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Frederico Falcão: “Posicionar a marca Vinhos de Portugal num patamar mais alto”

É um dos principais objetivos de Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, para o próximo triénio 2020-2023 e que passa sobretudo por aumentar o preço médio por garrafa.

17 de Dezembro de 2020 às 14:00
Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal Miguel Baltazar
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"Sobre os objetivos que tracei para o meu mandato, posso afirmar que já iniciei todos", refere Frederico Falcão que desde de maio de 2020 preside à ViniPortugal, que é a organização interprofissional do vinho de Portugal. O seu programa para a ViniPortugal falava em três prioridades: criar um observatório de mercados internacionais, reforçar a aposta na formação dos agentes económicos e promover mais ações para valorizar os vinhos portugueses no mundo, procurando aumentar o preço médio por garrafa.

Sublinhou que se as exportações de vinho estão a crescer, até setembro de 2020, 2,43% em valor, o consumo de vinho na restauração em Portugal desceu 47% no mesmo período.

 

Como é que o setor enfrentou a covid-19, e como é que vai enfrentar os novos desafios dela recorrentes? Como se têm comportado as exportações em 2020?

O setor do vinho é um setor muito maduro e resiliente. No contexto nacional, a quebra foi muito grande, devido às limitações da restauração e, sobretudo, à enorme quebra do número de turistas em Portugal. O turismo tem sido a grande alavanca para a subida do consumo de vinho no nosso país nos últimos anos, tendo colocado Portugal no lugar cimeiro do consumo per capita de vinho. Esta ausência de turistas, aliada às restrições e ao fecho da restauração nacional, levou a quebras na ordem dos 47% no consumo nestes locais até setembro de 2020.

Em termos de exportações, o comportamento é contrário. Se até junho as nossas exportações de vinho estavam em queda, quando comparadas com o período homólogo de 2019, a partir de julho temos assistido a um crescimento, em volume e em valor, das nossas exportações. Mercados como Brasil, Canadá, Estados Unidos da América, Suécia, Finlândia e Noruega têm liderado estes aumentos em exportações. No sentido contrário temos Angola, China, França e Alemanha com decréscimo nas nossas exportações.

Em termos percentuais, as nossas expedições e exportações acumulam, até setembro, um crescimento de 2,43% em valor e de 3,81% em volume, com perda de preço médio de 1,33%. Mas se analisarmos as expedições e exportações sem a influência do vinho do Porto, o crescimento é de 8,33% em valor e de 6,1% em volume, com ganho no preço médio de 2,10%. Ou seja, temos aqui, infelizmente, um arrastamento negativo da categoria vinho do Porto, que está a sofrer mais com esta pandemia do que as restantes categorias de vinho.

 

A pandemia teve impacto no modelo de negócio com um maior consumo em casa e papel maior do comércio eletrónico entre outras. Acha que estas mudanças vieram para ficar? Que outras tendências emergentes podem marcar o futuro do setor?

As restrições que a maioria dos países tomou de fecho dos espaços de restauração e restrições nas grandes superfícies trouxeram um novo modelo de negócio. É sempre difícil prever o futuro, mas acredito que o comércio eletrónico, ainda que superior aos níveis de 2019, terá tendência para baixar ligeiramente, mantendo depois uma evolução lenta, mas estável. Acredito que quando tivermos ultrapassado esta pandemia, a vida regressará a uma certa normalidade.

 

O seu programa para a ViniPortugal falava em três prioridades: criar um observatório de mercados internacionais, reforçar a aposta na formação dos agentes económicos e promover mais ações para valorizar os vinhos portugueses no mundo, procurando aumentar o preço médio por garrafa. Qual é o ponto de situação tendo em conta que tomou posse em maio de 2020?

Sobre os objetivos que tracei para o meu mandato, posso afirmar que já iniciei todos. A ViniPortugal já lançou as bases para a criação de um Observatório do Vinho que deverá atingir a sua plenitude já em 2021.

No que concerne à formação, lançámos ao setor o desafio de participarem em ações de formação muito direcionadas para a venda: como vender, como comunicar com clientes, postura em feiras, etc. A procura superou largamente as nossas expectativas, tendo sido prevista uma ação de formação e realizadas três. Pretendemos em 2021 realizar mais ações deste género.

Sobre a valorização dos vinhos portugueses, temos vindo a realizar várias ações nesse sentido, de posicionamento da marca Vinhos de Portugal num patamar mais alto e acredito que o caminho está bem traçado. Temos também planeadas várias ações para 2021 nesse sentido. Posso adiantar-lhe que no Brasil, até outubro de 2020, os Vinhos de Portugal foram os que mais cresceram nos segmentos altos de preço. Apenas no segmento de vinhos de baixa gama fomos ultrapassados por Chile e Argentina.

 

No caso da terceira prioridade, que implica tempo, quais são os principais passos nessa estratégia e qual deve ser o papel dos produtores?

Sim, a valorização dos vinhos demora algum tempo a conseguir, mas esse trabalho já vem do passado e foi um trabalho muito bem feito. Agora há que reforçar ainda mais esta linha de atuação que inclui, como não poderia deixar de ser, uma sensibilização aos produtores sobre os preços de venda dos seus vinhos. Sabemos das dificuldades que o setor atravessa, mas só todos juntos conseguimos melhorar o nosso posicionamento em preço.

 

Quais são os "trunfos" do setor do vinho e onde é que tem de melhorar?

Creio que o nosso maior trunfo assenta na nossa diversidade: nas castas portuguesas e na riqueza de terroirs que o nosso país possui. Num pequeno país, que é o 109.º em área terrestre mundial, temos uma enorme diversidade em solos, clima e castas, em zonas muito próximas umas das outras. Esta riqueza, que até em termos de enoturismo oferece enormes vantagens, está a ser bem explorada e deverá continuar a ser no futuro. Onde claramente temos de melhorar é na comunicação, no acesso a informação estratégica e no posicionamento dos vinhos, razões pelas quais tracei estes objetivos para o meu mandato.

Perfil Uma carreira na enologia
Frederico Falcão nasceu na Chamusca em 26 de janeiro de 1970, é licenciado em Engenharia Agrícola pela Universidade de Évora, e tem uma pós-graduação em Enologia pela Universidade Católica do Porto. Desenvolveu a carreira como enólogo em empresas como o Esporão (1995-2001), diretor do departamento de Vitivinicultura e Olivicultura da Companhia das Lezírias (2001-2012), enólogo consultor na Fundação Abreu Callado, Benavila (outubro de 2003 a abril 2012) e na Herdade de Pegos Claros (maio de 2010 a abril 2012) e foi vogal da Direção da Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (setembro de 2008 a abril 2012). Em 2012 assumiu a presidência do IVV - Instituto da Vinha e do Vinho, sendo o mais jovem presidente de sempre, onde esteve até 2018 quando se tornou o CEO da Bacâlhoa Vinhos, em que Joe Berardo é o principal acionista, empresa que deixou em setembro de 2019. Em maio deste ano foi eleito presidente da ViniPortugal para o mandato 2020-2023, sucedendo a Jorge Monteiro. A direção integra ainda Jorge Basto Gonçalves, presidente do conselho de administração da Fenadegas - Federação Nacional das Adegas Cooperativas, em representação da produção, e João Gomes da Silva, administrador de marketing e vendas da Sogrape, em representação do comércio.