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Jogo da Bolsa: Compreender a indústria de gestão de activos nem sempre é fácil, pelo contrário

As opiniões de Luís Oliveira Professor Auxiliar no Departamento de Finanças ISCTE-IUL, e de Pedro Santos CIO True Magma AG

Negócios 21 de Novembro de 2018 às 13:30
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Os manuais de Finanças costumam disponibilizar aquelas caixas em que, directamente da manager desk, nos confrontamos com as técnicas e o saber de anos de experiência dos gestores profissionais de activos. Falo daqueles que, com o seu estilo, as suas técnicas e sensibilidades, vivências, ética e valores quase sacrílegos, desempenham um fundamental papel no funcionamento dos mercados financeiros. Junto de um desses profissionais tentámos saber como se diferenciam as suas metodologias de gestão de activos face à concorrência e que impactos a maior carga legislativa sobre a indústria financeira poderá ter na actividade destes profissionais.

Estando o serviço de gestão de patrimónios direccionado para clientes que necessitam de aconselhamento e apoio na aplicação das suas poupanças, no complexo mundo de hoje, a informação é a principal ferramenta para obter uma melhor e mais sensata adaptação à realidade. Primeiro que tudo, um gestor de activos procura entender os objectivos do investidor (3-5 anos), esboçando-lhe o perfil para melhor o ajudar a aplicar a sua poupança nos mercados financeiros. Por outras palavras, o gestor apresenta-se perante os clientes com o compromisso de analisar e propor-lhe decisões de investimento, perfilando o seu grau de risco e ajudando-os na construção de uma carteira diversificada por diferentes classes de activos financeiros e imobiliários tentando demarcar-se da concorrência, através da criação de soluções inovadoras, tendentes a gerar crescimento de capital e acrescentar valor à relação. O acompanhamento permanente e a comunicação regular com o cliente são fundamentais para a coordenação das estratégias de investimento, assegurando uma parceria de confiança, duradoura e rentável para as duas partes.

Quanto às directivas e demais regulamentação, o MiFID II é, seguramente, uma das normativas que assumiu maior relevância no dia-a-dia destes profissionais. A crise do subprime em 2007, originada pela proliferação maciça de diversos produtos financeiros (tóxicos) indexados ao mercado imobiliário norte-americano, conduziu muitas instituições financeiras à falência. A estabilidade financeira foi severamente afectada e os investidores viram os seus níveis de protecção abalados de forma drástica. Estes acontecimentos vieram demonstrar que a regulamentação existente para a distribuição de produtos financeiros era manifestamente insuficiente e desactualizada. Com efeito, o MiFID II veio, assim, impor um conjunto de regras que visam aumentar a protecção do investidor e a transparência, nomeadamente, no que se refere ao risco dos produtos financeiros e às comissões cobradas no âmbito da gestão de carteiras, bem como dos instrumentos financeiros recomendados e comercializados. No que respeita aos produtos financeiros, o papel dos gestores de activos é obviamente crucial no sentido de tornar perceptíveis ao investidor comum os riscos inerentes aos diferentes produtos de investimento, oferecendo-lhe portefólios adaptados ao seu perfil de risco, exigindo-se, ao abrigo do MiFID II, que se comunique ao cliente quais os instrumentos financeiros e as estratégias de investimento a adoptar.

A ideia de que a indústria de gestão de activos enfrenta grandes desafios e dificuldades que a têm vindo a transformar é unânime entre os gestores profissionais. O desenvolvimento da tecnologia, a viragem para a gestão passiva, a redução das margens, a maior pressão regulatória (custos de compliance começam a ser proibitivos), são factores condicionantes que, embora constituindo ameaças, terão obrigatoriamente de transformar-se em boas oportunidades, com vantagens para todos os intervenientes.


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