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Jogo da Bolsa: Finanças Artificialmente Inteligentes

Artigo de Luís Oliveira ISCTE-IUL - Departamento de Finanças e de Hugo Dias Aluno MSc em Estatística e Gestão de Informação, Nova-IMS

Negócios 29 de Novembro de 2023 às 14:00
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Todos estamos habituados à existência de bancos tradicionais, mas, com o tempo, a crescente importância das inovações e a ampla utilização de tecnologias mudaram o negócio bancário em todo o mundo. As tecnologias financeiras (fintech) tornaram-se parte integrante do setor financeiro em geral e do setor bancário em particular, este enfrentando uma concorrência crescente de instituições não financeiras. As fintech têm o potencial de desenvolvimento de novos modelos de negócio, aplicações, processos e produtos. De facto, após a crise de 2007-2008, o comportamento dos consumidores, a regulamentação e as tecnologias foram submetidos a profundas mudanças que redefiniram o ambiente financeiro quebrando as barreiras à entrada de novos concorrentes nesta muito competitiva arena. Os fatores críticos do sucesso assentaram na inovação e na criatividade para remodelar os produtos financeiros, os pagamentos, os modelos de negócio, os intervenientes no mercado e a respetiva estrutura e até o próprio dinheiro. Assim, as fintech têm vindo a conquistar boa parte do negócio das instituições financeiras tradicionais e as crises desempenharam um papel determinante (com efeito, todos nos lembramos como a pandemia veio acelerar esta tendência), pois têm sido capazes de se adaptar e dar respostas rápidas às novas realidades impostas durante as negativas conjunturas globais, fornecendo soluções que vão ao encontro das necessidades, em constante mudança, dos consumidores.

No entanto, a decisão de investimento em inteligência artificial, suporte do funcionamento das FinTech, não é fácil nem imediato. A exposição de uma empresa na área das tecnologias de ponta, não obstante poder estar bem posicionada para aproveitar oportunidades de negócio, tenderá a desenvolver parcerias na cadeia de valor que permitam expandir as oportunidades de negócio e os resultados, mas o aumento da competitividade poderá esmagar margens e as receitas poderão não ser tão grandes como o mercado espera. O recente aumento na cotação da Microsoft poderá estar associado a um excesso de entusiasmo em torno da inteligência artificial gerador de um ciclo de expectativas, típico no negócio das tecnologias, em que a overreaction se instala e, meteoricamente, uma inovação atinge um excessivo entusiasmo, para logo passar a desilusão quando se compreende a sua real relevância. Já assistimos a este filme, "déjà vu" de "dot.com bubble".

As principais áreas em que as empresas fintech têm sido capazes de capitalizar simpatias são a dos pagamentos digitais instantâneos e sem contacto, software de pagamento móvel, carteiras digitais e pagamentos por código QR. Focalizando-nos em tópicos mais associados a este extraordinário Jogo da Bolsa-Negócios, como por exemplo a gestão e consultoria digital de portfolios de activos financeiros, o estado da arte está já muito adiantado.

Os robôs-consultores permitem que os clientes construam e mantenham carteiras de investimento que se destinam a ser adequadas ao seu perfil de risco e objetivos financeiros de forma fácil, rápida e barata, recorrendo a fundos indexados e a estratégias de investimento passivas, que também têm vindo a ganhar popularidade na última década.

O surgimento e o crescimento dos serviços de consultoria robótica também beneficiaram de uma conjuntura de rápido crescimento nos mercados financeiros o que, juntamente com um ambiente de baixas taxas de juro nas economias desenvolvidas, aumentou o interesse dos cidadãos médios pelos mercados financeiros, por oposição a alternativas mais tradicionais e conservadoras, como os depósitos bancários que já ‘tardam’ a render juros. Após mais de uma década desde o lançamento do primeiro consultor financeiro automatizado, o mercado da consultoria robótica continua numa fase de desenvolvimento. Esta revolução das fintech, que começou por ser liderada por start-ups emergentes, tem vindo a assistir progressivamente à entrada dos pesos pesados no mercado europeu.

Por fim, existem riscos decorrentes da rápida evolução das tecnologias financeiras, mas esse tema, por falta de carateres, terá de ficar para outro artigo.



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