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Jogo da Bolsa: Obrigações

Artigo de João Queiroz, "Head of Trading" do Banco Carregosa

Negócios 20 de Novembro de 2023 às 14:00
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Sendo um investidor de perfil acionista, nos últimos meses, não deixo de observar com maior atenção o mercado obrigacionista quando estaremos no mais longo prazo de tempo em que se registam correções: desde 1929 o tempo máximo de desvalorização eram dois anos consecutivos e este ano de 2023 arriscamos um marco histórico de três anos.

Existem boas razões e argumentos para tal situação, designadamente, possuirmos mais elevados montantes de dívida soberana, bancos centrais com balanços com enorme dimensão face aos respetivos PIB, a rápida subida dos juros que aumentou o peso do serviço da dívida dos próximos anos e dessa forma o "stock" de dívida, entre outros racionais. Contudo, observar empresas a remunerarem acima das aplicações a prazo dos bancos (com as empresas e Estados a possuírem sempre o risco de crédito), com taxas entre +5% a +10%, desperta a atenção.

Nos últimos dois meses, poucos bancos emitiram próximo ou acima de 10%, o que constitui uma remuneração extrema, sobretudo, para quem esteve mais de uma década sem juros ou até mesmo com negativa remuneração. Atualmente, a inflação, após 12 meses de subidas draconianas de juros, parece estar numa trajetória de queda aos 3%-2%, embora, infelizmente, ainda seja necessária uma estagnação ou recessão económica, com aumento do desemprego, para aquela forma de imposto estabilize nos 2%.

Perante aquela perspetiva que é o objetivo de muitos decisores de política monetária (bancos centrais) e económica (governos), conceder crédito a estruturas económicas com contabilidade organizada, contas certificadas, anúncios trimestrais de receitas e resultados, pode ser encorajador, tal como observar e comparar com as remunerações das dívidas soberanas, quando os bancos centrais terão que estar ausentes das colocações dos Estados ou mesmo a alienar ativamente no mercado (palavrão é "quantitative tightening").

A secular estratégia de 60%/40% na distribuição entre ações e obrigações não foi virtuosa em 2021, 2022 e este ano também não deverá escapar, mas numa perspetiva de maior prazo, essencialmente, em carteiras de poupança de risco equilibrado e adequadamente diversificadas, podem voltar a constituir alocações com virtude.

Não será de estranhar que nos inquéritos que periodicamente se efetuam aos clientes sobre a questão "quais as classes de ativos que doravante considera relevantes", vão obtendo de forma mais frequente e como primeiras respostas as "obrigações", quando habitualmente eram as "ações". Para tal, também cooperam para aquela resposta: 1. os maiores desempenhos nas cotações (ou juro implícito), que se vão obtendo nas obrigações corporativas com maior risco designadas "high yields" ou mesmo as "junk" do que nas soberanas (tradicionalmente com menor risco); e 2. a possibilidade de podermos ter terminado o ciclo de subidas de juros pela maioria dos bancos centrais.

A procura por fundos de investimento e cotados em bolsas, ou ETF, vai aumentando com os investidores a observarem as ofertas de sociedades gestoras, com informação abundante e de qualidade. Nestes, o investidor remunera um conjunto de profissionais para tomar as decisões de investimento como podendo focar-se mais em temas, significando menor consumo de tempo.

Nenhum investimento está destituído de risco, mas uma inteligente alocação em que exista diversificação pode colocar o capital a trabalhar melhor e auxiliar a melhoria do bem-estar.



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