- Partilhar artigo
- ...
A colaboração está a tornar-se mainstream entre o ecossistema de fintech e o sistema financeiro, com estes players maduros a evoluírem para modelos de cocriação para chegar mais rapidamente às inovações, concentrando-se no core business. Mas "ainda há um caminho a fazer em termos de processo de como colaborar com startups, nomeadamente no procurement, definição de casos de uso, como testar, como passar para produção em larga escala, business models, cibersegurança", referiu João Freire de Andrade, cofundador e presidente da Portugal Fintech.
Exemplificou que há coisas basilares e muito iniciais como abrir uma conta de cliente, que durante a pandemia se extremou como tendência digital e que é um processo com uma grande carga regulatória. "Há muitas startups a fazer um trabalho nesta área em Portugal, como a Loqr, que trabalha com muitos players do setor", disse João Freire de Andrade. Mas já existem hoje fintech mais ligadas à área da distribuição, do crédito, nos pagamentos, na deteção de fraudes em pagamentos, "são fintech que atuam no core de alguns pontos da cadeia de valor e não apenas como satélites".
Sem cultura cloud
João Freire de Andrade salientou ainda que um dos problemas deste ecossistema financeiro é que "há bancos que ou não têm infraestrutura preparada para conseguir colaborar com estas startups ou têm sistemas muito antigos, monolíticos, que não são modulares. Por outro lado, há instituições que não têm uma cultura cloud, API driven, o que dificulta o trabalho dos bancos, porque implica um projeto integrado com equipas e a níveis muito infraestruturais do banco, que também estão muito sobrecarregadas pelo nosso regulador".
A digitalização e a colaboração das startups com o sistema financeiro passam pela regulação, mas também pelas questões climáticas, o paradigma ESG, as criptomoedas com acordo sobre Regulamento de Mercados de Criptoativos europeu (MiCA) e a evolução Central Bank Digital Currency (CBDC), que vão obrigar os bancos a adquirir novas competências e a gerir melhor os dados, "um oceano azul para as fintech apresentarem soluções".
O blockchain como tecnologia tem um grande potencial observou João Freire de Andrade, como a tokenização de ativos imobiliários, financeiros mas terá de ser um movimento de ecossistema. Não é suficiente que haja um interveniente do mercado, mas, por exemplo, "uma Euronext poderia, que tem vários mercados, mas implicam investimentos muito grandes de infraestrutura". Os mercados que não são centralizados, como o imobiliário, poderiam ter vantagens, e "há vários passos que estão a ser dados".
Alguns dos bancos clássicos pediram a licença de AML 5 mas, no que se refere às criptomoedas, "os bancos ainda estão a deixar a poeira assentar, porque existem grandes preocupações com a lavagem de dinheiro, e, por outro lado, é um ativo em que ainda há dificuldade de ter transparência na forma como a pessoa ganhou o dinheiro, e por isso os bancos têm tido uma atitude defensiva".