Outros sites Medialivre
Notícia

João Queiroz: “Recuperação nas bolsas depende do regresso à normalidade”

João Queiroz acredita que muitas empresas penalizadas pela pandemia vão regressar a níveis anteriores ao vírus. Já nas obrigações não há margem para descidas de juros expressivas.

16 de Novembro de 2020 às 16:15
João Queiroz “Head of trading” do Banco Carregosa Miguel Baltazar
  • Partilhar artigo
  • ...
A nova edição do Jogo da Bolsa arranca num momento crítico para a economia global, com governantes a tentarem conter as novas infeções de covid e as farmacêuticas numa corrida para pôr no mercado a primeira vacina. João Queiroz, "head of trading" da Carregosa, deixa as suas expectativas para a negociação.

A pandemia acelerou quedas acentuadas nas bolsas em 2020, mas as notícias de uma vacina trouxeram algum otimismo. Há margem para uma recuperação?
A recuperação das avaliações está muito dependente da retoma dos circuitos económicos inerentes às normais e básicas atividades das sociedades com livre circulação de pessoas fora de um contexto de pandemia e de ausência de outras restrições como a fluidez do comércio internacional e das redes de logística. Nos próximos trimestres a disponibilidade em escala de um conjunto de vacinas e de terapias poderá mitigar o impacto sistémico da pandemia na saúde pública, mas quando se tornar um tema corrente poderemos então começar com outros temas que passam por retomar a qualidade de vida das sociedades. Nesse cenário de recuperação haverá oportunidade para muitas empresas de valor recuperarem as anteriores avaliações equivalentes aos níveis da pré-pandemia.

As bolsas europeias continuam longe dos níveis em que negoceiam as ações dos EUA. A Europa pode destacar-se na recuperação?
Nos últimos dois anos os mercados dos EUA estiveram muito influenciados por um setor que teve na pandemia mais um catalisador: a tecnologia. Este setor concentrou a valorização, concentrando grande parte dos valores de índices como S&P500 ou Nasdaq. A Europa, com menor número de empresas tecnológicas, necessita de acelerar e investir bastante para conseguir competir com os EUA e a China, dependendo mais da correção dos valores das empresas daqueles países para conseguir convergir as suas avaliações.


Os estímulos dos bancos centrais levaram os juros das obrigações para mínimos. Como espera que evoluam as "yields"?
As taxas de juros não deverão observar maiores quedas, embora nos 10 anos possamos ficar com "yields" negativas e nos trinta anos ter taxas ainda mais baixas.


"A perspetiva é de reorientar [os investidores] para estratégias e alocações em que os preços dos ativos voltem a refletir a recuperação."


A política monetária vai continuar a ser o principal catalisador nos mercados?
Enquanto prevalecer a necessidade da autoridade monetária manter a forte oferta monetária e recompras de ativos para compensar fenómenos e eventos como a pandemia, a sua ação tenderá a ser determinante e crucial, sobretudo, para países que, estruturalmente e de forma sistémica, não conseguem baixar o montante nominal da sua dívida pública. Apenas canalizando os seus recursos e esforço para o comércio internacional estes países conseguirão atrair valor e reduzir a sua dependência dos bancos centrais. Em muitos países europeus a sua política orçamental está severamente condicionada.

Que ativos se podem destacar nos próximos meses?
Os ativos de menor risco percebido como as obrigações soberanas e as ações de crescimento, efetivamente foram relevantes para capitalizar as carteiras. Com o crescente fenómeno de "repressão financeira" que se verifica, sobretudo, na Europa, para existir uma mais virtuosa recuperação económica com atuação dos particulares (via de poupanças) e empresas (aplicações de tesouraria), a atividade de investimento terá de privilegiar maior assunção de risco, sobretudo em empresas industriais e tecnológicas de serviços e bens, aqui ambos transacionáveis, destinados aos mercados de exportação e em setores de substituição de algumas importações. A perspetiva é de reorientar para estratégias e alocações em que os preços dos ativos voltem a refletir a saudável recuperação da atividade económica e empresarial para ritmos de crescimento do período pré-pandemia.
Mais notícias