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Banca não é serviço público gratuito

Fernando Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, considera num texto sobre o futuro da banca que as condições de exploração do setor bancário merecem ainda preocupação.

17 de Outubro de 2019 às 12:30
Miguel Baltazar
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No final de 2018, os indicadores do nosso sistema bancário situavam-se, em termos genéricos, na média europeia. A recuperação e a renovação da banca foram marcantes. Os nossos bancos estão de facto, muito mais capitalizados, o que lhes permite absorver perdas, mais sólidos, mais eficientes, mais rentáveis (embora com rentabilidade abaixo do custo de capital). Ao mesmo tempo, vêm desenvolvendo modelos de negócio ajustados às novas realidades e procedendo às exigências e oportunidades abertas pela tecnologia digital. E, quer a governação, quer a política e as práticas de gestão de riscos têm sido muito aprofundadas e reforçadas. O setor está mais resiliente e mais bem preparado.

As condições de exploração do setor merecem ainda preocupação

A procura (solvente) é inferior à capacidade da banca nacional para financiar a economia, os cidadãos e os institucionais. O excesso de liquidez existente tem dificuldades de encontrar colocação com remuneração razoável. A margem financeira está esmagada pela política de baixas taxas de juro e a fonte complementar de receitas - as comissões por serviços - vive sob pressão, devido a, em grande medida, erradamente se assimilarem os serviços bancários a serviços públicos gratuitos, quando a atividade bancária é uma atividade económica e concorrencial como as outras.

Proclama-se a redução de custos como essencial (e é-o), mas ao mesmo tempo surgem custos acrescidos para responder às exigências regulatórias, de supervisão e de resolução, para suportarem as reestruturações em curso, designadamente para indemnizar os trabalhadores dispensados, para reforçar a formação e a requalificação dos empregados, para realizar os investimentos em digitalização e modernização indispensáveis.

Repare-se que o rácio cost-to-income médio da banca nacional é, em cerca de 10%, melhor do que o da média da Euro Área.

Para onde irá e como irá a banca?

Compreender a realidade e atuar com lucidez e atempadamente são determinantes para o fortalecimento do sistema bancário.

O futuro a médio prazo do setor bancário tem como principais condicionantes:

O cliente, as suas necessidades e expectativas, os seus comportamentos e preferências;
A inovação tecnológica, de ritmo avassalador, a capacidade de absorver os seus avanços e de reinvenção; comportamentos e preferências;
A concorrência, com enfoque nos novos players, externos e internos ao setor;
A envolvente política, geopolítica e económica (guerra comercial e tecnológica EUA-China, Brexit, tensões no Médio Oriente e outras, preço do petróleo);
A regulação e a supervisão, cuja eficiência, recalibragem e estabilização se exigem cada vez mais.

Olhando o futuro num horizonte temporal mais próximo, surgem como principais focos de atuação e desafios os seguintes:

Aprofundamento da gestão relacional com os clientes, foco central da atividade bancária;
Financiamento do crescimento económico gerador de prosperidade;
Cumprimento do quadro regulatório que vigora, incluindo os novos requisitos que vão sendo impostos, como os MREL;
Reforço da rentabilidade, visando o fortalecimento dos bancos e a motivação dos investidores do setor, com uma justa remuneração;
Aceleração dos avanços da transformação digital e do tratamento de dados e atenção máxima à cibersegurança;
Aprofundamento da governance, incluindo os temas comportamentais;
Soluções de resposta proativa à concorrência de novos players;
Mobilização e estímulo de todos os trabalhadores bancários, para compreender e agir correta e eficazmente na nova era digital, o que passa pela sua requalificação e sobrequalificação e pela atração de talento;
Contribuição ativa do setor em relação às preocupações ambientais e sociais, nomeadamente através das finanças sustentáveis.

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