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Jogo da Bolsa: O valor das boas acções

Artigo de Luís Oliveira, ISCTE-IUL - Departamento de Finanças

Negócios 15 de Novembro de 2023 às 14:00
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Nas opções de investimento com risco, as ações são um ativo bastante popular entre os investidores. A diversidade de opções disponíveis, o potencial de rentabilidade e o facto de serem facilmente entendíveis pela maioria dos investidores, fazem delas um ativo bastante atractivo. Porém, associado a essa diversidade, existe o risco de se gerarem dúvidas no momento da escolha da estratégia a seguir. Com efeito, poucos são aqueles que montam uma estratégia de investimento consciente e deliberada, limitando-se muitas vezes a "atirar" para nomes sonantes que, só por si, possam ser garante de ganhos certos. Todavia, investir na bolsa está longe de ser uma ciência exata, não havendo, por isso, uma receita vencedora que se adeque a todos. Estimar o valor intrínseco de uma acção de uma dada empresa passa por duas etapas: determinar a taxa de juro apropriada para calcular o valor actualizado do fluxo de dividendos esperado; e estimar o fluxo de dividendos que se espera que a acção venha a pagar no futuro.

A taxa de juro apropriada para a actualização dos dividendos futuros está relacionada com o risco desse investimento e o risco global no mercado de capitais, geralmente aferido por um índice de referência desse mercado.

As estratégias de investimento focadas nos dividendos esperados centram a sua análise na capacidade da empresa em gerar lucros futuros e, assim, poder distribuir dividendos ao longo do tempo. Neste tipo de estratégias, indicadores como o "dividend yield", rácios de "payout", e taxas de crescimento, são analisados e comparados com indicadores de outras empresas similares dentro do mesmo sector de actividade. Obviamente e independentemente do horizonte temporal do investimento, estas estratégias pressupõem que todas as empresas do portefólio paguem dividendos, pois é este um dos fatores fundamentais para a definição do respetivo preço. Se a acção for detida por um período curto, a decisão será suportada pela consideração de indicadores comparáveis; numa perspetiva de médio ou longo prazo, a rendibilidade depende em grande parte da análise do comportamento dos dividendos futuros.

Alguns investidores baseiam as suas estratégias de compra ou de venda de acções em estratégias focadas na identificação de oportunidades de negócio por meio da análise de tendências com foco em padrões. Os investidores usam a chamada análise técnica para identificar empresas que se revelem com tendência de subida (subavaliadas) ou de descida (sobreavaliadas) dos respectivos preços. A informação histórica é a base para perceber como é que a empresa poderá evoluir e, bem assim, o valor intrínseco da cotação da acção. Estas estimativas são o ponto mais sensível desta abordagem às quais acrescem ainda as variáveis de contexto, determinantes em momentos como o actual em que se vive uma conjuntura de grande volatilidade decorrente da elevada incerteza geopolítica. Em tempos ouvi alguém comparar estas estratégias metaforicamente à condução de um automóvel com base apenas no conhecimento do trajecto já percorrido.

Em síntese, o investimento em ações não é uma ciência exacta. Num portefólio de ações, dificilmente todas serão boas escolhas proporcionando sempre os retornos estimados no momento do investimento. Há risco subjacente ao potencial desses desvios. Certo é que, qualquer estratégia deverá pressupor previamente um conhecimento sólido sobre a empresa em que se pretende investir, assim como o seu posicionamento no contexto sectorial. Se seguirmos uma metodologia racional e fundamentada, a probabilidade de efetuar boas escolhas é superior.

Nem sempre uma ação que parece barata está, de facto, barata e uma coisa é (sempre) garantida: ao contrário dos casamentos tradicionais, no casamento de uma ordem de bolsa entre comprador e vendedor para a negociação de qualquer activo, apenas um realizará um bom negócio.

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico


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