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Jogo da Bolsa: Resultados eleitorais ou o que revela a curva de rendimentos?

A opinião de Luís Oliveira, Professor de Finanças da ISCTE-IUL Business School

Negócios 14 de Novembro de 2018 às 10:17
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O resultado das eleições nos Estados Unidos traduziu-se num ligeiro reforço republicano no Senado e na subida dos democratas na Câmara de Representantes, o que poderá não ter grandes impactos a nível político ao contrário do que se poderá esperar nos mercados financeiros, em que a incerteza sobre as políticas económicas e o endurecimento das posições sobre o comércio internacional poderão contribuir para um abrandamento do crescimento, redução das "yields" da dívida pública, pressão inflacionista e desvalorização cambial.

Neste cenário, também a curva de rendimentos costuma ser considerada como um bom indicador de aproximação de tempos difíceis para a economia por ser um claro indicador que poderá antecipar um endurecimento das condições de concessão de crédito. De facto, a inversão da curva de rendimentos pode indiciar o prelúdio de uma recessão num determinado país ou zona monetária, trazendo ansiedade e alguma angústia aos investidores deixando-os intranquilos e, por essa razão, menos racionais.

Independentemente das expectativas sobre o desenlace das eleições intercalares nos EUA, a curva de rendimentos real do mercado norte-americano tem vindo a apresentar sinais muito claros de horizontalização, isto é, os prémios de liquidez devidos aos prazos mais longos face aos prazos mais curtos tendem a esbater-se, actualmente em 17 b.p., mais 3 b.p. do que há um mês. Ou seja, descontada a inflação, os activos financeiros com maturidades mais longas reflectem um fraco potencial de crescimento das rendibilidades, enquanto os activos com maturidades mais curtas estarão a antecipar as medidas de política monetária e os custos de financiamento mais elevados. Consequentemente, se as rendibilidades associadas ao sector curto da curva passarem a ser mais elevadas do que as associadas ao sector mais longo, investimentos com base em posições financeiramente alavancadas não fazem sentido, dado que investir se torna menos atractivo e pedir emprestado é caro e afigura-se mais arriscado; o abrandamento da economia será a (mais que provável) consequência podendo induzir uma espiral deflacionista e a inevitável entrada em recessão. A observação da actual configuração da curva de rendimentos norte-americana poderá ser um dos principais motivos pelos quais os mercados a prazo já descontam o final do ciclo de subidas das taxas por parte da FED, podendo aumentar a aversão ao risco entre os investidores.

E o que dizem os mercados de capitais? Que repercussões se antevêem nas taxas de rendibilidade, na liquidez e no risco dos investimentos? A resposta não é fácil, é cada vez mais premente seleccionar portefólios compostos por activos líquidos e seguros que proporcionem algum rendimento e permitam resistir a este ciclo que, decerto, rapidamente se alastrará a outros mercados. A má notícia é que vivemos um contexto no qual as oportunidades de investimento não abundam e existem dificuldades acrescidas na altura de captar as que se apresentam mais interessantes.

No curto prazo, a volatilidade seguirá sendo elevada, pelo que os investidores com um horizonte temporal mais reduzido e com um perfil mais conservador devem apostar em activos de baixo risco (certificados de aforro, produtos de capital garantido, depósitos). Caso o aforrador não privilegie a liquidez imediata e tenha nervos de aço que lhe permitam desenhar uma estratégia a longo prazo, pode ser um bom momento para compor carteiras mais arriscadas (acções, "warrants", futuros, entre outros), já que em conjunturas de crise também se fazem bons negócios. Uma última nota, a revisão periódica da carteira apresenta-se como um requisito obrigatório (digo eu, que ensino).

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