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Jogo da Bolsa: Investindo ao contrário

Artigo de Marco António Oliveira, Administrador do Caldeirão de Bolsa

Negócios 18 de Novembro de 2022 às 14:00
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Para lá da competição e dos prémios associados, o Jogo da Bolsa é boa uma oportunidade para os participantes experimentarem, sem risco, com diferentes ferramentas, estratégias e abordagens. Entre elas, especialmente para os mais novos e menos experimentados com estas andanças dos mercados, estará o "short selling", ou venda curta em português. Esta venda curta permite aos investidores auferir ganhos com os movimentos descendentes dos ativos, invertendo a lógica do investimento. O princípio de funcionamento passa por uma forma de crédito ou empréstimo, conforme o instrumento. Ou seja, quando a venda é realizada o investidor está "em falta" sendo que quando fechar a posição, estará a recomprar o que vendeu antes. Desta forma, ganhará se recomprar mais barato o que tinha vendido antes. Não sendo exclusivo deste produto, os CFD serão provavelmente a ferramenta mais simples e acessível para experimentar com esta mecânica durante o Jogo da Bolsa, onde tudo o que precisarão de fazer na plataforma é começar por vender CFD de um ativo onde não existe qualquer posição em aberto.

Convém assinalar, antes de mais, que as posições curtas são inerentemente mais arriscadas. Isto porque na verdade os investidores estão expostos a perdas potencialmente maiores do que aquelas que podem ocorrer com as tradicionais posições longas, em particular se a posição se arrastar no tempo num mercado desfavorável. Afinal, o máximo que uma ação pode desvalorizar é de 100%. Este limite rígido não existe, no entanto, para as subidas. O ativo pode subir sempre mais e mais. Como resultado, a recompra pode eventualmente acontecer a 200 ou 300% acima da abertura da posição, resultando em perdas que ultrapassam o investimento inicial. É este aspeto que está por detrás dos momentos agitados nos mercados que são conhecidos como "short covering rallies", fortes e rápidos movimentos de subida que resultam da forte pressão sobre os "curtos" (i.e., aqueles que detêm posições curtas em aberto) para que estes fechem as suas posições. Para essa pressão, contribuem os "margin calls" já aqui discutidos na semana passada, nesta rubrica.

Do lado das vantagens, é óbvio que a prática do "short selling" abre todo um novo campo de oportunidades de investimentos. Em lugar do investidor procurar estritamente ativos com potencial de valorização para neles investir, passa a poder tirar também proveito direto dos ativos que entender que estão sobrevalorizados, isto é, onde espera que o mercado venha a corrigir. Ora, se o mercado se encontrar em "bear market", será provavelmente a generalidade dos títulos. Mais do que isso até, as vendas curtas poderão inclusivamente contribuir para que o investidor passe a ver o mercado de uma forma completamente diferente. Isto porque quando os investidores estão limitados às convencionais posições longas, tendem a sofrer de um certo enviesamento "bullish". Isto é o mesmo que dizer que tendem a ser demasiado otimistas: uma vez que só podem ganhar com as subidas, tenderão a ver com uma facilidade maior um potencial de valorização onde ele não existe. Não é seguro que passem a ver melhor o mercado (afinal, se acabarem por se resumirem a negociar posições curtas, podem perfeitamente incorrer no risco oposto) mas pelo menos passam a ter a priori uma visão mais ambivalente do potencial dos ativos.

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