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1. Digitalização da banca de consumo
A banca de retalho (consumidores, depositantes e PME) vai sofrer uma enorme evolução tecnológica, que será acompanhada de crescente intensidade concorrencial e de entrada de novos players (fintechs e não só). A entrada em cena de agregadores, impulsionada pela entrada em vigor da PSD2, vai introduzir um elemento de intermediação entre os bancos e os seus clientes (como vai sucedendo nos seguros), com o inevitável impacto nas margens e de comoditização do setor. Sistemas de inteligência artificial terão um papel crescente na avaliação do risco, quer na concessão, quer no acompanhamento do crédito (aqui também nas empresas).
2. Reforço da concentração
Os players que se foquem na banca de consumo vão ter de investir fortemente em tecnologia, muitas vezes com a dificuldade acrescida de estarem dependentes de sistemas informáticos obsoletos e de difícil evolução. Para se manterem competitivos e evitarem ser totalmente intermediados, os bancos terão de realizar fortes investimentos que só com escala relevante e margens adequadas serão viabilizados. Isso vai obrigar alguns players a sair deste segmento, ou a ser integrados em instituições maiores. A médio prazo, iremos assistir à emergência de players europeus relevantes ao nível da banca digital.
3. Implosão da "bolha" fintech
Este fenómeno já é neste momento visível ao nível das avaliações praticadas pelos venture capitalists, mas será acentuada pela próxima recessão, na qual assistiremos a um grande número de falências de start-ups financeiras. Em todos os ciclos de inovação dá-se um número exagerado de entradas de novos players, cujas perdas são suportadas por investidores com mais capital disponível que aquele que conseguem aplicar. Dentro de uma década a esmagadora maioria dessas start-ups terá, simplesmente, desaparecido. Numa percentagem relevante dos casos as suas inovações terão de alguma maneira sobrevivido, por cópia ou aquisição por parte de alguns bancos. Um muito pequeno número ter-se-á transformado em players muito relevantes do setor ao nível europeu ou global.
4. Reforço do valor das marcas e da reputação
Num mundo mais digital, despersonalizado e intermediado, os bancos de consumo correm o risco de serem totalmente comoditizados, como hoje começa a suceder nos seguros. Porém, muitos consumidores (no lado dos depósitos e da gestão de poupanças), sobretudo após assistirem ao falhanço de muitas fintechs, continuarão a valorizar, sobretudo, a segurança. Por isso, muitos bancos irão fazer forte aposta em manter políticas de risco rigorosas, suportadas por funções de risco eficazes e tecnologicamente dotadas, acompanhadas por políticas de relacionamento transparente e ética e socialmente responsável (área muito sensível aos clientes mais jovens). Falhar neste domínio vai implicar maior dificuldade em sobreviver no contexto acima referido.
5. Transformação dos modelos de distribuição e de recrutamento
O bancário do futuro não vai pagar cheques ao balcão. Os canais de distribuição digitais terão de ser acompanhados por centros de apoio ao cliente para efeitos de vendas e de eficácia no apoio à resolução de problemas. Estes assumirão a forma de chatbots, call centres reservados a situações difíceis e de lojas físicas, tripuladas por pessoal tecnologicamente mais sofisticado que o atual (em temas financeiros e tecnológicos) como pontos de vendas especializados. O número dessas lojas continuará a decrescer.