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Jogo da Bolsa: Obrigações e opções, produtos estruturados e bitcoin

Artigo de Paulo Monteiro Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa

Negócios 07 de Novembro de 2023 às 13:30
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Os produtos estruturados são investimentos a prazo fixo que normalmente combinam uma obrigação com uma opção. A obrigação oferece proteção de capital, enquanto a opção fornece retornos com base no desempenho de um ativo subjacente ou de um conjunto de ativos. Habitualmente a obrigação é de cupão zero, sendo, assim, adquirida a desconto (por exemplo, comprada a 90% do seu valor nominal, ou seja, um desconto de 10%, sendo depois paga na maturidade a 100%). O valor restante (10% neste caso) é utilizado para adquirir uma opção sobre um determinado ativo subjacente ou opções sobre vários ativos subjacentes, dependendo da estratégia implícita no depósito estruturado, estratégia apenas limitada à imaginação e ao engenho da instituição emissora, por exemplo um banco. Estes produtos estruturados são interessantes para investidores avessos ao risco, que valorizam a preservação do seu capital, tendo ainda a possibilidade de usufruírem de um retorno. Para os investidores mais agressivos, que toleram melhor o risco e que procuram retornos mais elevados, os produtos estruturados podem apenas proteger parte do capital na maturidade, por exemplo 90%, ficando, assim, 20% (10% da obrigação a desconto, acrescido de 10% que o investidor abdica para obter um retorno mais alto) disponíveis para investir numa opção mais cara, por exemplo uma opção mais próxima de "in the money", aumentando a probabilidade quer do seu sucesso, quer do seu retorno. Ou seja, quanto maior for a proteção de capital, menor será o retorno e vice-versa. E a maior ou menor proteção depende do perfil de risco do investidor, do seu horizonte temporal e da criatividade do responsável pelo produto estruturado.

Também um investidor pode criar o seu próprio produto estruturado, comprando por exemplo uma obrigação do tesouro a desconto, tal como o título de dívida pública dos EUA com maturidade a 15 de outubro de 2024 (ISIN US91282-CDB46) e taxa de cupão de 0,625%, atualmente a cotar a 95,50%, utilizando os 4,50% da diferença até aos 100% (o reembolso no vencimento, a referida proteção do capital) para comprar uma opção ou outro instrumento financeiro e obter um retorno mais elevado, além de uma taxa de juro garantida de 0,625% (próximo desta taxa, porque o título vence a 15 de outubro e hoje são 2 de novembro). No dinheiro destinado à obtenção de um retorno pode-se utilizar qualquer instrumento financeiro, desde uma opção sobre o S&P 500 ou sobre o VIX ou o brent, até mesmo a compra de uma criptomoeda se se acreditar na sua valorização nos próximos 12 meses. Então, um investimento de 100.000 dólares neste "produto" teria garantidos capital e juro na maturidade, um montante total de 100.585 dólares (100.000*[1+(342/365)-*(0,00625)]), tendo atualmente um dos riscos mais baixos do mundo, o do governo dos EUA. Caso os 4.500 dólares referentes à componente retorno forem destinados à compra de bitcoin e esta criptomoeda valorizar 100% até outubro do próximo ano, o valor da carteira aumentaria em mais 9000 dólares, para 109.585 dólares. Um produto que pode ser recomendado a investidores avessos ao risco, pois garante o capital e ainda uma taxa de juro de 0,585%, podendo o retorno ser gerido ativamente, com compras e vendas ao longo do período, tentando maximizar o investimento. Os vencedores do "jogo da bolsa" patrocinado pelo Banco Carregosa e pelo Jornal de Negócios têm tido nos anos anteriores excelentes rentabilidades, quadruplicando muitas vezes o seu investimento em apenas um mês. Poderiam eles ter também mestria suficiente para gerirem os 4500 dólares? Mas tal como alguns quadruplicam o seu investimento, outros acabam o jogo com apenas 20% do investimento inicial, pois a estratégia dos participantes neste "jogo da bolsa" é do tudo ou nada.


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