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"Em 2020 e anos seguintes, o setor bancário em Portugal, estará sujeito às consequências de uma grave crise económica desta feita devido à pandemia covid-19. A recessão económica no Mundo é inevitável", escrevem Nuno Cassola, Jorge Braga de Macedo e Samuel da Rocha Lopes em "Por onde vai a Banca em Portugal?". A este cenário juntam-se as alterações significativas que a prestação dos serviços financeiros está sofrer provocadas pela inovação tecnológica, os desenvolvimentos no enquadramento macrofinanceiro e regulamentar, a mudança de comportamento dos consumidores, a entrada de novos intervenientes no sistema financeiro, a melhoria da rentabilidade, adaptação aos novos modelos de negócio, regulação e recuperação da reputação.
É preciso não esquecer que o processo de reestruturação do sistema bancário português tem sido longo e consumiu esforços durante quase uma década, com a redução da alavancagem de balanço através de um perfil de financiamento equilibrado, que se encontra refletido no seu rácio de transformação, que passou de 96,1% em 2015 para 84,6% no segundo trimestre de 2020, o reforço dos níveis de capitalização, em que o rácio de capital Tier1 passou de 7,4% em 2010 para 14,6% no 2º trimestre de 2019, e a redução de ativos não produtivos e dos custos operacionais, esta de uma forma intensa.
Se a continuidade do negócio foi assegurada nas primeiras semanas de pandemia, há outros riscos operacionais que se mantêm como os ataques cibernéticos, as fraudes financeiras, que tiveram alguns picos durante as semanas de confinamento. Com a crise económica o número de pedidos de crédito vai aumentar o que gera pressão nas equipas de análise e avaliação de risco de crédito.
Sólidos e capitalizados
Mas como se assinala em "Por onde vai a Banca em Portugal?", "a própria classificação contabilística e prudencial das operações de crédito aumentará o risco legal. A regulamentação e, principalmente, as orientações práticas e pró-ativas dos supervisores bancários (também eles a funcionar em planos de contingência) têm de ser claras e objetivas na atribuição de alguma flexibilidade no que respeita à classificação dos ativos objeto de moratórias". A existência e a mitigação destes riscos implicam investimentos mais volumosos e urgentes que se somam aos exigidos pela digitalização e fragmentação da cadeia de valor.
Como refere Fernando Faria de Oliveira, "os bancos estão mais sólidos e capitalizados (rácio de CET1 de 14,6% vs. 7,8% em 2011), não têm problemas de liquidez". Acrescenta que "os sistemas bancários dos Estados membros da União Europeia foram diferentemente afetados e a dimensão das medidas nacionais adotadas foi também muito distinta. Apesar do Programa Europeu considerar, nos apoios a conceder, benefícios aos Estados Membros mais vulneráveis na sua situação macroeconómica e de finanças públicas, é certo que se registará um agravamento da divergência que já existia. Os bancos serão chave na recuperação e revitalização da economia, mas a sua capacidade de resposta a esta nova crise estará muito dependente da dimensão e duração da pandemia, que entrou agora numa segunda vaga, e dos efeitos que os estímulos públicos, sobretudo de âmbito europeu, produzirão na retoma económica".
Na estrutura de financiamento, os bancos em Portugal demonstram uma taxa mais elevada de depósitos a prazo, que é superior à média da União Europeia que são mais estáveis do que os depósitos das empresas não-financeiras. No entanto, as potenciais descidas de ratings, a concorrência pelos depósitos cada vez mais voláteis, podem gerar problemas de liquidez. "A concessão de moratórias nos contratos de crédito altera a programação de liquidez e reduz significativamente a entrada de fundos nos bancos (por ausência de pagamentos de capital e mesmo juros, por parte dos devedores), aumentando os prazos residuais dos contratos, o que também contribui para a degradação dos rácios de liquidez", escreve-se em "Por onde vai a Banca em Portugal?".
Crédito e solvabilidade
O risco de crédito e solvabilidade são os maiores riscos para os bancos em Portugal dizem Nuno Cassola, Jorge Braga de Macedo e Samuel da Rocha Lopes. "Se por um lado os rácios de solvabilidade estão mais sólidos e mais elevados (…) os níveis de rendibilidade continuam extremamente baixos. Os custos de capital vão subir novamente. Ao mesmo tempo as margens de intermediação são e continuarão a ser muito reduzidas. Os bancos em Portugal são essencialmente de retalho, pelo que não dispõem de grandes alternativas de geração de receitas, ao contrário dos grandes bancos internacionais com maior flexibilidade", refere-se em "Por onde vai a Banca em Portugal?". Por outro lado, a banca de retalho tem alguma dependência em relação ao emprego e à sua evolução, com o desemprego a agravar-se em situações de maior crise económica.
