A gestão das cadeias logísticas tem sido um fator determinante na evolução da organização da economia nacional. Dado o contexto periférico de Portugal, nomeadamente face às economias do espaço comum europeu, a logística surge como um importante vetor de competitividade para as empresas, quer na vertente da importação eficiente de fatores de produção, quer na ligação das exportações de forma eficaz com os mercados clientes. De acordo com a APLOG – Associação Portuguesa de Logística, em 2021 a logística externa quantificável representou cerca de 14,7 mil milhões de euros de volume de faturação, 5,7 % do valor acrescentado bruto da economia nacional, envolvendo mais de 11.000 empresas e 2,8% do emprego total nacional.
Setor da Logística impactado de forma permanente e significativa.
No entanto, as cadeias de abastecimento foram afetadas de forma significativa e permanente pelos acontecimentos dos últimos dois anos, segundo Raul Magalhães, presidente da APLOG, em pelo menos em três aspetos fundamentais: em primeiro lugar, refere, "a gestão da cadeia de abastecimento passou a ser um tema de ‘Board Room’ – da agenda dos conselhos de administração – dada a importância e a necessidade de agilidade e decisões rápidas".
Em segundo lugar, "as cadeias de abastecimento passaram a ter um papel estratégico na geopolítica, veja-se o uso que a Rússia fez com o gás, mas também a constatação da dependência critica dos países ocidentais em artigos de natureza básica para a saúde e para o funcionamento das suas economias – isso assustou muita gente". Também do ponto de vista do pensamento económico, e segundo Raul Magalhães, estão a ocorrer alterações significativas, com novos modelos a serem desenvolvidos, com a componente do impacto social a ser considerado na evolução da tradicional visão liberal, que estava puramente centrada na eficiência dos mercados e das empresas.
Maior equilíbrio entre global e local
Para o presidente da APLOG, estes aspetos, e outros resultantes da economia de escassez em que vivemos, "estão a obrigar a uma profunda transformação no desenho e gestão das cadeias de abastecimento globais – um maior equilíbrio entre global e local, uma relevância muito maior de fatores de risco e de resiliência em ponderação com os custos, uma maior regulação e exigência dos Estados, a criação de reservas estratégicas em setores além da energia, a consideração cada vez mais importante dos impactos ambientais e da sustentabilidade, etc."
Já do ponto de vista mais operacional, o foco na experiência do cliente está presente na definição da estratégia das empresas de quase todos os setores económicos, incluindo a Logística.
Chegou a era do consumidor
Segundo Raul Magalhães, hoje, os consumidores estão "mais informados, mais conectados e mais exigentes". "A exposição a novos modelos de negócio e a preponderância dos canais digitais criaram grandes expectativas. Ganhar a confiança do consumidor implica um profundo conhecimento das suas motivações, e a capacidade de criar uma experiência distinta, personalizada e, sobretudo, que distinga o valor percebido do produto e incorpore a experiência acumulada nos múltiplos pontos de contacto do ciclo de vida do produto". O que obriga as empresas a desenvolverem modelos mais ágeis e com diversidade de opções, criando alternativas à oferta, mas também as leva a procurarem soluções eficientes que respondam às novas exigências do mercado e regulatórias.
Cibersegurança e capital humano são temas críticos
A APLOG é uma associação privada, nacional e sem fins lucrativos, constituída por profissionais, empresas e outras organizações com preocupações na área da gestão logística. A Associação tem como missão promover e contribuir para o estudo e desenvolvimento da logística e da gestão da cadeia de abastecimento em Portugal, e o seu impacto nas empresas e na competitividade do país.
Todos os anos organiza o seu Congresso, um evento de referência na comunidade logística portuguesa há mais de 20 anos, e que este ano decorreu a 11 e 12 de outubro, com mais de 300 participantes. Este ano foram abordados dois temas críticos na agenda atual das empresas: a gestão e atração do capital humano e a cibersegurança. Da salientar igualmente a atenção dada ao tema do contributo das start-ups para as cadeias de abastecimento e ao panorama dos investimentos nas Infraestruturas de Transportes, entre outros temas.
Para Raul Magalhães, os números de participantes e patrocinadores, assim como os resultados da avaliação do evento evidenciaram o sucesso do Congresso. "Conseguimos a participação de um conjunto de especialistas, quadros superiores e CEOs de empresas de diferentes setores de atividade mas com um propósito comum- debater e apontar caminhos para a implementação eficaz das novas tendências da logística e das cadeias de abastecimento", referiu.