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O próximo ocupante da Casa Branca tem capacidade para gerar volatilidade nos mercados financeiros e até, mesmo que de forma indireta, influenciar as decisões da Reserva Federal (Fed) dos EUA, diz João Queiroz, "head of trading" do Banco Carregosa, em entrevista ao Negócios no âmbito do Jogo da Bolsa, que se inicia hoje e decorre até ao final do mês.
Qual espera que seja o impacto das eleições nos EUA?
As eleições nos EUA possuem capacidade para gerar volatilidade nos mercados financeiros, dependendo do grau de incerteza quanto aos resultados e do grau de prossecução das políticas económicas defendidas pelos candidatos. Historicamente, as incertezas que envolvem as eleições tendem a aumentar a volatilidade, o que já é patente na volatilidade VIX em que a média dos últimos 30 dias é de 19,7 pontos, à medida que os investidores ajustam posições com base nas diferentes propostas agendas económicas e orçamentais.
Difere entre candidatos?
Se vencer um candidato pró-mercado, com políticas de estímulo ao crescimento e ao setor privado, poderá resultar num aumento do apetite pelo risco e numa valorização das ações. No entanto, uma vitória de um candidato com políticas fiscais mais restritivas ou focadas em regulação adicional pode comportar alguma pressão para os mercados. Adicionalmente, os resultados podem impactar diretamente a política monetária da Fed, a fiscalidade e a regulação de setores relevantes, como o de tecnologia e energia, influenciando as expectativas dos investidores.
Até que ponto vai influenciar as políticas da Fed?
As eleições nos EUA possuem elevada capacidade para influenciar indiretamente as políticas da Fed, mas o impacto imediato tende a ser limitado devido ao mandato independente daquela instituição. A sua política monetária é principalmente orientada pelos dados económicos, como inflação e desemprego, ao invés de mudanças políticas de curto prazo. No entanto, dependendo do vencedor destas eleições, poderão existir relevantes alterações e adaptações nas políticas orçamentais que afetam a economia a médio prazo.
De que forma?
Se o presidente eleito adotar uma política orçamental expansionista, como grandes pacotes de estímulos ou aumentos na despesa pública, a Fed poderá ter de ajustar a sua política monetária para equilibrar os efeitos inflacionistas. De igual forma, políticas orçamentais e tributárias restritivas poderiam pressionar a Fed a adotar uma postura mais acomodatícia para apoiar o crescimento económico. Portanto, embora a Fed mantenha a sua independência, as eleições podem moldar o contexto económico no qual as suas decisões são tomadas.
A par da política monetária e eleições nos EUA, para que fatores está a olhar?
Além da política monetária e das eleições nos EUA, há vários fatores críticos que influenciarão os mercados até ao final do ano. A evolução dos preços da energia, especialmente do petróleo e gás natural, poderá constituir um fator-chave, pois pode reverter o progresso na queda da inflação. Indicadores económicos como crescimento do PIB, dados de emprego, e consumo, especialmente nos EUA, Europa e China, devem ser acompanhados com proximidade e regularidade com uma desaceleração mais acentuada em qualquer destas economias com capacidade para aumentar a volatilidade e afetar as decisões de investimento. As tensões em regiões como o Médio Oriente ou Ucrânia/Rússia podem perturbar os mercados energéticos e as cadeias de logística, impactando tanto o crescimento como a inflação global. Os desempenho das empresas, especialmente no terceiro e quarto trimestres, fornecerão indicações sobre a resiliência na geração de resultados face ao ambiente das ainda elevadas taxas de juro e a inflação persistente no setor dos serviços, setores como tecnologia, consumo e energia que poderão estar sob particular atenção dos investidores. Os atrás mencionados fatores, combinados com as decisões da Fed e do Banco Central Europeu (BCE), bem como os resultados das eleições nos EUA, apresentam capacidade para influenciar o cenário económico e do mercado até ao final do ano e a transição para o próximo.