Um dos fantasmas que a crise acena é dos NPL (non-performing loans) em que a banca portuguesa tem uma amarga mas bem sucedida experiência. Em meados de 2016, os NPL representavam quase 18% do total de empréstimos bancários, tendo atingido valores superiores a 30% no setor da construção e obras públicas. Entre 2010 e 2018, os bancos em Portugal registaram mais 46,5 mil milhões de euros de imparidades, das quais 34,9 mil milhões para crédito. "O total de imparidades registadas ao longo desta década tem uma ordem de grandeza de aproximadamente ¼ do PIB Português", referiu Ana Paula Serra, administradora do banco de Portugal em fevereiro de 2020. No segundo trimestre de 2020 o rácio de NPL era 5.5%.
É preciso não esquecer que o processo de reestruturação do sistema bancário português tem sido longo e consumiu esforços durante quase uma década, com a redução da alavancagem de balanço através de um perfil de financiamento equilibrado, que se encontra refletido no seu rácio de transformação, que passou de 96,1% em 2015 para 84,6% no segundo trimestre de 2020, o reforço dos níveis de capitalização, em que o rácio de capital Tier1 passou de 7,4% em 2010 para 14,6% no 2º trimestre de 2019, e a redução de ativos não produtivos e dos custos operacionais, esta de uma forma intensa.
Se a continuidade do negócio foi assegurada nas primeiras semanas de pandemia, há outros riscos operacionais que se mantêm como os ataques cibernéticos, as fraudes financeiras, que tiveram alguns picos durante as semanas de confinamento. Com a crise económica o número de pedidos de crédito vai aumentar o que gera pressão nas equipas de análise e avaliação de risco de crédito.
Sólidos e capitalizados
Mas como se assinala em "Por onde vai a Banca em Portugal?", "a própria classificação contabilística e prudencial das operações de crédito aumentará o risco legal. A regulamentação e, principalmente, as orientações práticas e pró-ativas dos supervisores bancários (também eles a funcionar em planos de contingência) têm de ser claras e objetivas na atribuição de alguma flexibilidade no que respeita à classificação dos ativos objeto de moratórias". A existência e a mitigação destes riscos implicam investimentos mais volumosos e urgentes que se somam aos exigidos pela digitalização e fragmentação da cadeia de valor.
Como refere Fernando Faria de Oliveira, "os bancos estão mais sólidos e capitalizados (rácio de CET1 de 14,6% vs. 7,8% em 2011), não têm problemas de liquidez". Acrescenta que "os sistemas bancários dos Estados membros da União Europeia foram diferentemente afetados e a dimensão das medidas nacionais adotadas foi também muito distinta. Apesar do Programa Europeu considerar, nos apoios a conceder, benefícios aos Estados Membros mais vulneráveis na sua situação macroeconómica e de finanças públicas, é certo que se registará um agravamento da divergência que já existia. Os bancos serão chave na recuperação e revitalização da economia, mas a sua capacidade de resposta a esta nova crise estará muito dependente da dimensão e duração da pandemia, que entrou agora numa segunda vaga, e dos efeitos que os estímulos públicos, sobretudo de âmbito europeu, produzirão na retoma económica".
Na estrutura de financiamento, os bancos em Portugal demonstram uma taxa mais elevada de depósitos a prazo, que é superior à média da União Europeia que são mais estáveis do que os depósitos das empresas não-financeiras. No entanto, as potenciais descidas de ratings, a concorrência pelos depósitos cada vez mais voláteis, podem gerar problemas de liquidez. "A concessão de moratórias nos contratos de crédito altera a programação de liquidez e reduz significativamente a entrada de fundos nos bancos (por ausência de pagamentos de capital e mesmo juros, por parte dos devedores), aumentando os prazos residuais dos contratos, o que também contribui para a degradação dos rácios de liquidez", escreve-se em "Por onde vai a Banca em Portugal?".
Crédito e solvabilidade
O risco de crédito e solvabilidade são os maiores riscos para os bancos em Portugal dizem Nuno Cassola, Jorge Braga de Macedo e Samuel da Rocha Lopes. "Se por um lado os rácios de solvabilidade estão mais sólidos e mais elevados (…) os níveis de rendibilidade continuam extremamente baixos. Os custos de capital vão subir novamente. Ao mesmo tempo as margens de intermediação são e continuarão a ser muito reduzidas. Os bancos em Portugal são essencialmente de retalho, pelo que não dispõem de grandes alternativas de geração de receitas, ao contrário dos grandes bancos internacionais com maior flexibilidade", refere-se em "Por onde vai a Banca em Portugal?". Por outro lado, a banca de retalho tem alguma dependência em relação ao emprego e à sua evolução, com o desemprego a agravar-se em situações de maior crise económica.
Um dos fantasmas que a crise acena é dos NPL (non-performing loans) em que a banca portuguesa tem uma amarga mas bem sucedida experiência. Em meados de 2016, os NPL representavam quase 18% do total de empréstimos bancários, tendo atingido valores superiores a 30% no setor da construção e obras públicas. Entre 2010 e 2018, os bancos em Portugal registaram mais 46,5 mil milhões de euros de imparidades, das quais 34,9 mil milhões para crédito. "O total de imparidades registadas ao longo desta década tem uma ordem de grandeza de aproximadamente ¼ do PIB Português", referiu Ana Paula Serra, administradora do banco de Portugal em fevereiro de 2020. No segundo trimestre de 2020 o rácio de NPL era 5.5%.