À medida que se agravam os impactos das alterações climáticas, aumenta a pressão para reduzir as emissões de carbono. Abreviadamente, poder-se-á dizer que a receita para a mobilidade sustentável consiste na transferência do carro para o autocarro e, se possível, do autocarro para as bicicletas e para os peões. É exatamente o que está a ser feito um pouco por todo o mundo, com o intuito de priorizar meios de transporte não poluentes e reduzir os níveis de poluição do ar.
Em Portugal, a par da sensibilização dos cidadãos para esta matéria, os vários territórios também estão conscientes do quão crucial é encontrar alternativas à utilização do transporte individual motorizado.
Mobilidade urbana, uma das chaves para a sustentabilidade do planeta
A mobilidade e a sustentabilidade caminham juntas em prol de um futuro coletivamente desejável, sendo a mobilidade urbana um dos esteios para a sustentabilidade do planeta nas suas múltiplas dimensões (ambiental, social e económica).
Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, sublinha que “25% da emissão total de gases com efeito de estufa é responsabilidade dos transportes e, destes, 25% são atribuídos ao transporte individual. É algo que tem um impacto enorme em termos ambientais, mas também em termos económicos”.
Nuno Martinho, secretário executivo da CIM Viseu Dão Lafões, reafirma-o, ao dizer que “urge reforçar a capacidade dos territórios de dotarem as suas cidades e vilas de mais e melhores condições de mobilidade urbana, através da aposta no transporte público (...) regular ou flexível, através da criação de meios de mobilidade suaves, sustentáveis e inclusivos”. Só assim se promove “a criação de interfaces de transportes eficazes que permitam o abandono da ideia do automóvel individual como modo privilegiado de transporte urbano.”
Para que a mobilidade sustentável possa prosperar adequadamente, é necessário, na opinião de Pedro Baganha, vereador responsável pelo Pelouro do Urbanismo e Espaço Público da Câmara Municipal do Porto, cumprir alguns requisitos: apostar no aumento de postos de carregamento de veículos elétricos, alargar as redes cicláveis, consciencializar a população do retorno financeiro para as famílias na utilização de transportes públicos e promover uma maior e melhor intermodalidade intermunicipal.
A crise pandémica e a guerra na Ucrânia
“Um dos setores mais afetados com a crise pandémica foi o da mobilidade e dos transportes públicos”, sublinha Emílio Torrão, presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, tendo-se verificado um “decréscimo acentuado na utilização dos transportes públicos que ainda não foi recuperado”.
Já a guerra na Ucrânia expôs os riscos da estratégia energética da Europa e consequente alteração no fornecimento de bens e materiais, e nos seus custos. Para Emílio Torrão, é necessário haver “uma efetiva aposta na mobilidade sustentável que se consubstancie na redução do uso de combustíveis e de energia, através de maior uso e sustentabilidade dos transportes públicos, mas também de alteração de modos de transporte individual, reduzindo a fatura energética”.
Semana Europeia do Ambiente e a consciência ambiental
Se associarmos as preocupações ambientais à crise energética que estamos a atravessar, estão criadas as condições ideais para que os projetos associados à mobilidade sustentável tenham cada vez mais adesão em todas as regiões do país.
A Semana Europeia da Mobilidade (SEM) – organizada pela Amadora em parceria com a EcoMood Portugal – faz prova disso mesmo, enquanto “oportunidade de mostrar as boas práticas no que se prende com mobilidade e transportes, ao mesmo tempo que visa reforçar a importância de colocar a temática da mobilidade sustentável no centro da discussão pública”, nota Vitor Ferreira, vice-presidente da Câmara Municipal da Amadora com o Pelouro da Mobilidade e Transportes. Aliás, este é um paradigma que tem de ser trabalhado junto dos mais novos, que serão os cidadãos do futuro: “Na Amadora, inaugurámos em 2020 a Escola da Mobilidade, onde, durante todo o ano letivo, as crianças do 1.º ciclo de Eco-Escolas do concelho podem ter aulas teóricas, com noções básicas de segurança, cidadania e sustentabilidade, para o seu futuro enquanto peões, utilizadores de bicicleta e outros modos de mobilidade suave, e também como automobilistas. Com a devida promoção dos transportes públicos, enquanto base da mobilidade humana”.
Desafios na área da mobilidade sustentável em Portugal
Na opinião de António Pina, presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), “o principal desafio de Portugal na área da mobilidade continua a ser a infraestrutura (...), seguida da necessidade de forte investimento na ferrovia” e do “incremento de soluções de mobilidade suave – ciclovias, parques de apoio e pontos de acesso –, assim como na micromobilidade”.
O responsável da AMAL destaca, ainda, a importância de “acelerar o desígnio da mobilidade elétrica (...) e de avançar com mais e melhor regulamentação da restrição à circulação nas cidades de veículos com motores de combustão, com o objetivo de reduzir os níveis de poluição atmosférica urbana e de redução do ruído, potenciar o aumento das zonas pedonais e de circulação de bicicletas e trotinetas, aumento das zonas de redução de velocidade e de limitação ou proibição gradual do estacionamento automóvel nos centros históricos e urbanos”.