Santa Maria da Feira, ao longo de mais de duas décadas, tem vindo a construir todo um capital que a posiciona como um território de cultura, particularmente no que às artes de rua diz respeito.
É certo que as manifestações culturais no espaço público poderiam conduzir-nos a uma história milenar, não fossem os testemunhos dos povoados proto-históricos e romanos presentes no Castro de Romariz, todo o legado medieval em torno do Castelo da Feira ou até a secular tradição de celebrar a gratidão ao mártir São Sebastião com a oferenda da fogaça da Feira, também ela um pão doce secular.
Não obstante todos os ativos deste território, desde o seu riquíssimo património natural e cultural, a pujança industrial e o caráter empreendedor das suas gentes, temos no incomensurável capital da cultura aquele que talvez seja o ativo mais dinâmico por força de um ecossistema cultural e criativo absolutamente autóctone.
O lastro de duas décadas de grandes eventos de Santa Maria da Feira permitiu qualificar todo um território, não só na vertente de formação e atração de públicos, mas sobretudo ao nível de oportunidades para a aquisição e aperfeiçoamento de competências nas diversas áreas da cadeia de valor das artes do espetáculo.
Não é ao acaso que de norte a sul deste país e até além-fronteiras, por exemplo se atendermos ao destacado caso de Rui Paixão e a sua passagem pelo Cirque du Soleil, havemos de encontrar sempre um artista ou uma companhia feirense quando se trata de conteúdos e eventos na área das artes de rua, particularmente nos ofícios das recriações históricas com enfoque no medievalismo, mas não só!
De acordo com os dados Pordata, o volume de negócios do setor cultural em Santa Maria da Feira descreveu um trajeto evolutivo, sem precedentes, particularmente na última década.
Em 2009, o valor situava-se nos 2,375 milhões de euros, tendo evoluído gradualmente até 2014 aos 3,820 milhões de euros e alcançado os 13,905 milhões de euros em 2018. Mas, mais do que a evolução notável ao nível de volume de negócios do setor cultural e criativo em Santa Maria da Feira, importa e é justo sublinhar que tal crescimento não implicou maior investimento financeiro por parte da autarquia local.
Aliás, se observarmos o trajeto do financiamento público das atividades culturais por parte do município de Santa Maria da Feira, de acordo com os dados do INE, observamos que o financiamento total em 2009 se situava nos 5,7 milhões de euros ao passo que em 2018, quase uma década depois, o financiamento público nesta área foi de 1,6 milhões de euros.
Os dados e os indicadores até à data são reveladores de um setor autossustentável, dinâmico e gerador de riqueza, que soube potenciar as oportunidades promovidas por marcas deste território tais como a Viagem Medieval, Imaginarius ou Perlim e tornar-se também um setor "exportador".
Importa agora repensarmos e adaptarmos o setor, fazendo-o renascer da crise pandémica "à prova de futuro", ancorado nos eixos da transição verde e da transição digital. Na certeza de que as qualidades essenciais são preexistentes e consistentes e que a cultura será sempre um agente de coesão social, elemento de atração de talento e motor de inovação económica.