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Capitalismo iluminado

O capitalismo não está a funcionar tão bem como deveria. O emprego aumenta em todo o mundo, mas o crescimento económico é lento.

Negócios 27 de Novembro de 2019 às 10:44
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As desigualdades acentuam-se e o equilíbrio ambiental está a denotar sérios problemas. Os governos não apresentam soluções reformistas capazes de superar ou, no mínimo, atenuar estas questões devido à incapacidade e instabilidade da política e das políticas. A resposta para a resolução destes problemas económicos e sociais só poderá ser dada através de empresas socialmente responsáveis que, contrariando a ortodoxia capitalista mais selvagem, ajustem os seus objetivos aos interesses de todos os seus "stakeholders", e não só ao serviço dos interesses dos seus proprietários.

Desde o século XIX o mundo empresarial em Inglaterra e França iniciou o debate sobre o que a sociedade pode esperar das suas atividades. Nas décadas de 1950 e 1960 na América e na Europa, os gigantes do capitalismo de então trabalhavam em consonância com governos e associações sindicais, oferecendo aos trabalhadores segurança e benefícios no emprego. Após a estagnação da década de 1970, à medida que as empresas procuravam maximizar a riqueza dos seus proprietários, em teoria, maximizavam a eficiência e o seu valor de mercado. Desde o final do século passado, o valor criado para os acionistas tem vindo a tornar-se uma obsessão egoísta, primeiro nos EUA, depois na Europa e no Japão. O peso dos lucros no PIB global quase duplicou desde 1989; a distribuição pelos trabalhadores do valor criado pelas empresas esbateu-se; os consumidores têm perdido na qualidade dos bens e serviços e a mobilidade social afundou profunda e drasticamente.

Em pleno século XXI, esta superestrutura começa a causar um ruído cada vez mais incómodo. Percebe-se claramente um declínio na ética dos negócios, a ponto de se observar uma contradição: a maximização do valor do acionista tem sido vista como responsável pela destruição dos resultados económicos. A lista de pecados é vasta, desde a obsessão pelos ganhos de curto prazo negligenciando investimentos, passando pela exploração de funcionários e esmagamento de salários, até à desresponsabilização pelas externalidades catastróficas que criam e destroem o mundo em que (sobre)vivemos.

Coletivamente, o capitalismo enquanto modelo de sociedade terá de atenuar dois grandes problemas: a desresponsabilização e a falta de dinamismo. Os dirigentes empresariais devem ter a responsabilidade social de saber o que a "sociedade" espera da sua empresa. A dinâmica da realocação do capital a novas indústrias e negócios tem de acautelar o enorme corte e transformações de emprego. O capitalismo funcionará melhor se não lhe limitarmos a responsabilidade e o dinamismo, investindo na sua elevação. Isso requer que as empresas optem por estratégias maximizadoras do valor a longo prazo que incluam, inevitavelmente e entre outros, uma adaptação às mudanças nas preferências da sociedade, produtos de comércio justo, jovens colaboradores graduados que contribuam para empresas eticamente mais saudáveis.

É claro que esta transformação não passa unicamente pelas empresas. Uma economia saudável e competitiva exige governos e políticas eficazes que imponham regras iguais para todos, limitem o "lobby" excessivo e o favoritismo clientelista e responsabilizem os causadores de externalidades negativas. Essa política de bom funcionamento precisa de inovação, propriedade amplamente difundida e empresas flexíveis que se adaptem rapidamente às necessidades da sociedade. Em suma, a sociedade precisa de um novo capitalismo, mais livre, mais moderno e menos ideológico; um capitalismo realmente mais iluminado.


*Luís Oliveira Departamento de Finanças ISCTE-IUL
*Inês Oliveira "Risk Manager" BBVA Portugal


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As classificações do Jogo da Bolsa são atualizadas diariamente. Em primeiro lugar, um top é publicado no Negócios e às 14 horas a listagem total é publicada no Jornal de Negócios Online. Para o efeito, todos os dias é retirada uma classificação provisória da Classificação Global, a Classificação Universitária e da Classificação Universo ISCTE Business School. Depois, todas as terças-feiras, é divulgado o vencedor semanal.


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