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Apoio às famílias está na agenda dos bancos

A medida excecional de fixação temporária da prestação de contratos de crédito à habitação foi particularmente bem desenhada e foi implementada no momento oportuno para aliviar o esforço das famílias.

Filipe S. Fernandes 23 de Novembro de 2023 às 16:00
Duarte Roriz
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Foto em cima: O debate, "Para onde caminha o setor financeiro?", contou com Francisco Barbeira, Luís Ribeiro, Miguel Maya, Paulo Macedo e Pedro Castro e Almeida. A moderação foi de Diana Ramos, diretora do Negócios.


A fixação temporária da prestação de contratos de crédito à habitação está a ser implementada pela banca "de uma forma muito célere e não há nenhum impedimento em que não possa ser implementada no futuro, se for necessária", considerou Miguel Maya, presidente da Comissão Executiva do Millennium BCP. Têm cerca de dois mil pedidos e estão a receber cerca de 50 a 100 por dia. "Temos um processo operacionalizado e sustentado em muito em automação, estamos que um grau de implementação elevadíssimo, tal como aconteceu nas moratórias".

"Para apoiar as famílias adotamos todas as medidas que foram colocadas em cima da mesa e o banco preparou-se para facilitar muito a chegada dos clientes aos bancos sobretudo através dos canais digitais", afirmou Francisco Barbeira, administrador e membro da Comissão Executiva do BPI. Adiantou que, "nestes últimos doze meses, as casas entregues ao BPI em dação de pagamento foram zero, e, nos últimos três anos, foram 20".

Para Luís Ribeiro, administrador e membro da Comissão Executiva do Novo Banco, referiu que em relação à recente medida governamental da fixação da prestação têm tido cerca de 100 pedidos por dia e contam com uma equipa especializada dedicada a esta área. Mas sublinha que, desde o início do ano, "já renegociamos cerca de 17 mil créditos à habitação, o que é muito significativo. Muitas destas negociações são comerciais, com renegociação de taxa que beneficia os consumidores. Temos 1400 créditos com acesso à bonificação que, em média, é de 34 euros por mês".

A incógnita da taxa de juro

Por sua vez, Paulo Macedo, presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos (CGD), deu conta de que as entradas de pedidos começaram com 50 pedidos por dia e hoje devem andar nos 80. Mas "o banco também tem uma oferta de taxa fixa a dois anos, que para muitas pessoas é mais interessante. A dívida média na CGD é 64 mil euros e a prestação média é de 321 euros, aumento e afeta o rendimento disponível das famílias".

"O mercado das taxas a dois anos está não chega aos 3,5%, e a taxa a cinco anos já está nos 3%", alertou Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Portugal. Na sua opinião, a expectativa de uma queda da taxa de juros pode explicar a baixa adesão à medida de fixação da prestação. "Há várias variáveis: o nível de taxas de juros que podem descer mais rapidamente pela desaceleração da economia. Mas a variável mais importante é o nível de desemprego. Se subir ou ser a um ou dois pontos, será absorvida, mas se atingir os dois dígitos, mesmo com taxas de juro baixas, haverá um impacto", explicou Pedro Castro e Almeida.

A banca em busca dos novos talentos

"Vamos conseguir recrutar o talento e temos condições para pagar o que o mercado exige para atrair e reter talento nas áreas tecnológicas", considerou Miguel Maya, enquanto Francisco Barbeira, reconheceu que "a luta pelo talento é uma das maiores lutas atuais da banca". Mas esta busca não é exclusiva do sistema financeiro. "Hoje em dia a maior dificuldade que os nossos clientes empresariais nos reportam é a captura de talento", afirmou Luís Ribeiro. Confirma que "na banca precisamos de talento, mas diferente que tínhamos no passado. No Novo Banco estamos a refletir sobre a nossa relação com o mundo universitário e, tradicionalmente, os bancos patrocinavam cátedras ligadas ao cálculo financeiro, e à área financeira, hoje estamos mais na sustentabilidade e na digitalização, o que mostra também o caminho que a banca tem de fazer".

"Vamos conseguir recrutar o talento e temos condições para pagar o que o mercado exige para atrair e reter talento nas áreas tecnológicas", considerou Miguel Maya, referindo que o Millennium BCP recruta cerca de 100 pessoas por ano para estas áreas. Em relação à sua escassez considera que é um problema de oferta. Defende que deveria haver políticas públicas a curto e longo prazo para que o ensino superior qualificar mais jovens nestas áreas mais necessárias. "Devíamos estar a discutir como é que criamos incentivos para formar mais pessoas nas áreas das tecnologias e como é que conseguimos que essas pessoas fiquem em Portugal".

Reskilling e imagem

"Há falta de talento em toda a Europa nas áreas como as ligadas à tecnologia e é um mercado muito líquido porque as pessoas podem sair de Portugal e trabalhar na Suécia", acentuou Pedro Castro e Almeida. Com a velocidade de adoção de tecnologia por parte dos clientes deu-se uma transformação muito grande nas necessidades de talento dentro dos bancos. Passam a existir dois mundos. "Uma parte dos colaboradores do banco onde a rotação é muito baixa, na ordem de 1% e depois, nas áreas mais tecnológicas, temos níveis de saída da ordem dos 20 e 30% por ano", revela Pedro Castro e Almeida.

Francisco Barbeira salientou ainda o reskilling de talento que o seu banco está a fazer e deu como exemplo as áreas de risco, que vai crescer nos próximos anos, e a requalificação pode ser uma forma de suprir essas necessidades. "Fazemos um importante programa de reskilling em todas as faixas desde a administração, topo da gestão, gestão intermédia, para os gestores de conta, gerentes e assistentes comerciais. Tentamos desenvolver o talento", afirmou Paulo Macedo revelou que no próximo ano a CGD terá nos seus quadros 80% das pessoas licenciadas.

Na guerra pelo talento a banca debate-se com a capacidade de atração das novas gerações. Como referiu Luís Ribeiro, "o setor financeiro também tem de se colocar na linha da frente com mais inovação e capacidade de atrair talento. Deixar a imagem mais cinzenta e mostrar que um banco é uma tecnológica, está na linha da frente e qualquer experiência tem impacto um 1,5 milhões de clientes, como é caso do Novo Banco". Concluiu que "pode ser mais divertido estar num banco do que estar a bater código numa fintech que, depois, vai eventualmente experimentar, e, se resultar, ver-se-á o que acontece".
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