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Jogo da Bolsa: O S&P 500 diversificação e concentração de um portefólio

Artigo de Paulo Monteiro Rosa, Economista Sénior do Banco Carregosa

Negócios 21 de Novembro de 2023 às 14:00
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O desempenho de um dos principais índices acionistas globais, o norte-americano S&P 500, confunde-se cada vez mais com o comportamento de sete das suas oito maiores capitalizações bolsistas, a Apple, a Microsoft, a Amazon, a Nvidia, a Alphabet, a Meta e a Tesla, as denominadas "big 7". Tanto se confunde que o ‘beta’ (β) das "big7" anda perto de 1, sendo o β da Apple de 1,22, da Microsoft de 0,95, da Amazon 1,24, da Nvidia 1,73, da Alphabet 1,05, da Tesla 2,17, e da Meta 1,21. O S&P 493, sem as "big 7", ganha apenas cerca de 2% desde o início do ano, enquanto o S&P 500 ganha 17%.

São quase 300 empresas do S&P 500 que perdem desde o início do ano. As ‘big 7’ pesam 29% do índice S&P 500, enquanto 484 empresas pesam menos de 1% e 465 menos de 0,50%. E 300 empresas do S&P 500 pesam menos de 0,1%.

Investir hoje no S&P 500 implica cada vez mais uma aposta concentrada num pequeno grupo de ações. É certo que um período prolongado de baixas taxas de juro, nomeadamente os últimos 15 anos, desde a Grande Recessão, tenha proporcionado um mercado concentrado em ações que beneficiam principalmente de juros baixos, extremamente sensíveis às taxas de juro, tendo elevada duration como as obrigações soberanas de uma economia avançada. Sendo assim, o topo do mercado de ações dos EUA, liderado pelas "big 7", é cada vez mais negociado como um proxy de obrigações, tendo, por isso, consequências abrangentes na construção de carteiras. As carteiras 60/40, deram lugar às 70/30 ou 80/20 devido à subida da taxa de juro sem risco (Rf), mas as ‘bond proxies’ ("big7") podem criar ruído quando a Rf voltar a descer.

Apesar de o S&P 500 ser um mercado amplo e reconhecido como um dos mais diversificados, a maior parte dos retornos são em grande parte atribuíveis a apenas meia dúzia de empresas, todas elas do mesmo setor, o tecnológico, representando uma crescente vulnerabilidade. O ano de 2022 corroborou essa mesma fragilidade do S&P 500, tendo desvalorizado consideravelmente devido às significativas perdas das "big tech". Um dos argumentos avançado como positivo para as grandes tecnológicas, sobretudo as "big 7", é o seu suporte a muitas startups, mas este argumento serve para os dois lados. Não estarão as "big 7" a suportar perdas consideráveis com as startups, que serão mais visíveis diante de uma eventual recessão? As "big 7", podem ser reconhecidas como ‘bond proxies’, mas não têm o poder de lançar impostos…

Um mercado estreitamente liderado é muitas vezes considerado menos sustentável do que um mercado mais abrangente. Um mercado mais generalizado com muitas empresas de todas as dimensões e setores robustos, indica uma economia mais resiliente a situações adversas. A atual situação revela que é apenas quase um setor que prospera, enquanto os outros estão estagnados.

Sendo assim, os elevados rendimentos das obrigações do tesouro e a significativa concentração do índice S&P 500, representam fundados receios quanto ao futuro, sendo uma real ameaça ao comportamento dos mercados nos próximos trimestres. Esta concentração é a mais elevada desde o início da década de 1970, superando a também elevada concentração do S&P 500 no auge das dotcoms no final da década de 1990, seguindo-se a implosão deste setor em 2000, culminando num dos mais longos "bear markets"da História dos mercados financeiros.



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