O suporte tecnológico tornou-se um alicerce indispensável no apoio ao crescimento e expansão das empresas e um garante da fiabilidade dos mais diversos processos de negócio. Também pode ser um passaporte para chegar a novos mercados e a novos clientes e um facilitador na integração de realidades muito diversas, para as empresas que apostam no crescimento por aquisição.
Os diferentes cenários são o pano de fundo das estratégias tecnológicas da Bluepharma, da Inapa e da Rovensa, que no SAP Discovery Day contaram como têm as suas empresas conduzido investimentos tecnológicos nos últimos anos, que desafios encontraram nesse caminho e como estão a usar a inovação para continuar a preparar o futuro.
Num debate promovido pela Inetum, parceiro principal do evento e parceiro envolvido em projetos nas três empresas, Paulo Barradas, CEO da Bluepharma, recordou o início das operações da farmacêutica portuguesa em 2001, por aquisição de uma unidade da Bayer em Coimbra. "O nosso objetivo logo nessa altura era ter um sistema que respondesse à empresa como um todo. Queríamos investir na unidade preservando os valores que a Bayer nos tinha deixado, com objetivos prudentes, mas pensados para nos darem sustentabilidade no futuro e suporte para crescer."
Uma destas decisões foi manter a tecnologia SAP, que a farmacêutica alemã também utilizava. Uma decisão "arrojada" para uma empresa que à data tinha 58 colaboradores e uma faturação de 3 milhões de euros, recordou Paulo Barradas, numa altura em que o SAP era associado a grandes organizações. O processo de implementação teve as suas dificuldades, reconheceu, mas ajudou a empresa de Coimbra a alinhar-se com as oportunidades de negócio que queria explorar. "Na altura, a nossa necessidade era entrar nas cadeias internacionais de fornecimento e o SAP era uma via para isso, que nos permitia falar a mesma língua dos nossos interlocutores o que nos facilitaria a internalização", conta Paulo Barradas.
O objetivo cumpriu-se, a Bluepharma entrou nas ditas cadeias de valor internacionais. Expandiu o negócio da produção para o desenvolvimento de medicamentos genéricos, hoje comercializados para mais de 100 clientes em 40 países, e tornou-se num grupo com 20 empresas.
A aposta tecnológica feita antes, e entretanto modernizada para versões mais recentes da solução SAP, acabou por "se revelar a escolha certa para nos ajudar a crescer" e para acomodar "um conjunto de valores que sempre foram determinantes para nós", defendeu o responsável. Exemplos: acomodou a gestão das muitas parcerias que o grupo foi fazendo, ou a aposta na qualidade, materializada na certificação em diferentes normas internacionais. Como frisou Paulo Barradas em vários momentos da apresentação, a visão da Bluepharma para a área tecnológica passou sempre por tentar dar passos sólidos, que permitissem o crescimento futuro, mas consistentes e que mais à frente não tivessem de ser desfeitos para corrigir a trajetória. Vinte anos depois, o gestor diz que a lógica continua a ser a mesma, agora de olhos postos na indústria 4.0.
Crescer por aquisições e os desafios da integração
Em setores diferentes, as histórias da Inapa e da Rovensa (ex-SAPEC) aproximam-se no gatilho que desencadeou a necessidade de avançar com uma profunda transformação tecnológica nas organizações: o crescimento por aquisição para diversos países.
No caso da Inapa, o maior distribuidor europeu de papel, falamos hoje de um grupo com mais de 20 empresas em 10 países e uma faturação de mais de mil milhões de euros, que tem ganho escala com o apoio de várias aquisições. "Até há pouco tempo nunca houve uma estratégia de integração. As várias empresas continuavam a ter autonomia para gerir as suas operações, reportando à holding", explicou João Alvarinho, CIO. Em 2019, e já com operações em 10 países, o grupo mantinha em funcionamento seis ERP diferentes, três CRM e um conjunto de outras duplicações, que "não potenciam a integração do negócio nem a normalização de processos".
A Inapa avançou então para um programa de transformação digital, que João Alvarinho considera "ambicioso" e que começou pela operação na Alemanha, maior mercado da Inapa em termos de vendas (65%). Neste momento, quase 75% das operações da empresa já correm sobre SAP. A estratégia passou por escolher as soluções core para o grupo e definir um template de processos, também para todo o grupo, fazendo depois o roll out para cada país.
Já durante a implementação, uma das grandes preocupações tem sido manter os sistemas "SAP o mais normalizados possível", contou João Alvarinho, admitindo que nem sempre é fácil convencer cada país a alterar processos que estavam a funcionar bem. Outra aposta passou por manter o maior número possível de soluções no mesmo fabricante, para evitar problemas de interface ou integração.
O CIO revelou, no entanto, que um dos grandes desafios desta uniformização do sistema de informação de suporte ao negócio da Inapa está por concretizar, quando no próximo ano avançar a última fase do programa de transformação digital, na Turquia. "Será completamente diferente daquilo que temos experienciado até agora, porque temos estado sempre a fazer implementações em países da União Europeia, onde as normas e as questões fiscais são muito idênticas. Avançar na Turquia no próximo ano vai trazer-nos um conjunto de desafios muito maior."
