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Vítor Bento: “Os contribuintes salvaram os depositantes dos bancos”

“Sem capacidade de atrair investimento, o sector não poderá crescer e sem o seu crescimento, fica afetada a capacidade de financiamento do desenvolvimento da economia e de desenvolvimento qualitativo da atividade”, considera Vítor Bento.

Filipe S. Fernandes 23 de Novembro de 2023 às 16:30
Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos Duarte Roriz
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"É verdade que os bancos tiveram nestes dois últimos anos maiores rendibilidades do que aquilo a que se estava acostumado desde a crise financeira. Mas o que é anormal, ou extraordinário, é a rendibilidade dos anos precedentes, não é a destes anos", referiu Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, que dedicou a sua intervenção a desmontar ideias feitas e "populistas" sobre a rendibilidade da banca, a presumida salvação dos bancos com dinheiro dos contribuintes e as alegadas práticas abusivas dos bancos.

Dizer que os bancos tiveram centenas ou milhares de milhões de lucros, e que isso representa 10 ou mais milhões por dia, é populismo puro. Vítor Bento
presidente da Associação Portuguesa de Bancos
Em relação à rendibilidade, sublinhou que "dizer que os bancos tiveram centenas ou milhares de milhões de lucros, e que isso representa 10 ou mais milhões por dia, é populismo puro - atiçando emoções e ofuscando a racionalidade - porque essas afirmações, sendo verdade, não são a verdade toda, nem a perceção que intencionalmente induzem é uma interpretação justa da realidade". Entende que "o que tem sentido económico e, portanto, relevância social, é a rendibilidade, ou seja, a relação dos lucros gerados com o capital investido na sua geração".

Na sua estimativa os bancos devem ter em 2023 a rendibilidade mais elevada da última década ou década e meia. Com os dados dos maiores bancos relativos ao 1º semestre, o ROE ter-se-á situado ligeiramente acima dos 13%. "É provável que, com o segundo semestre, ainda melhore. No entanto, se fizermos a média dos últimos 9 anos, desde 2015 (e para excluir as pesadas perdas de 2013 e 2014), o ROE foi de 3,6%; e a dos últimos 15 foi de 0,7%", disse Vítor Bento.

Custo de capital

Mas "com um custo de capital - remuneração mínima esperada pelos investidores no sector - andará nos 12%, dadas as recentes subidas de taxas de juro, estas remunerações de capital no tempo longo não têm sido atrativas para captar investimento. E, sem capacidade de atrair investimento, o sector não poderá crescer e sem o seu crescimento, fica afetada a capacidade de financiamento do desenvolvimento da economia e de desenvolvimento qualitativo da atividade", considera Vítor Bento.

Em relação à recorrente invocação de que os bancos foram salvos com o dinheiro dos contribuintes, Vítor Bento sublinha que os "bancos supostamente salvos, ou seja, onde os contribuintes gastaram perto de 20 mil milhões, desapareceram todos - BPN, BPP, BANIF e BES - e os seus acionistas, bem como alguns credores, perderam o capital neles investido. O que os contribuintes salvaram foram os seus depositantes, sobre quem teriam recaído as perdas não cobertas pelo capital dos acionistas e de alguns credores qualificados".

Abordou ainda os comentários, também recorrentes, sobre abusos comportamentais dos bancos. O relatório do Banco de Portugal sobre reclamações relativas ao primeiro semestre de 2023 dizia que recebeu 15 833 reclamações, mais 25% da média mensal, face ao ano anterior. Segundo Vítor Bento, "o que a comunicação social se esqueceu de referir, apesar de isso ser muito importante, é que apenas em 1.5% das reclamações encerradas foram identificados indícios de infração, ou que, ao invés, não foram encontrados indícios em 98.5%". Sublinhou que em 43.1% dos casos reclamados, "a situação que motivou a reclamação foi solucionada pela instituição, apesar de não existirem indícios de infração".
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