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Jogo da Bolsa: Da simulação para o mundo real

Artigo de Marco António Oliveira, Administrador do Caldeirão de Bolsa

Negócios 25 de Novembro de 2022 às 14:00
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Uma simulação, como a proporcionada pelo Jogo da Bolsa, constitui um excelente ponto de entrada no mundo dos mercados financeiros, ao permitir um primeiro contacto com a diversidade de instrumentos e a dinâmica do trading sem ter de colocar imediatamente capital em risco. A negociação em ambiente real reserva, porém, algumas surpresas que só serão devidamente apreciadas quando se colocar o dinheiro em risco. De resto, como complemento ao paper trading - uma terminologia que vem ainda da altura em que as simulações eram realizadas à mão, com simples papel e caneta - sugeria também a consulta prévia a alguma da muita literatura que existe acerca do comportamento e psicologia do investidor, entre outros temas de interesse. Uma leitura que ajudará a perceber a enorme parafernália de asneiras típicas em que tão frequentemente se acaba a incorrer, impossíveis de cobrir aqui de forma exaustiva. Mas tendo em mente aqueles que ponderam saltar pela primeira vez da simulação para o real, aludo aqui a três aspetos gerais especialmente relevantes nesse contexto, derivando não só da minha própria experiência pessoal, como de anos de acompanhamento e moderação no fórum do Caldeirão de Bolsa: o planeamento do trade, a gestão de risco e do capital (vulgo money management) e o envolvimento emocional.

O primeiro, também o mais imediato de todos, começa antes mesmo de se pressionar o gatilho: não basta assumir que tudo correrá bem, num qualquer exercício de excesso de otimismo, sobrestimando as nossas próprias aptidões. Seguro que haverão trades que não correrão favoravelmente, sendo bem mais difícil agir judiciosamente, a posteriori, de cada vez que se tomou uma má decisão.

A ideia essencial será a de ter de antemão uma noção precisa de que tipo de sinais, quais as condições que deverão determinar a saída da posição de cada vez que o mercado decide seguir um rumo diferente do antecipado (para a falta de autodisciplina, a solução poderá passar pelo recurso a ordens do tipo stop). O segundo aspeto, o money management, tenderá a revelar-se determinante no longo prazo. No limite, bastará um trade para arruinar uma carteira e condicionar tudo. Pontos a considerar incluem: em que ativos e instrumentos aplicar o capital, volatilidade, quanto alocar a cada posição, drawdown máximo, etc. Estes dois primeiros aspetos, mais pragmáticos, estão de alguma forma encapsulados numa das máximas tão repetida nos mercados, a de deixar correr os ganhos e cortar as perdas. Dito assim, parece fácil.

O que a máxima tenta prevenir é sobre a tentação de acumular sucessivamente pequenos ganhos, tomados como seguros, que serão depois rapidamente delapidados em trades perdedores avultados. O que pode inclusivamente ser exacerbado pela prática de tentar baixar o preço médio, resultando em perdas ainda mais massivas. O terceiro aspeto, tão pessoal e subjetivo, será porventura aquele que é mais difícil de gerir: os investidores tendem a envolver-se emocionalmente com as escolhas realizadas tendo como reflexo, corolários como procurar justificar as perdas com causas externas (e.g., a culpa é dos "curtos") ou ficarem de tal forma absorvidos com determinados ativos (e.g., tentando remediar perdas passadas) e, no processo, ao perder a perspetiva global dos mercados, passar ao lado de oportunidades bem mais interessantes. Convém, portanto, ir questionando porque se estão a tomar as decisões que se tomam: se se trata de uma luta contra o próprio ego ou se decisões tomadas de forma desapaixonada, com base em critérios objetivos.

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