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ROC 2019
Notícia

“Precisamos de bons gestores, boas leis, bons supervisores, boas universidades”

Em tempo de mudanças, o bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas fala de desafios e de novos caminhos que é necessário trilhar para ter um contexto legislativo mais forte e melhores formas de trabalhar.

17 de Setembro de 2019 às 13:09
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Com 1.493 revisores oficiais de contas inscritos, 919 dos quais em exercício efetivo, a Ordem dos Revisores Oficiais de Contas (OROC) tem procurado ao longo de mais de 40 anos estar ao lado dos profissionais em todas as mudanças no contexto da atividade económica e financeira, e é aqui que se quer manter para enfrentar os novos desafios que se adivinham. José Rodrigues de Jesus, bastonário da OROC, dá como certos novos caminhos para a profissão e refirma a intenção de ajudar os profissionais a ajustarem-se aos novos contextos para que possam prestar o melhor serviço à sociedade.

 

Atualmente quais são os principais problemas que se colocam à Ordem e à atividade dos seus associados?

Precisamos de atrair e reter colaboradores e auditores com as melhores competências. Precisamos de ter dinheiro para investir em novas tecnologias, em conhecimento e para remunerar devidamente o trabalho que exigimos. Precisamos de uma sociedade exigente em geral, não só sobre os auditores. Precisamos de bons gestores, boas leis, bons supervisores, boas universidades. Penso que todos estamos a caminhar nesse sentido e os caminhos fazem-se indo juntos. A velocidade de ajustamento que nos é exigida a todos é imensa. Veja-se a legislação, que tem de acompanhar a velocidade de inovação nas mais diversas áreas (criptomoedas, p.e.). Temos todos de descobrir formas ágeis de dar a resposta devida à evolução. Estes são desafios importantes.

 

Há três anos foram introduzidas novas regras em Portugal para as atividades de auditoria. Que balanço faz dessa implementação?

Está a ser feito um balanço da adoção dessas regras, balanço esse que afetará a revisão legislativa em curso. Penso que é reconhecida por todos a necessidade de algumas mudanças na legislação. Isso tem sido anunciado pela CMVM, que, quanto aos aspetos que lhe compete rever, foi a primeira entidade a expor um trabalho de revisão da legislação vigente. Estamos também a fazer esse trabalho internamente, temos colaborado com a CMVM e vamos continuar a colaborar com as entidades que decidirão no momento em que a revisão legislativa esteja sob a sua alçada: Governo, Assembleia da República.

 

O que elege como melhor e pior até aqui?

Tentando de modo breve fazer um balanço, sintetizo alguns pontos: desde 1/1/2016 são aplicadas sem qualquer exceção todas as normas internacionais de auditoria e outras aplicáveis à profissão (normas de qualidade, por exemplo). Reconhecemos que o Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria (supervisor anterior) teve um papel muito importante, mas a mudança de supervisor é sempre uma oportunidade de corrigir e melhorar. E havia efetivamente alguns aspetos a melhorar. Também havia aspetos que estavam a correr bem, esses seriam de manter. Na parte negativa, talvez destacar o seguinte: o peso dos encargos adicionais que as firmas de auditoria se viram obrigadas, quer por via das novas taxas de supervisão, quer pela reformulação de sistemas internos de controlo e de informação, nem sempre percebidos como razoáveis numa análise de custo-benefício. Esses encargos são, obviamente, mais difíceis de diluir no caso das firmas de menor dimensão. Quer por via destes custos, quer por via de outras regras novas, há o receio (que está a ser analisado) de que, ao invés de se conseguir uma desconcentração do mercado e uma concorrência mais sã, pode estar a impulsionar-se uma maior concentração do mercado e a criação de barreiras de entrada a novas firmas de auditoria ou barreiras ao crescimento de firmas já existentes.

 

Temia-se que as novas regras implicassem custos significativos para empresas e auditores. É possível quantificar estes custos?

Sim, é possível, mas, neste momento, não o posso fazer em toda a extensão. Há em primeiro lugar os custos significativos suportados pela própria CMVM (esses não conhecemos, claro) e há os custos suportados por cada firma de auditoria, quer pelo aparecimento de novas taxas a que ficaram obrigadas, quer pela reorganização interna dos seus sistemas de controlo de qualidade e dos seus sistemas de informação, que tiveram de ser preparados para dar resposta aos reportes necessários para cumprimento da regulamentação vigente. Há finalmente os custos da Ordem. A Ordem é uma entidade de pequena dimensão, qualquer alteração nos seus gastos tem impacto significativo. Duplicámos o número de colaboradores na área jurídica. Aumentámos a quantidade de horas de trabalho de todos os membros do Conselho Diretivo, de outros órgãos e das comissões. Grande parte deste trabalho é desenvolvido em regime de voluntariado, os gastos não são todos refletidos na demonstração dos resultados da Ordem, sendo, em grande parte, refletidos na esfera pessoal de cada um. Pela primeira vez o orçamento que apresentamos prevê um resultado negativo. Optámos por não aumentar as contribuições dos nossos membros. Sabemos as dificuldades por que estão a passar. Estamos a procurar os modos mais eficazes de trabalhar e também à procura de fazer o que é importante e evitar gastarmo-nos e gastar os nossos recursos em trabalhos que não são efetivamente úteis.

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