Preparar crescimento futuro
O ano de 2019 também marcou o arranque de um projeto de transformação digital suportado em SAP S/4HANA na Rovensa. Nos últimos anos, o ritmo de novas aquisições na empresa aumentou e com ele a dispersão geográfica da operação e os desafios para manter uma visão integrada do negócio. "Esta estratgia de presença global e de crescimento foi uma das razões que nos levaram a procurar uma ferramenta que nos permitisse ter processos normalizados e que nos facilitasse as futuras incorporações, explicou Hélder Almeida.
"Acabámos por escolher SAP precisamente pelo facto de podermos ter uma solução que nos facilitasse a localização em novos países e nos acompanhasse nas alterações e obrigações de cada mercado", acrescentou o SAP IT Associate Director na empresa.
Hoje, 90% dos processos no grupo especialista em soluções para a nutrição e proteção de culturas já funcionam sobre SAP e estão agora a ser adotadas novas soluções para facilitar a operação de suporte a todos os países. Hélder Almeida contou que, na preparação do projeto, a Rovensa dedicou seis meses ao levantamento e comparação de processos, nas várias realidades que compõem hoje a empresa, presente em mais de 35 países, na EMEA, continente Americano, Ásia e Pacífico.
Foi também criada uma equipa interna com competências para dar suporte a todos estes países e, dentro desta, uma equipa de dados mestres. Esta última é responsável por garantir a manutenção desses dados mestres e assegurar que as 35 operações ligadas ao mesmo ERP possam trabalhar com o portefólio de mais de 19 mil produtos que a empresa coloca no mercado a nível mundial.
Do passado ao futuro, as três empresas de origem portuguesa que hoje realizam a maior parte do seu negócio fora do país frisaram que a aposta na inovação tecnológica é hoje encarada nas suas organizações como estratégica para crescer. Suporta o desenvolvimento de novos produtos, a modernização de processos e orienta os esforços para identificar novas oportunidades de negócio, deixando alguns detalhes dessa visão e da forma como está a ser posta em prática.
Olhar para a indústria 4.0 sem perder o foco na melhoria contínua
Nos últimos anos de uma história com duas décadas, a Bluepharma juntou o desenvolvimento à produção de medicamentos e foi aumentando a capacidade de gerar valor para o negócio. Como explicou Paulo Barradas, CEO e cofundador, hoje "preparamos tecnologias que licenciamos junto do mercado internacional para irmos surpreendendo o mercado com um portefólio sempre novo".
A trabalhar nestes desenvolvimentos, a empresa tem 150 cientistas, que executam uma das grandes linhas de ação da estratégia de inovação da empresa. Como também frisou o gestor, numa indústria como a farmacêutica, a inovação não é uma opção, é um imperativo, que a empresa segue, também procurando em permanência pontos de otimização nos seus processos de inovação. Tem-no feito recorrendo a diferentes ferramentas e processos, como o design thinking ou o Innovation Scoring da COTEC, ao mesmo tempo que se vai preparando para os desafios de uma indústria 4.0. Nessas linhas, a Bluepharma tem em marcha um plano de expansão da unidade de produção já em funcionamento e de criação de uma outra, que vai permitir alargar o negócio para a área dos injetáveis complexos (produção de vacinas) e desenvolver novos medicamentos, em áreas como o cancro.
Inovar para reinventar o negócio
A substituição progressiva do papel pelo digital tem ajudado a criar novos negócios e desafiado outros a reinventarem-se. A Inapa tem recorrido à inovação para compensar esta transição e explorar novas oportunidades de negócio. "Temos centrado a nossa inovação mais na área dos serviços para os nossos parceiros, por exemplo na área da logística", como explicou João Alvarinho, o CIO. "Estávamos dimensionados para um grande volume de entregas e de produto, numa indústria que tem contraído em quantidade, o que nos tem deixado algum espaço, tanto a nível de armazém, como de frota, para oferecer serviços nesta área."
A empresa tem também vindo a apostar em novos serviços digitais, para facilitar as relações de negócio com os parceiros e clientes, investido na área das embalagens (que ganhou expressão como o crescimento dos serviços de entregas em casa) e da comunicação visual e das impressoras de grandes formatos, como complementares à área do papel. Os dados são outra aposta, com o intuito de potenciar o valor de toda a informação que a companhia vai recolhendo junto de consumidores e fabricantes.
Estudar o mercado e integrar o negócio
A Rovensa conta hoje com 18 laboratórios e 15 centros de investigação, que já permitiram criar mais de 2.900 registos de produtos, à venda em mais de 80 países e responsáveis por 20% da faturação do grupo. Centrada nas soluções sustentáveis para a agricultura, tem vindo a reforçar a aposta na inovação, para poder melhorar a resposta às necessidades de uma agricultura com menor impacto ambiental.