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Jogo da Bolsa: Investimentos Halloween

Artigo de Luís Oliveira ISCTE-IUL - Departamento de Finanças

Negócios 16 de Novembro de 2022 às 14:00
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Em 2002 Sven Bouman, CEO na Saemor Capital e Ben Jacobsen da Universidade de Tilburg, Holanda, publicaram um artigo no qual concluíram que uma estratégia de investimento no mercado baseada nos meses de calendário pode resultar em ganhos significativos para os investidores, estratégia que ficou conhecida pela estratégia, ou efeito, Halloween. Estranho? De facto! Uma estratégia de Halloween é uma técnica de investimento em que um investidor vende ações antes de 1 de maio e se abstém de reinvestir na bolsa de valores até 31 de outubro, a fim de aumentar as mais-valias. A estratégia baseia-se na premissa de que a maioria das mais-valias são realizadas entre 31 de outubro (Halloween) e 1 de maio, e que os outros seis meses do ano devem ser alocados investimentos noutros tipos de ativos ou mesmo não investir de todo. A estratégia de Halloween está intimamente relacionada com um velho ditado inglês "Sell in may and and walk away", referindo-se aos seis meses entre início de maio e final de outubro. Esta estratégia baseia-se fortemente no conceito de sazonalidade e assenta na ideia de que as ações têm um melhor desempenho nos meses de inverno do que nos meses de verão, convidando a uma saída do mercado quando as cotações tendem a cair e voltar a entrar no início do Outono, período em que as cotações iniciam o seu movimento de subida.

Utilizando dados de 37 mercados, desenvolvidos e emergentes, entre janeiro de 1970 e agosto de 1998, Bouman e Jacobsen descobriram que em para 36 as rendibilidades médias para o período novembro-abril eram mais elevadas do que para o período maio-outubro, sendo o efeito particularmente forte e altamente significativos nos países europeus. Além disso, as rendibilidades durante o período de maio-outubro são estatisticamente iguais a zero e, frequentemente, apresentam valores negativos. Além disso, os autores mostraram que o efeito não pode ser explicado por fatores como o efeito de janeiro, a prospeção de dados, alterações nas taxas de juro ou chegada de novas notícias. Após a publicação do trabalho de Bouman e Jacobsen em 2002, gerou-se no mundo financeiro um aceso debate a respeito dos resultados obtidos. Vários artigos foram publicados uns, confirmando os resultados alcançados por Bouman e Jacobsen, outros, rejeitando-os.

Esta anomalia de mercado passou a constituir um puzzle ainda não total e convincentemente explicado. De facto, e a acreditar na hipótese de que os mercados são eficientes, esta anomalia de calendário deveria ter desaparecido após a respetiva publicação do estudo de Bouman e Jacobsen à medida que os investidores a fossem explorando. Não desapareceu! Mais recentemente, 2018, três investigadores do ISCTE testaram a existência do efeito Halloween em 145 fundos de ações europeus no período 1997 a 2013 e concluíram pela significância económica e estatística desta estratégia bem como pela persistência deste efeito, que bateu claramente a clássica estratégia de buy-and-hold. Mais, o efeito de Halloween apresentou-se economicamente significativo em 139 dos 145 fundos da amostra.

É comummente aceite que o comportamento da população em geral é influenciado por emocionalidades e esta anomalia, presumivelmente, confirma-o. Isto não deve ser uma surpresa, afinal de contas os investidores também são humanos. Está na hora de vestir o seu fato de "investidor Halloween"! Tricks or Treats?

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