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João Queiroz: “Mercado já incorporou o final do processo de aumentos de juros”

A inflação está a voltar à meta dos bancos centrais e a ameaça vinda da energia deverá ser temporária, acredita João Queiroz. O prolongar de tensões geopolíticas poderá, contudo, pesar.

06 de Novembro de 2023 às 13:30
João Queiroz, “Head of Trading” do Banco Carregosa Miguel Baltazar
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Bancos centrais como o europeu (BCE) ou a Reserva Federal norte-americana decidiram pôr as subidas dos juros em pausa. Os investidores já assumiram que os ciclos chegaram ao fim e já estão a olhar para o próximo passo: a primeira descida de taxas, diz João Queiroz, "head of trading" do Banco Carregosa, em entrevista ao Negócios no âmbito do Jogo da Bolsa, que hoje se inicia e decorre até 1 de dezembro.

Quando a guerra na Ucrânia parecia descontada, há um novo foco de tensão no Médio Oriente. A geopolítica é hoje mais importante para as bolsas do que a economia?
Historicamente a economia é uma das componentes da competitividade de uma nação, bloco de países e regiões, mas tem-se tornado uma forte dimensão do conceito geopolítico, pois permite ter uma maior eficácia nas dimensões diplomática e militar, fazendo parte do conceito de "guerra híbrida". Este conceito objetiva economizar meios, destruir menor conjuntos de ativos e perder menos vidas humanas, algo que na nossa ocidentalidade e arquitetura moral não possui preço.

A situação pode levar o BCE ou a Fed a sair do modo de pausa e voltar a subir juros?
Com a continuidade da diminuição da oferta monetária, a gradual redução dos balanços (como no caso do BCE e da Fed em quase um bilião por ano) e as maiores exigências na atribuição do crédito / financiamento pelo setor bancário mundial, o mercado já incorporou o final do processo de aumentos de juros pelos bancos centrais, equacionando agora quando ocorrerão as primeiras reduções ou cortes de juros e possivelmente uma antecipação dos programas de compras de ativos que eventualmente ainda vigorem.

O que foi feito é suficiente?
Os juros já superam os diversos dados de inflação dos países com maior potencial para realizar despesa em consumo, pelo que a variável tempo conjugada com a evolução do mercado laboral e os salários reais, deverão completar o restante processo de convergência para as metas de 2% a 3%. A estagnação do crescimento mundial e a queda da inflação ou mesmo a deflação esperada em países como a China ou os Países Baixos, como economias exportadoras, já contribuem como forças para estabilizar a evolução dos preços.

E a energia?
A hipotética subida dos preços da energia como o crude e o gás natural, deverão continuar a ser observadas como eventos temporários enquanto os países exportadores e importadores se ajustam e gerem os desafios, mesmo que operem em monopólio ou oligopólio estatal como o exemplo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Que fatores considera que vão marcar o final do ano?
Com a redução e erosão da almofada de poupança criada nos anos da pandemia de covid-19 e dos eventuais ajustes nos mercados financeiro e de imobiliário, e perante os juros mais elevados em uma década, a evolução do consumo poderá começar a sentir-se de forma mais visível, agravando os elevados endividamentos das famílias, empresas e Estado. A estagnação económica com suave, ou mais evidente, "aterragem" será uma das principais variáveis como se verifica nas "yields" das obrigações soberanas, especialmente de longo prazo.

Os conflitos armados são uma preocupação?
Os conflitos militares atuais tendem a estender-se no tempo e podem ser mais prolongados do que se observava na história contemporânea o que consome relevantes recursos aos Estados e aos cidadãos para melhor poderem responder às ameaças. Tal afetará forçosamente a qualidade de vida da população e as suas escolhas a prazo ou mesmo o cenário de reconstrução após um conflito militar que deixa marcas devastadoras. A alteração da ordem mundial, como o debate G7 para E7, deverá manter-se com as "economias emergentes" a centrarem a posse e a exportação de recursos naturais. Tal irá traduzir-se em preços mais elevados destes recursos e na motivação das "economias desenvolvidas" para acelerar a "transição energética", que é um processo dispendioso.
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