram relativamente estáveis, devido ao aumento do desemprego e/ou a uma quebra na procura de escritórios e edifícios comerciais pós-pandemia. Estes fatores poderão vir a constituir riscos financeiros importantes.

Mas há que olhar também para as oportunidades trazidas por esta pandemia. O negócio de private banking, sendo um negócio recorrente e de estruturação de portefólios, acabou por proporcionar aos investidores com uma visão de médio/longo prazo, que não sobre-reagiram, uma apreciação extra das suas carteiras, beneficiando da valorização dos mercados obrigacionista e, mais recentemente, da valorização do mercado acionista a par de outros como a dos alternativos (commodities e metais) e das criptomoedas que têm vindo a evidenciar apreciações muito interessantes.

Este é o cenário 2020 que caracteriza a zona geográfico-monetária na qual os gestores de private banking se movimentam, marcado por ameaças, é certo, mas também por boas oportunidades: por um lado, objetivos de novos contactos e novos clientes foram impossíveis de concretizar; e as medidas para conter a pandemia aumentaram ainda mais a dependência e as vulnerabilidades dos sistemas de tecnologias de informação. Mas, por outro lado, com os avanços em torno das vacinas anticovid-19, o suporte e estímulo económico e financeiro por parte dos bancos centrais, ampliado pela vitória de Biden nos EUA, são fatores que, acreditamos, poderão contribuir para que o ano 2021 possa ser um ano positivo para os investidores, particularmente para aqueles com apetência pelo risco.

E parece que o mercado já antecipou o futuro, fazendo uma rotação dos investimentos em tecnologia na direção de setores marcadamente cíclicos tais como energia, banca e consumo, contribuindo para a valorização deste tipo de ações e confirmando que não há mal que sempre dure.







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