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Jogo da Bolsa: Exuberâncias

Artigo de Luís Oliveira Departamento de finanças ISCTE Business School

Negócios 24 de Novembro de 2021 às 11:00
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Há duas crónicas escrevemos que "a pandemia parece ter criado uma nova tendência de investimento baseada em expectativas de ganhos não fundamentados" já que, ao que tudo indica, fatores como solidez e robustez dos negócios ou estabilidade no que respeita a expetativas de lucros futuros, são deixados para quarto ou quinto plano na hora da tomada de decisão de investimento. Em tempos vividos nos quais se observou uma situação similar nos mercados, substantivou-se essa situação com a ‘febre’ daquilo que se veio a identificar como a bolha das ‘.com’. Alguém que privilegia o investimento fundamental, referiu-se a este fenómeno como sendo um fenómeno decorrente dos efeitos provocados pela economia do fumo. Nada parece ser suficiente para arrefecer um dos maiores bull markets de sempre.

No âmbito dos mercados financeiros, exuberância irracional caracteriza-se pelo, muitas vezes infundado, entusiasmo dos investidores que conduz a níveis de preços dos ativos mais elevados do que os fundamentos desses ativos justificam. O termo foi popularizado pelo antigo presidente da FED, Alan Greenspan, num discurso de 1996, " The Challenge of Central Banking in a Democratic Society". O discurso foi proferido antes do início da bolha especulativa ‘.com’ cujo enquadramento era o de um generalizado otimismo económico indevido e muito exuberante, no qual os investidores atribuíam uma elevada correlação entre o aumento dos preços passados e futuros, agindo como se não houvesse incerteza no mercado e causando um ciclo de retornos positivos baseado em preços cada vez mais elevados.

"Irrational Exuberance" é também o título de um livro, cuja primeira edição data do ano 2000, da autoria do Prof. Robert Shiller, Princeton University Press. O livro analisa o ‘boom’ mais longo do mercado de ações que durou desde 1982 até aos anos ‘.com’. O autor identifica 12 fatores (estruturais, culturais e psicológicos) que, segundo Shiller, poderão ter estado na origem deste ‘boom’ e sugere reformas importantes ao nível político económico para melhor gerir fenómenos como o da exuberância irracional.

Com efeito, durante o período da grande exuberância, 1982-1999, os mercados viveram uma época extraordinária de crescimento dos níveis gerais de cotações, com fricções, é certo, relembre-se, por exemplo, a segunda-feira negra em 19 de outubro de 1987, marcada pela queda de 22.61% do índice Dow Jones. A realidade é que a bolsa de valores é, por vezes, extremamente irracional; a verdade é a de que estes períodos de ação irracional nos mercados, que alguns identificam como a sua verdadeira natureza, tendem a ocorrer regularmente e acabam sempre por conduzir a bolhas especulativas. Quando a bolha acaba por rebentar, os investidores rapidamente se voltam em pânico para a venda dos ativos, frequentemente, por menos do que valem com base nos fundamentos.

Os investidores individuais costumam ser os mais duramente atingidos. Mesmo aos mais irritantemente confiantes de que a corrida do touro vai durar para sempre, é bom lembrar que a exposição à corrida do touro é uma forma segura de poderem ser ‘chifrados’ e ficar em posição de urso.


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