Outros sites Medialivre
Notícia

Negócios Iniciativas: Há opções políticas no Orçamento que não são discutidas

A diferença entre as taxas de IRC nominais e o que as empresas efetivamente pagam, significa que as empresas dedicam grande parte dos seus recursos a fazer otimização fiscal.

25 de Novembro de 2024 às 14:00
Luís Vieira/Movephoto
  • Partilhar artigo
  • ...

Foto em cima: Paulo Trigo Pereira, Luís Aguiar-Conraria, e Óscar Afonso, no debate moderado por Diana Ramos.

Portugal precisa de crescer muito mais do que tem crescido. Desde 1999 até 2023, crescemos a uma média de 1% ao ano, o que significa que dobramos o PIB ao fim de 70 anos. Óscar Afonso
Diretor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto

"Não perspetivo uma grande ambição em termos de taxa de crescimento no Orçamento do Estado, que é de 2%, e Portugal precisa de crescer muito mais do que tem crescido. Desde 1999 até 2023, crescemos a uma média de 1% ao ano, o que significa que dobramos o PIB ao fim de 70 anos. Os países de coesão têm taxas de crescimento que dobram o PIB entre 15 e 25 anos", disse Óscar Afonso, diretor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, durante o Encontro Fora da Caixa, organizado pela Caixa Geral de Depósitos e pelo Negócios em Viana do Castelo, que teve como tema ‘O Orçamento do Estado 2025: Perspetivas e Impacto na Economia’.

Este debate foi antecedido pela apresentação do relatório Budget Watch, que vai na sua 14.ª edição, é um projeto do ISEG e do Institute of Public Policy. Conta com o apoio de 21 economistas para fazer uma análise ao projeto de Orçamento do Estado de 2025, com base em dez princípios de responsabilidade orçamental e fazer propostas de melhoria da transparência e do rigor orçamental.

O relatório Budget Watch não tem a ver com as opções políticas dos governos, mas se os governos são ou não claros no Orçamento do Estado, em termos de rigor e de transparência orçamental. Paulo Trigo Pereira
Professor catedrático do ISEG

"Este projeto não tem a ver com as opções políticas dos governos, mas se os governos são ou não claros no Orçamento do Estado, em termos de rigor e de transparência orçamental", definiu Paulo Trigo Pereira, professor catedrático do ISEG. "A análise é fundamental porque, se a tivéssemos há 20 anos, se calhar não teríamos entrado na bancarrota."

Pensões opacas

A transparência deveria estar no cerne deste documento para que a discussão sobre as pensões fosse feita com base em dados objetivos. Como referiu Paulo Trigo Pereira, normalmente fala-se das pensões da Caixa Nacional de Pensões, mas há uma parte mais opaca, que é a Caixa Geral de Aposentações, que, "neste momento, já não tem novos contribuintes, só tem pensionistas, e não há informação".

Sobre o valor das pensões, Paulo Trigo Pereira aludiu ao Aging Report da Comissão Europeia, onde se prevê que a pensão será de 37% do seu último salário em 2060. Óscar Afonso referiu que "no livro verde da Segurança Social dizia-se que o sistema previdencial entrava em saldos negativos em meados da década de 2030".

Muitas vezes argumenta-se que o IRC é muito alto em Portugal. Depois, contrapõe-se que a taxa efetiva de IRC paga pelas empresas é mais baixa, e já é comparável em relação aos outros países. Luís Aguiar-Conraria
Presidente da Escola de Economia, Gestão e Ciência Política da Universidade do Minho

Luís Aguiar-Conraria, presidente da Escola de Economia, Gestão e Ciência Política da Universidade do Minho, apontou para opções políticas de fundo que são tomadas de forma escondida no Orçamento do Estado. Deu o exemplo do congelamento das propinas desde 2020, inicialmente devido à pandemia. "Já estamos a aprovar o Orçamento de 2025 com o congelamento, isto é uma política estrutural, congelar a forma principal de financiamento das Universidades durante seis ou sete anos, mas sem discussão pública."

Relativamente às discussões sobre a baixa do IRC, Luís Aguiar-Conraria disse que "muitas vezes argumenta-se que o IRC é muito alto em Portugal. Depois, contrapõe-se que a taxa efetiva de IRC paga pelas empresas é mais baixa, e já é comparável em relação aos outros países". Na sua opinião, esta "diferença enorme é o pior indicador possível, porque quer dizer que as empresas dedicam grande parte dos seus recursos a fazer otimização fiscal". Óscar Afonso é mais favorável a um corte na derrama estadual, mas também do IRC, ainda que não compreenda porque não se tenha feito uma avaliação dos efeitos dos benefícios fiscais.