Somos um país ligado ao mar por excelência, mas nem sempre soubemos tirar partido dos recursos que ele nos oferece. Isso mesmo nos diz Carla Olival, presidente da WISTA e consultora legal da European Mar, além de directora da Marítimos Manning no nosso país: "Portugal esteve, durante décadas, afastado da indústria, em termos internacionais. Nesse sentido, perdeu tempo, perdeu referências, perdeu entusiasmo."
Actualmente, o trabalho que vem a ser feito, tendo como núcleo central o MAR – Registo Internacional de Navios da Madeira, "permitiu queimar etapas e aproximar decisivamente o nosso país da realidade global". Assim sendo, Carla Olival considera que "devemos – e temos todas as condições para isso – integrar o pelotão da frente" nesta área em particular. Isto, apesar de existirem "algumas mudanças legislativas que devem ser feitas", considera a presidente da WISTA.
Sem desmerecer o trabalho feito pelos armadores portugueses, Carla Olival refere que "existe trabalho a fazer a nível de formação e treino, áreas nas quais a resposta que temos é ainda muito inferior àquela que deveria ser, não por falta de talento, de trabalho e de empenho de quem educa – nunca é demais elogiar o papel de instituições como a Escola Náutica –, mas porque as décadas de falta de contacto com a realidade internacional levaram, muitas vezes, à cristalização de processos e de métodos".
No entanto, Carla Olival mostra-se "profundamente optimista em relação ao papel que Portugal pode desempenhar". Na realidade, "o shipping, os portos e o investimento que neles vem a ser feito, infra-estrutural e em termos de gestão, a extensão da plataforma marítima e a aposta nas novas tecnologias associadas ao mar" são tudo "motivos para estarmos optimistas em relação ao futuro da economia azul."
Diz Carla Olival que "o shipping atrai indústrias", sendo também que "quando os armadores decidem registar um navio no nosso país, criam um link com Portugal". Ora, "essa ligação pode ser aproveitada pela banca e pela indústria dos seguros; pelas novas tecnologias, nomeadamente pelas start-ups; por empresas de ship management; pelas entidades formadoras; pelos jovens, que podem passar a ver no mar um espaço de empregabilidade". Contas feitas, "é difícil mesurar o peso do shipping na economia nacional, mas admito que será aquele que quisermos", diz esta responsável.
A modernização tecnológica anda ainda um pouco arredada desta indústria que é mais tradicional, "mas as regulamentações internacionais, nomeadamente em termos ambientais, têm forçado os armadores a mudar e a adoptarem novas soluções tecnológicas". Por outro lado, a crise que há cerca de dez anos se abateu sobre a indústria "tem forçado também a busca por soluções mais eficientes e elas muitas vezes vêm de agentes externos ao shipping", diz Carla Olival. A presidente da WISTA considera que "projectos como o Bluetech Accelerator, que vem a ser dinamizado pela DGPM, podem ser muito interessantes".
WISTA Portugal promove rede de partilha de experiências
A WISTA Portugal resulta, em primeiro lugar, do sucesso e da afirmação internacional do MAR – Registo Internacional de Navios da Madeira –, "que começou a abrir caminho para voltar a colocar a indústria do shipping, em Portugal, num patamar de competitividade global", explica a sua presidente Carla Olival.
Associada à vontade da WISTA "esteve a vontade de um grupo de mulheres portuguesas, que trabalham na área do shipping e outras relacionadas, em juntar-se e integrar um network global". Trata-se de uma rede de conhecimento e de partilha de experiências, sendo que "as duas vontades conjugadas resultaram no aparecimento da WISTA Portugal, associação que quer contribuir, sendo mais um instrumento, para integrar Portugal no universo global da indústria do shipping".
A WISTA trabalha ainda no sentido de mostrar "que o shipping e as áreas relacionadas não são um universo de homens; são um território que é também das mulheres" ao mesmo tempo que procura "trazer conhecimento para o país". A WISTA conta com os apoios quer do Ministério do Mar quer do Governo Regional da Madeira.