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Há muito que defendo que a literacia financeira constitui um dos pilares fundamentais para a prosperidade e desenvolvimento sustentado de uma sociedade. Desde a crise financeira de 2008 que o tema tem adquirido especial destaque, sendo amplamente discutido, analisado e, cada vez mais, promovido. Vários estudos indicam, lamentavelmente, que continua ainda a ser um problema a nível mundial. Os resultados do último inquérito à literacia financeira de 2015 indicam que, embora em Portugal esteja a obter resultados cada vez mais positivos, ainda há um longo caminho a percorrer na elevação do nosso nível de literacia financeira.
Mas o que é afinal a literacia financeira? A definição proposta pela APB assenta em "ter cidadãos instruídos e informados sobre temas e conceitos financeiros básicos e úteis à gestão do dinheiro e orçamento familiar para que possam tomar decisões fundamentadas e acertadas". Efetivamente a compreensão de conceitos financeiros fundamentais conduz a uma maior capacidade de tomar decisões informadas, no que respeita à gestão do dinheiro, que envolve não só o planeamento e gestão do orçamento familiar e da poupança mas também a escolha de produtos financeiros adequados às necessidades e perfil de risco, o recurso responsável ao crédito com ponderação de diferentes opções e custos associados, ou a adoção de hábitos de precaução para situações imprevistas. Mas a literacia financeira tem uma dimensão muito mais abrangente. Nos últimos anos, os temas do setor financeiro como a banca, os seguros, a bolsa, os investimentos e conceitos com elevado grau de complexidade ganharam mediatização, sendo frequentes nos meios de comunicação, questionando até que ponto cada um de nós tem capacidade para entender muito do que é dito à nossa volta, das decisões políticas e do seu impacto.
Uma maior literacia financeira conduz ao bem-estar das populações, na medida em que cidadãos financeiramente informados promovem coletivamente o crescimento económico dos países e contribuem para a estabilidade do sistema financeiro. A título de exemplo observemos o comportamento dos portugueses em relação à preparação da sua reforma. Num contexto em que os benefícios sociais estão a diminuir cada vez mais, é assustadoramente surpreendente a baixa adesão dos portugueses a planos de poupança reforma. Se formos um pouco mais longe, será ainda menor o número de portugueses que tem ideia de qual o valor que terá de poupar anualmente para, chegada a idade da reforma, poder dispor de um rendimento mensal semelhante ao que dispõe no final da sua vida ativa. Este comportamento inadequado, inquestionavelmente associado à baixa literacia financeira em Portugal, trará custos sociais bastante elevados a médio prazo, em que serão necessárias medidas de emergência perante uma segurança social incapaz de garantir pensões de reforma na velhice dos que hoje custeiam esse fundo.
Sendo transversalmente aceite que o desenvolvimento dos níveis de literacia financeira se traduzem em claros benefícios, - quer na perspetiva individual de cada consumidor ou cidadão, quer também, de um modo mais abrangente, ao nível da própria economia e sociedade como um todo - em Portugal têm-se desenvolvido múltiplas iniciativas neste âmbito, tanto a nível governamental, como setorial e empresarial, com destaque para a criação do Plano Nacional de Formação Financeira, uma iniciativa do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, que integra o Banco de Portugal, a CMVM, a APB e a ASF. No passado mês de julho, o Banco de Portugal organizou, em Lisboa, o IV Encontro dos Bancos Centrais dos Países de Língua Portuguesa (BCPLP) sobre inclusão e formação financeira, onde o Governador do Banco de Portugal, Carlos da Silva Costa, destacou a importância da inclusão e da formação financeira, tanto para o desenvolvimento económico e social dos países, como para a autonomia e cidadania financeira da sua população.
Estas iniciativas assumem relevância acrescida num cenário em que a rápida evolução tecnológica vem colocar ao dispor de todos os indivíduos inúmeros serviços financeiros, desde a poupança ao investimento, passando pela gestão do dia-a-dia, através por exemplo, de métodos de pagamento mais ágeis e menos dispendiosos. Esta inovação, que até pode propiciar uma mais rápida inclusão financeira, comporta riscos significativos, se não for acompanhada de um aumento proporcional da formação financeira dos cidadãos. Na verdade, de nada serve uma regulamentação mais apertada no sentido de reforçar a proteção dos clientes, nomeadamente de pequenos investidores, se estes não estiverem preparados para analisar, interpretar e incorporar a informação que lhe é disponibilizada. Dominar e compreender conceitos desperta as consciências para a importância de procurar informação, de fazer perguntas e de analisar criticamente as opções, antes de se tomarem decisões.
Se vemos a educação como fator transversal, crítico para o sucesso individual e coletivo, preponderante para a mobilidade social, por que razão não encaramos a educação financeira também como uma prioridade?
JOGO DA BOLSA
18 de Novembro a 13 de Dezembro
As classificações do Jogo da Bolsa são atualizadas diariamente. Em primeiro lugar, um top é publicado no Negócios e às 14 horas a listagem total é publicada no Jornal de Negócios Online. Para o efeito, todos os dias é retirada uma classificação provisória da Classificação Global, a Classificação Universitária e da Classificação Universo ISCTE Business School. Depois, todas as terças-feiras, é divulgado o vencedor semanal.
*Inês Oliveira, Risk Manager BBVA Portugal