Outros sites Medialivre
Notícia

Regulação e supervisão mais incisivas no pós-pandemia

Esta crise irá testar a qualidade e a suficiência dos mecanismos de supervisão e certamente existirão falhas a serem colmatadas no pós-crise, refere Gonçalo Quintino, partner da Deloitte.

07 de Janeiro de 2021 às 15:00
Paulo Costa Martins, Cuatrecasas: os bancos estão mais bem preparados.
  • Partilhar artigo
  • ...
"O nível de regulação aumentou significativamente nos últimos anos e os bancos estão hoje bastante mais bem preparados do que estavam nas crises financeiras anteriores. Esta melhoria é visível em vários aspetos, nomeadamente nos seus rácios de capital e de liquidez. Verificou-se, igualmente, um reforço dos poderes das autoridades europeias de supervisão", considera Paulo Costa Martins, sócio da Cuatrecasas, área de Bancário, Financeiro e Mercado de Capitais.

Diptes Bhimjee, professor auxiliar convidado do ISCTE, admite o reforço mútuo e até a convergência da supervisão comportamental e prudencial para a adoção de práticas bancárias sustentáveis, para impedir que choques negativos temporários possam vir a revelar fragilidades que não estariam plenamente visíveis na fase anterior ascendente do ciclo económico e para promover uma maior literacia dos clientes bancários.

"Em última análise, a tomada de decisões mais informadas contribui decisivamente para a minimização dos riscos no sistema bancário e para preservar a confiança dos clientes bancários nas instituições de crédito com vista ao estabelecimento de uma relação bancária sustentável de longo prazo", refere Diptes Bhimjee.

Crises e fragilidades

Na sua opinião, a regulação e a supervisão vão tornar-se mais incisivas no pós-pandemia e que "este reforço da regulação e supervisão bancária tem sido um instrumento regulatório (prudencial) importantíssimo para dirimir/mitigar as oscilações dos ciclos económicos desde a Grande Recessão de 2008".

Para Diptes Bhimjee, do ponto de vista da envolvente externa, estes instrumentos visam, em última análise, estabilizar a tradicional volatilidade associada à trajetória dos ciclos económico-financeiros, na medida em que a volatilidade passa a ser menor em redor da tendência de longo prazo. "Se, por um lado, a correta implementação destes novos instrumentos prudenciais contribui para mitigar e dirimir as repercussões negativas dos ciclos económicos, é importante referir que isso tem um custo económico para a banca. Do ponto de vista da envolvente interna, é igualmente importante que a banca do futuro esteja ela própria preparada para modelos de negócio cada vez mais sofisticados do ponto de vista tecnológico, o que obriga a um reforço da supervisão de risco interna ao nível dos balanços bancários", conclui Diptes Bhimjee

Recentemente o vice-governador do Banco de Portugal, Luís Máximo dos Santos, admitiu que com a crise a litigiosidade dos clientes com os bancos vai aumentar. Por isso Gonçalo Quintino, partner da Deloitte, sublinha que "a supervisão deve contribuir para a prevenção dos litígios, transferindo-os da esfera consumidor-instituição para a dinâmica supervisor-instituição. As crises tendem a tornar mais claras as fragilidades dos produtos e serviços financeiros, nomeadamente quando estão em causa perdas e custos não antevistos pelos consumidores e investidores. Nesse sentido, esta crise irá testar a qualidade e suficiência dos mecanismos de supervisão e certamente existirão falhas a serem colmatadas no pós-crise".
Mais notícias