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António Mexia: "O acesso universal à energia é uma escolha política"

António Mexia salientou que o acesso universal à energia de toda a população mundial é "um passo civilizacional", pois significa mais saúde, segurança, educação e actividade económica.

Filipe S. Fernandes 03 de Maio de 2018 às 12:07
António Mexia, chairman do SEforALL e presidente da EDP, na abertura do Fórum SEforALL. Adelino Oliveira
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"O acesso universal à energia é uma escolha política e de gestão de projectos, não é uma questão de tecnologia ou de financiamento" declarou António Mexia, chairman do SEforALL e presidente da EDP, na abertura do Fórum SEforALL, que ontem teve início no Convento do Beato em Lisboa e que reuniu mais de 800 participantes de quase 100 países.

"Para fornecer acesso universal da população mundial à energia até 2030, teria de se fazer, em média, um investimento anual 48 mil milhões de dólares por ano, de acordo com a AIE. Representa um décimo dos subsídios aos combustíveis fósseis, que foram de 490 mil milhões de dólares em 2014", referiu António Mexia.

António Mexia salientou, ainda, que o acesso universal à energia é "um passo civilizacional para estas populações" pois significa mais saúde, segurança, educação e actividade económica. Citou ainda um adágio, "dê electricidade e telefone às pessoas, e elas montam um negócio", e mostrou o impacto económico deste objectivo, por cada dólar investido em acesso universal de energia acrescenta quinze dólares ao PIB.

As tecnologias estãoa mudar tudo à sua volta e podem ajudar a mudar também neste aspecto, se for esse o desígnio. António Mexia
chairman do SEforALL e presidente da EDP

Mil milhões de pessoas que ainda não têm acesso à electricidade, e três mil milhões cozinham com recursos energéticos poluentes. As tendências actuais mostram que se está atrasado em relação aos objectivos do SDG 7 para 2030, pois prevê-se que, cerca de 800 milhões de pessoas, não devam ter acesso à electricidade em 2030 e 500 milhões em 2040.

"Os números mostram que temos de fazer mais. Mas podemos ser optimistas" referiu António Mexia. "As tecnologias estão a mudar tudo à sua volta e podem ajudar a mudar também neste aspecto, se for esse o desígnio". Tanto mais são várias as tecnologias disponíveis e com crescentes desenvolvimentos, como "não se imaginava há cinco ou dez anos atrás", o que baixa os custos dos investimentos e das soluções.

Nos últimos anos, na Ásia, em Africa e na América Latina, há vários exemplos bem-sucedidos através de "estratégias pragmáticas, eficientes, e com impacto na vida das pessoas".

Salientou que enquanto chairman e, em colaboração com equipa executiva, definiu três prioridades que é fazer da SEforALL a principal plataforma global e ONG internacional para fazer avançar os objectivos para 2030, o marketplace e centro global de energia sustentável e promover parcerias orientadas para a acção entre sectores vários e críticos para cumprir os objectivos do acesso universal a energia sustentável e limpa em 2030 para grande parte da população mundial.

Fez ainda uma exortação: "Este é o momento de transformar as palavras em acções, transformar pequenos passos da descoberta em gigantescos avanços, de modo a que todas as nações, todos os governos, todos os sectores económicos, todos os cidadãos trabalhem juntos, para alcançar um futuro melhor para todos".

"Não deixar ficar ninguém para trás"

O lema do fórum SEForALL: "no one is left behind" foi o mote para no seu discurso de abertura, Rachel Kyte, CEO da SEforALL, e Representante Especial do Secretário Geral da ONU para Energia Sustentável para Todos, pedir que se reflectisse sobre os dados mais recentes em relação ao cumprimento Objectivo de Desenvolvimento Sustentável-7 na Agenda 2030, pois "são um desafio".

Disse que "o mundo se comprometeu a não deixar ninguém para trás. Para manter essa promessa, enquanto avançamos na transição energética, precisamos pensar de forma diferente sobre como podemos fornecer energia acessível, fiável e limpa". Sublinhou que por cada ano de atraso no cumprimento deste objectivo é sobretudo "uma oportunidade perdida para milhões de crianças e suas famílias. Os países não podem deixar gerações inteiras para trás quando, actualmente, há soluções que oferecem serviços de energia limpa a preços acessíveis".

Para Rachel Kyte é importante que o Fórum SEforALL consiga encontrar soluções de energia com velocidade e escola para "melhorar a vida das pessoas". Acrescentou que energia mais fiável, acessível e limpa não é apenas uma solução de uma necessidade, mas pode ser o princípio de uma nova vida. Está no "coração da criação de empregos, do ar limpo nas cidades e dos municípios, dos cuidados de saúde e da educação. O trabalho do Fórum apoiará a ambição dos parceiros da SEforALL ser um movimento global que partilha um sentido de urgência para impulsionar a transição energética".

energia

Balanço dos objectivos 2030

O estado actual dos objectivos globais da energia para 2030, definidos como parte dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, mostra que está a ser feito um progresso real em determinadas áreas, em particular na expansão do acesso à electricidade nos países menos desenvolvidos, e na eficiência energética, refere o relatório Tracking SDG7: The Energy Progress Report da autoria da International Energy Agency (IEA), International Renewable Energy Agency (IRENA), United Nations Statistics Division (UNSD), Banco Mundial e Organização Mundial de Saúde, hoje revelado no Forum SEforALL, que está decorrer no Convento do Beato em Lisboa.

Acesso à electricidade
% de pessoas com acesso a energia eléctrica
2010- 83%
2016 -87%
Objectivo 2020- 92%
Se as tendências actuais continuarem, estima-se que 674 milhões de pessoas ainda vivam sem electricidade em 2030.

Eficiência eléctrica
(índice composto)
2010 - 1,3%
2016 - 2,2%
Objectivo 2030 - 2,6%
O Produto Interno Bruto (PIB) global aumentou quase duas vezes mais do que o abastecimento de energia primária em 2010-15.

Renováveis
2010- 16,7%
2015 - 17,5%
Objectivo 2030 - 21%
Com base nas políticas actuais, espera-se que a quota de energia renovável atinja apenas 21% em 2030, com as energias renováveis modernas (geotérmica, hidroeléctrica, solar e eólica) a crescerem até 15%.

Combustíveis Limpos para cozinhar
2010-58%
2016-59%
Objectivo 2030 -100%
Se a actual trajectória se mantiver, 2 300 milhões de pessoas continuarão a usar os métodos tradicionais para cozinhar em 2030.



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