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É com um dos temas quentes do momento que fecho este ciclo de artigos sobre novas realidades que mudaram o mundo dos negócios e dos mercados financeiros desde a introdução do Jogo da Bolsa. O elusivo conceito do Metaverso saltou para a ribalta quando há algumas semanas o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou a mudança de nome para Meta. Uma mudança que ocorre como forma de refletir o atual posicionamento estratégico da empresa, que pretende moldar aquilo que se tem vindo a descrever como "o futuro da internet". Mas o que é ao certo o Metaverso? A noção surgiu na década de 90 com a massificação da internet. Recorrendo a uma definição manifestamente simples, poderá ser descrita como a criação de um ambiente virtual persistente suportado via internet. Esta descrição vaga poderá remeter-nos, portanto, para o Second Life ou então para o mais recente Fortnite, uma vez que estas e outras aplicações já oferecem ambientes virtuais 3D com avatares e indumentárias personalizáveis e uma coleção de experiências virtuais contidas nestes ambientes digitais. O que nos levará a questionar se afinal o Metaverso já não existe. Bom, o que existem são pequenos microcosmos isolados quando comparado com o que se pretende alcançar nesta suposta nova iteração da internet: uma experiência virtual abrangente que deverá estar acessível por uma variedade de dispositivos, desde o computador ao smartphone, com ou sem recurso à realidade virtual e eventualmente com a sua própria economia global. Por outro lado, a ideia do Metaverso não se circunscreve necessariamente a uma experiência que se extingue no ambiente virtual e essa é outra vertente com que se vem experimentando nos bastidores. É aqui que entra por exemplo o conceito de realidade aumentada: o Metaverso surge ainda como uma extensão do nosso universo físico e/ou com ele "interage" de alguma forma. Sabemos, por exemplo, como o Facebook pretende explorar o Metaverso vendendo itens digitais como roupas virtuais. Ora, temos hoje lojas online a que podemos aceder via internet para adquirir as nossas roupas físicas, mas dada a impossibilidade de experimentar antes de as adquirir, o número de devoluções é bastante expressivo no setor, o que gera custos adicionais e impede uma experiência bem mais satisfatória para o utilizador final, como seria aquela se fôssemos capazes de conjugar as faculdades de uma loja física com as facilidades de uma loja online. Agora imagine-se que a loja online se encontra integrada no Metaverso e que os itens podem ser experimentados num avatar digital antes de adquirir... Na verdade isto é um pouco mais do que um ‘imagine-se’ pois já existem desde startups a big techs a tentar explorar ideias deste tipo. Mas como se pode perceber também, tudo isto é ainda altamente especulativo. Não conseguiremos antever de forma precisa o que é que o Metaverso vai ser e se e em que medida vai impactar a nossa vivência física. Nem nós, nem os seus mais proeminentes promotores. Há dias (re)via um anúncio da AT&T do início dos anos 90 em que se promovia um vasto leque de serviços e facilidades que a internet viria trazer, o que acabou efetivamente por ocorrer. Mas ocorreu também uma tal transformação à nossa experiência quotidiana com a introdução de novas realidades que nem se anteviam à data, como sejam as redes sociais. Apesar de todo o seu voluntarismo, o Facebook (digo, Meta) não deverá ter a última palavra sobre o Metaverso. Afinal, com a internet e ao contrário do que ocorreu com a introdução da imprensa no séc.XV, as massas deixaram de ser meros agentes passivos e terão elas também algo a dizer sobre o que é que o Metaverso e como irá ser utilizado.