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Susana Castelo: "As regiões deram um salto qualitativo muito grande"

Em Portugal, existe cada vez mais consciência da importância da mobilidade sustentável. As pessoas sabem-no e existem várias cidades e regiões que dão bons exemplos.

15 de Setembro de 2021 às 15:14
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Há quase 30 anos que a TIS cria soluções de mobilidade e acessibilidade eficientes, inovadoras e adequadas às necessidades das pessoas e dos territórios. A empresa tem um envolvimento histórico no que diz respeito à consultoria em mobilidade sustentável, não só em Portugal, mas também no estrangeiro. Por isso, entrevistámos Susana Castelo, CEO da TIS, que nos fez um balanço da mobilidade sustentável em Portugal, apontou o que está bem e o que está menos bem e ainda falou dos projetos da sua empresa, os passados, os do presente e os futuros.

Pela vossa experiência, os portugueses estão mais sensibilizados para a importância da mobilidade sustentável?
Sim, foi uma mudança que começou há alguns anos, mas está a ser acelerada pela pandemia e pela ocorrência de efeitos climáticos extremos. As pessoas ficaram mais conscientes das vantagens e benefícios associados ao andar a pé e em bicicleta e passaram a valorizar muito mais a qualidade dos espaços públicos, também como espaços de estadia.

Os veículos elétricos e/ou híbridos têm conquistado uma maior quota de mercado que só não é maior devido ao preço, sendo de esperar que esta quota continue a aumentar. Agora, é importante garantir que os transportes públicos são também entendidos como sustentáveis (e seguros), porque a pandemia aumentou o receio de utilização destes modos e isto apesar de a informação disponível não associar nenhum risco adicional à utilização dos transportes públicos.

As autarquias em Portugal estão mais sensíveis para este tema – seja na incorporação de meios de transporte ecológicos, apostas em ciclovias ou mobilidade inclusiva?
As autarquias têm procurado melhorar a qualidade da circulação pedonal – melhorando passeios e zonas de atravessamento – e das redes cicláveis. Nalguns casos estão a ser introduzidos sistemas de bicicletas partilhadas e/ou veículos elétricos nas redes de transporte público.

Todavia, ainda é necessário promover uma maior articulação entre estas medidas e a gestão da circulação rodoviária, estacionamento e logística urbana porque em muitas cidades e vilas portuguesas tem existido alguma timidez na reafetação do espaço público aos modos mais sustentáveis, mantendo-se a política de circulação e de estacionamento tradicional. Se queremos mudar os comportamentos temos de agir mais firmemente sobre estas componentes do sistema...

A mobilidade sustentável é um sucesso em cidades como Copenhaga, Estocolmo, Zurique... Do vosso conhecimento, quais são as cidades ou zonas urbanas no país que mais apostam na mobilidade sustentável e que são exemplos a seguir nesta área?
Felizmente, existem muitos exemplos a destacar. Em Portugal, começámos há menos tempo e, por isso, é necessário recuperar o tempo perdido, mas existe a vantagem de podermos avançar mais rapidamente, beneficiando da aprendizagem do que foram as experiências menos bem-sucedidas noutros países.
Corre-se o risco de sermos injustos ao destacarmos uma cidade ou zona urbana em particular e é também necessário contextualizar os recursos financeiros e humanos que estão disponíveis. É incontestável que Lisboa ou Cascais são autarquias que se têm destacado pelo enorme dinamismo na implementação de uma estratégia de mobilidade sustentável, mas é igualmente meritório o trabalho desenvolvido por Matosinhos ou Viseu. Estes são alguns exemplos, mas podiam ser considerados muitos outros...

E quais são as regiões que são bons exemplos na mobilidade sustentável?
Todas as regiões deram e continuam a dar um salto qualitativo muito grande. Nos últimos anos, estiveram muito focadas nos desafios inerentes à contratualização das redes de transporte público, mas agora, à medida que este processo fica arrumado, ganham maior consciência para a necessidade de considerarem outras áreas.
Neste domínio pode-se destacar, por exemplo, as CIM do Médio Tejo ou da região de Aveiro, que têm apostado na implementação de redes de modos suaves e de transportes flexíveis, complementares à oferta de transporte público rodoviário.

Todavia, importa refletir sobre o modelo de financiamento das CIM, que estão muito dependentes da abertura de linhas de financiamento para a concretização de projetos, o que limita substancialmente a definição de uma estratégia coerente de intervenção. Seria de equacionar a existência de um orçamento para a concretização dos projetos pelas CIM, permitindo que estas tivessem maior liberdade na seleção dos projetos que pretendem implementar num dado momento. Não faz sentido que uma CIM seja responsável pela definição e contratualização da rede de transportes coletivos no seu território e não possa tomar a iniciativa e financiar os projetos complementares a essa rede e que aumentam a coerência e eficácia do sistema.

Esta mudança implicaria uma maior responsabilidade nas escolhas dos projetos por parte das CIM, mas ao mesmo tempo permitiria ambicionar um ganho significativo na qualidade e coerência entre projetos e investimentos.

Como tem contribuído a TIS nestes anos para as questões relacionadas com a mobilidade sustentável em Portugal?
Nesta pergunta em particular temos de pôr de lado a modéstia. Na TIS orgulhamo-nos dos quase 30 anos (que atingiremos em 2022) de envolvimento no processo de construção de um sistema orientado para padrões de mobilidade sustentável, seja no contexto nacional, seja no contexto internacional de consultoria e investigação para a União Europeia, mas também no Brasil.

Ao longo deste tempo procurámos ir respondendo às necessidades que sentíamos no mercado; nos primeiros anos da TIS, muito do nosso trabalho esteve associado ao desenvolvimento dos estudos de procura e análises dos benefícios sociais e ambientais das expansões das redes de metro de Lisboa, Porto e, mais recentemente, do Sistema de Mobilidade do Mondego, mas também a apoiar os grandes operadores de transporte público rodoviário (Carris, STCP, etc.) a reestruturarem e a organizarem as suas redes de transporte.

E posteriormente?
Posteriormente, desenvolvemos os primeiros Planos de Mobilidade e Transportes, os estudos de organização dos sistemas tarifários, os estudos de fundamentação à definição de uma estratégia de política de estacionamento tarifado ou de organização das redes de logística urbana, entre outros. Ao longo do tempo, felizmente, estes foram sendo cada vez mais comuns e, por isso, procuramos sempre estar à procura do passo seguinte.
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