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Design e desenvolvimento: uma dupla dinâmica para lançar as sementes da inovação

Gonçalo Salazar Leite lembra às PME que inovar não tem de ser sinónimo de grandes projetos e investimentos.

13 de Dezembro de 2022 às 09:57
Gonçalo Salazar Leite, professor da Católica Business & Economics e consultor
Gonçalo Salazar Leite, professor da Católica Business & Economics e consultor
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A inovação está no centro de todos os debates, mas continua a não estar no ADN de muitas empresas. Inovar não passa só por grandes projetos, com grandes investimentos. Inovar também é trabalhar pequenas mudanças e pequenas melhorias no dia a dia. Mudanças que, na maior parte das vezes, podem ser feitas com a "prata da casa", se as empresas criarem o espaço e o tempo necessário para tentar e falhar. Tentar de novo e acertar.

 

A mensagem centrou a apresentação de Gonçalo Salazar Leite, professor da Católica Business & Economics e consultor, que no SAP Discovery Day partilhou um conjunto de constatações e recomendações com as PME presentes no evento. O orador lembrou às empresas na sala que inovar não pode ser só sinónimo de "encontrar dados na contabilidade para fazer uma candidatura ao SIFIDE", ou procurar fazer uma certificação em gestão de inovação, que vê como "uma fase superadiantada" no processo de inovação, que abraçada muito cedo é como "começar a casa pelo telhado e não pelas fundações".

 

Ambas as iniciativas são importantes, mas não devem ser um ponto de partida para inovar, nem são os ingredientes que no final do dia vão fazer a diferença, na forma de abordar a inovação e usá-la como ferramenta de transformação e crescimento.

 

Por onde começar então? "Design e desenvolvimento", defendeu. Uma receita que se pode adaptar a diferentes contextos, desafios e tamanhos e que tem sido seguida por empresas como a Apple. "O sucesso da empresa baseia-se nestes dois conceitos sobretudo, não necessariamente em investigação."

 

Na componente de design, o tema é design thinking, enquanto forma de pensar e de organizar para inovar. O conceito está associado a um conjunto de metodologias (como agile, scrum, clean, entre outras) que devem ser valorizadas pelas empresas, mas que devem servir sobretudo "para tirar o melhor das oportunidades" que encerram, acredita Gonçalo Leite.

 

"As quatro ou cinco fases que fazem parte de um processo de design thinking permitem fazer otimizações em qualquer área de uma empresa, desde o departamento de TI, ao suporte ao cliente, ou faturação, sem recorrer a grandes projetos." Ajudam as empresas a descobrirem os seus limites e a perceberem como podem otimizá-los. "É uma abordagem à inovação muito prática, que funciona por meio de ideação e iteração. Ir tentando, para ir acertando", caracterizou.

 

Dados em tempo real tornaram-se indispensáveis

Desenvolvimento é o segundo D considerado imprescindível para montar uma cultura de inovação na empresa. Não está necessariamente ligado à investigação, já se disse. Na apresentação, foi aliás referido como o processo de passar uma ideia da teoria à prática. Um processo que as empresas podem escolher fazer com parceiros, através de associações ou até contratando serviços externos, mas que não devem deixar de considerar fazer internamente.

 

"O desenvolvimento muitas vezes pode ser feito em casa, com a prata da casa, com a engenharia da casa. É só existir a procura dessas oportunidades [para pequenas otimizações] e isso resulta na identificação de limitações que, num contexto de design thinking, são problemas que vamos resolvendo com o desenvolvimento, alargando sucessivamente os nossos limites e expandindo os nossos horizontes", defendeu Gonçalo Leite.

 

Na prática, esta máxima pode ser aplicada a temas tão simples, mas nem por isso pouco relevantes, como encontrar formas de poupar na fatura elétrica, exemplificou-se. O tema tem sido pouco valorizado pela maior parte das empresas portuguesas, porque a fatura da luz não pesava mais de 5 a 10% nos custos. Muitas nem tinham, ou nem têm, esse peso contabilizado, mas a realidade mudou e a mudança veio para ficar.

 

Para agir sobre este, como sobre qualquer outro custo da empresa, e poder reduzi-lo ou aumentar receitas, é preciso conhecê-lo. Ter dados. "É preciso informação recolhida não para um Excel, mas para uma ferramenta online, uma base de dados que permita ter acesso a dados em tempo real e que permita facilmente alterar processos em cima disso", defendeu Gonçalo Salazar Leite. "A informação tem de ser a fundação sobre a qual se podem construir processos, com liberdade e flexibilidade para a cada momento poderem ser alterados se for preciso fazê-lo, em função das necessidades do mercado ou da empresa."

 

Como também sublinhou o orador, os dados hoje são fundamentais para uma "gestão de sobrevivência, mas também para uma gestão de prosperidade". São também a essência para atuar noutra vertente fundamental da modernização e transformação de processos: trabalhar o conceito de customer experience. Gonçalo Salazar Leite destacou que as empresas devem abordar o tema como uma nova forma de olhar para a relação com o cliente – baseada em dados – que vai muito além da capacidade de personalizar a relação com o cliente.

 

Traduz a necessidade de compreender o cliente em todos os momentos de interação, e é por isso que é mais uma forma de gerar valor a partir dos dados. Dados que têm de estar disponíveis para toda a organização, porque os vários ciclos de interação do cliente também tocam as diferentes áreas de cada organização.

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