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A alavancagem é uma das principais ferramentas dos participantes no jogo da bolsa para serem bem-sucedidos. A utilização de crédito permite-lhes exponenciar os seus investimentos e serem um dos primeiros no último dia do jogo. Todavia, é preciso tentar perceber se o mercado é de alta ou de baixa de acordo com a fase do ciclo económico em que nos encontramos ou se determinado ativo tende a subir ou a descer. Para isso é importante ter uma noção do atual estágio em que se encontra a evolução económica. Os preços dos mais variados ativos financeiros ajudam-nos a monitorizar a evolução da economia e há alguns que são bastante pertinentes, como os preços das commodities, nomeadamente do petróleo (energia), do cobre (metais industriais) e do ouro (metais preciosos), bem como as taxas de juro do mercado monetário e dos rendimentos do Tesouro.
A configuração da curva de rendimentos oferece uma boa leitura da atual fase económica. Taxas de juro de curto prazo aos níveis das taxas de juro de longo prazo são caracterizadas por uma curva horizontal e espelham estagnação económica. Um declive negativo reflete recessão económica, definida pela elevada incerteza e, consequente, aumento significativo das taxas de juro no curto prazo. No entanto, uma curva de rendimentos crescente revela expansão económica refletida nas taxas de juro de curto prazo mais baixas, que evidenciam confiança e alimentam o crescimento económico, e nas taxas de longo prazo mais elevadas que realçam expectativas mais altas para a inflação impulsionadas pelas expectativas de um robusto crescimento económico. Atualmente, a procura cresce significativamente e a oferta tem dificuldades em acompanhar no curto prazo, mas as economias desenvolvidas têm potencial e capacidade instalada para alcançar no médio ou longo prazo um robusto crescimento económico. Haja potencial na economia e a oferta, as cadeias de abastecimento e a capacidade instalada no longo prazo ajustar-se-ão e aliviarão o nível de inflação.
A relação entre o cobre, um dos principais metais industriais, e o ouro, um dos principais metais preciosos, espelha a cada momento a intensidade da atividade económica e o nível de incerteza. À medida que a recuperação económica é uma realidade, a incerteza tende a dissipar-se e a subida da cotação do ouro abranda ou cai, enquanto a aceleração da atividade económica aumenta a necessidade de cobre e a cotação deste metal industrial sobe. Ou seja, um rácio entre o cobre e o ouro mais elevado reflete uma aceleração económica, mas uma descida do rácio espelha um abrandamento da atividade.
Desde janeiro de 2018 a março de 2020, o rácio caiu cerca de 45%, a espelhar um abrandamento económico mesmo antes do confinamento da primavera do ano passado ditado pela pandemia e que provocou uma recessão económica. Desde março do ano passado o rácio aumentou cerca de 90% e reflete a redução da incerteza e o aumento gradual da atividade económica.
A curva do petróleo é outro bom indicador da atual fase do ciclo económico. Cotações mais baixas nos prazos mais curtos relativamente aos prazos mais longos, fenómeno conhecido por contango, é caracterizado por uma curva com inclinação positiva e reflete uma recessão económica global. Preços no curto prazo consideravelmente mais baixos mostram a fragilidade da procura devido às incertezas e à forte desaceleração económica. Por exemplo, o fenómeno contango teve lugar em 2008, 2009 e em 2020, períodos de recessão económica. Atualmente, a curva do petróleo já reverteu novamente para o habitual backwardation, cotações no curto prazo mais elevadas que no longo, e reflete expansão económica. A crescente procura excede a oferta de petróleo e reflete a retoma económica. Porém, a OPEP+ ainda não repôs os cortes realizados no ano passado para suster a queda das cotações devido à forte contração da atividade económica ditada pela pandemia e consequente confinamento global.
A análise de preços pode ser complementada pelos dados macroeconómicos, mais especificamente por "leading indicators" que perspetivam a evolução futura da economia. Nos EUA, os pedidos de subsídio de desemprego semanais, os denominados Jobless Claims, refletem uma perspetiva adequada da evolução futura do mercado de trabalho, da robustez da economia e das pressões inflacionistas via custos salariais. Os "lagging indicators" referem-se muitas vezes aos dados coletados há dois ou três meses, caso das ofertas de emprego nos EUA (JOLT), mas não deixam também de ser relevantes para aferir a tendência histórica da interação entre a criação de postos de trabalho, ofertas de emprego e subsídios de desemprego. O Índice de Preços no Consumidor (IPC) nos EUA é um "leading indicator" da inflação norte-americana e é divulgado mais cedo do que o PCE, no entanto, este último é que é mais frequentemente utilizado pela Reserva Federal dos EUA na prossecução da sua política monetária.