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João Queiroz, "head of trading" do Banco Carregosa
A bitcoin regista uma valorização com ímpeto, ultrapassando pela primeira vez os 87.000,00$ impulsionada pelo apoio do presidente eleito Trump a este perfil de instrumentos financeiros e pelo favorável cenário de um Congresso composto por legisladores que poderão criar um ambiente mais favorável. A clara vitória de Trump nas eleições presidenciais espoletou um renovado entusiasmo com procura pelos ativos digitais, registando um investimento de mais de 100 milhões de dólares para apoiar candidatos favoráveis ao setor. Desde as eleições da semana passada, a bitcoin valorizou mais de 25%, registando máximos históricos consecutivos, surpreendendo a cadência e o ritmo de evolução diária .
As cotadas relacionadas com criptodivisas também registaram fortes capitalizações, como os exemplos da Microstrategy ou Coinbase, ambas representantes do setor que registaram ganhos de aproximadamente 25%, enquanto mineradoras como a Marathon Digital e a Riot Platforms registaram ganhos de 30% e 25%, respetivamente.
Durante a campanha ,o candidato Trump prometeu colocar os EUA no centro da indústria de ativos digitais, incluindo a criação de uma reserva estratégica de bitcoin e a nomeação de reguladores favoráveis às criptodivisas. Atualmente o mercado aparenta ausência de preocupação com o tempo necessário para implementar tais medidas ou com a possibilidade de criação de uma reserva estratégica de bitcoin. O seu programa económico muito focado no crescimento económico interno, com cortes fiscais e redução da burocracia, fomentou o investimento e a poupança, impulsionando as alocações a ações, obrigações de cotadas e criptodivisas. O índice S&P 500 atingiu o seu 50.º recorde anual na semana passada e, neste ano de 2024, a bitcoin mais do que deverá duplicar a sua cotação, apoiada pela procura robusta por ETF específicos dos EUA e pelos cortes de taxas da Reserva Federal.
Os ETF registaram um acréscimo de fluxo diário entre 1$ e 1,5 mil milhões de dólares e o volume de negociação alcançou novos máximos, sinais de como a vitória do candidato Trump influenciou a procura de criptos, apesar de uma relevante parte do mercado institucional ter reduzido as suas posições antes das eleições, reentrando após o resultado da eleições de 5 de novembro, criando pressão de compra significativa e que poderia manter-se por algum tempo. Parece existir um conservadorismo com a Administração Biden, que adotou uma abordagem mais cética e defensiva sobre ativos digitais, com a SEC a intensificar o escrutínio ao setor, identificando-o como suscetível a fraudes e irregularidades, especialmente após o emblemático e mediático colapso da FTX. Porém, tal conservadorismo terá preparado para a atual etapa.
A alteração da postura do próximo presidente, que chegou a considerar as criptodivisas como uma "fraude", com a promessa de regulação favorável e o controlo Republicano no Congresso e Senado, aumentam a probabilidade de aprovação de legislação pro-cripto. Com o aumento dos montantes de investimento, a bitcoin possui uma capitalização bolsista de 1,7 biliões de dólares, descorrelacionando a sua mais recente evolução do índice Nasdaq ou do ouro.
Apesar do atual renovado entusiasmo, o mercado apresenta cautela com a memória de que uma correção tenderia a ser agressiva, sugerindo mesmo alguma neutralidade após os fortes desempenhos. Apesar da volatilidade e ceticismo, o mercado estará a alargar, com aforradores mais tradicionais - e que privilegiam a proteção de capital - a procurarem mais informação, sobretudo, observando o dinâmico e fluido mercado de ETF. No mercado a prazo formado pelos contratos de futuros e de opções já está subjacente a elevada probabilidade de a bitcoin superar os 100.000,00$ até ao final do primeiro semestre de 2025, ou mesmo no final deste ano.