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A inovação, a digitalização e a sustentabilidade

A inovação e a digitalização estão entre os desafios da banca, mas também estão no centro da transformação do sistema económico, o que passa pela neutralidade carbónica e pela economia circular.

14 de Novembro de 2022 às 15:30
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, na edição do ano passado da Banca do Futuro. Duarte Roriz
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A banca portuguesa tem feito grandes investimentos em infraestruturas de tecnologias de informação e em programas de transformação digital para ajustar a estrutura operacional, automatizar processos, melhorar a relação com o cliente, potenciar a oferta de produtos e serviços, obter ganhos de eficiência, e aumentar a sua rentabilidade.

"O mobile banking já superou o online banking, as apps que os bancos foram obrigados a criar para satisfazer as necessidades dos clientes. Foi um elemento disruptivo na forma normal de funcionar dos bancos que permitiu fazer face ao desafio da rentabilidade porque cria mecanismos automatizados, computacionais, e gera mais negócio com menos custo. É isto que grande parte das fintech e dos neobanks faz", disse Manuel Requicha Ferreira, sócio da área de Bancário & Financeiro e Mercado de Capitais da Cuatrecasas.

Mas a digitalização tem de contar com os fenómenos sociais de infoexcluídos e Manuel Requicha Ferreira referiu o movimento Digital Purpose: "Não se pode substituir de repente as pessoas por máquinas quando há parte da sociedade que não consegue acompanhar este movimento e não se pode deixar de fora parte da sociedade."

Mais ciberataques

O crescimento da digitalização e a sua estrutura em rede multiplicou as ligações e os pontos de entrada como os canais digitais para clientes, para o teletrabalho e a maior utilização de prestadores de serviços nas áreas de tecnologia de informação.

Como assinalou Manuel Requicha Ferreira, os ciberataques aumentaram exponencialmente, até por razões geopolíticas, e as suas capacidades para atingirem os alvos, em que se incluem empresas tecnológicas, e provocar danos são hoje uma realidade. No caso das instituições financeiras, os ciberataques, se forem efetivos, podem atingir os seus ativos e os dos seus clientes e pôr em causa a relação de fidúcia entre o banco e os clientes.

João Fonseca, consulting banking lead partner da Deloitte, também refere ainda que, hoje, a ameaça é "a fraude digital, já que quase não se assaltam bancos". Dai a importância da resiliência cibernética, que é um elemento crítico na atividade bancária.

Aos desafios da transição climática vieram juntar-se, por razões geopolíticas emergentes da invasão da Ucrânia pela Rússia, a necessidade da redução da dependência energética. Este caminho implica uma transformação radical da economia, das empresas, das vidas, e depende muito da capacidade de inovação digital, tecnológica, e de processos, e vai exigir investimentos colossais. O Banco Europeu de Investimento estimou que, para atingir o objetivo de reduzir em 55% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, a União Europeia vai necessitar de investimentos adicionais equivalentes a 2,1% do PIB por ano.

Como assinalou Álvaro Nascimento, administrador não executivo da Nors, "os bancos que não fizerem o benchmark das questões climáticas, tendo em conta as metas ambientais, vão estar fora do mercado". Acrescentou que "os bancos são instrumentos fundamentais para executar determinados tipos de políticos, e, se de facto existe uma preocupação global com as alterações climáticas e com a transição energética para fontes alternativas, por uma questão de ética, os bancos deverão desenhar políticas que sejam adequadas a essas mudanças, mas a partir dos seus princípios de responsabilidade social. Os bancos não vão ser neutrais nas questões ambientais". Por outro lado, estes investimentos na sustentabilidade exigem dos bancos uma boa avaliação dos riscos, informação que esteja disponível de boa qualidade, comparável e sem custos excessivos.

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