A mobilidade elétrica chegou para ficar. Hoje, as preocupações com o meio ambiente e com a sustentabilidade do planeta estão na agenda de (quase) todos e os veículos elétricos assumem importância fundamental neste tema. Quando se refere a mobilidade elétrica não se está a falar de uma tendência, mas sim de algo permanente.
Existem empresas e autarquias que estão a optar por frotas de carros elétricos. Muitos partilhados. Este mês, Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética, disse que está previsto adquirir mais 200 veículos elétricos este ano para a frota de automóveis do Estado. No ano passado já tinham sido adquiridos 170 veículos elétricos. Aumenta a preocupação em ter transportes públicos "verdes". Os carros autónomos estão a evoluir. E países e cidades querem acabar com os automóveis movidos a gasolina e gasóleo. A Noruega dá o exemplo. Mas outros países como Holanda, Escócia, França, Áustria e cidades como Madrid, Paris, Atenas ou Cidade do México abrem guerra ao diesel e querem nos próximos anos proibir a circulação destes carros.
Não se pense que esta é uma moda europeia. Longe disso. Na Índia, pretende-se que a comercialização de veículos com motores a combustão termine até 2030. Já a China também anunciou, recentemente, que quer proibir a venda de automóveis movidos a combustíveis fósseis. Mais dois exemplos a demonstrarem que o desígnio elétrico não se equipara a uma folha caduca, mas sim perene ou persistente.
Será ilusório, inútil e mesmo perigoso, porém, esperar e exigir uma hegemonia total dos veículos elétricos e o desaparecimento dos veículos de combustão, pois estes continuam a seduzir muitos automobilistas, esclarece um estudo do Observador Cetelem.
Solução amiga do ambiente e da carteira
As novas soluções estão à vista e com a missão de proteger o planeta. Mas não só. A mobilidade elétrica também é amiga da carteira dos consumidores. Henrique Sánchez, presidente do conselho diretivo da UVE – Associação de Utilizadores de Veículos, diz nas páginas deste especial que os veículos elétricos são mais eficientes e económicos.
Num excelente exercício matemático, Ricardo Oliveira, diretor de Comunicação e Imagem da Renault, explica neste suplemento como se pode poupar dinheiro com a aquisição de um automóvel elétrico. Ricardo Oliveira sublinha que "a vantagem, ainda hoje menos conhecida, é a económica". "O custo de utilização de um automóvel elétrico, nas atuais condições, é francamente inferior ao de um automóvel de motor a combustão. E nas duas vertentes às quais estão associados os custos de utilização: ‘combustível’ e manutenção."
Um bom período
Portugal está numa fase de expansão no que diz respeito à mobilidade elétrica. 2018 foi o melhor ano de sempre no país no que diz respeito à venda de veículos elétricos. A venda destes veículos está a aumentar, mas ainda é residual. No entanto, a UVE fala em números interessantes – recorda que o parque elétrico nacional inclui também motociclos, ciclomotores, quadriciclos… – e acredita num crescimento exponencial num futuro próximo com a chegada de novos modelos.
Os portugueses são entusiastas da mobilidade sustenta´vel e gostam de vei´culos ele´tricos, só não adquirindo mais porque ainda são caros, no ato da compra. A autonomia e as soluções de carregamento são os outros dois motivos que fazem com que os consumidores nacionais não adquiram mais veículos elétricos. Ainda assim, Portugal está bem classificado na venda de veículos entre os países da União Europeia.
Sobre o facto de 2018 ter sido o melhor ano de sempre no país no que toca à venda de veículos eléctricos, João Peças Lopes, professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) & diretor associado do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), explica que "começa a haver uma perceção de que a mobilidade elétrica é uma opção de futuro". Esta traduz-se numa "redução significativa dos custos de utilização por quilómetro e de manutenção, quando comparados com os custos de um veículo com motor de combustão interna".
Por outro lado a autonomia dos veículos elétricos tem vindo a "aumentar" e a rede de postos de carregamento, em especial os de carregamento rápido, tem crescido o que "reduz o efeito de ansiedade e permite já enfrentar com confiança uma viagem mais longa". "Este crescimento da aquisição de veículos elétricos resulta também de algum efeito de imitação, que se irá replicar sucessivamente nos próximos anos".
O balanço
Num balanço feito à mobilidade elétrica em Portugal, Pedro Domingues, diretor comercial da Efacec Electric Mobility, explica que à semelhança de outros países, a mobilidade elétrica constitui um desafio e uma oportunidade" para o país. Há um caminho a trilhar no sentido de adotar a mobilidade elétrica. Existem indicadores positivos, nomeadamente "a expetativa de redução de custos de produção das baterias e a aposta da indústria automóvel no desenvolvimento de veículos desta gama". Importa reforçá-los e dar condições para a afirmação da mobilidade elétrica.
Economicamente terá de haver um "maior incentivo por parte dos fabricantes automóveis para que mais portugueses adotem o veículo elétrico". O aumento da procura destes veículos revela uma adesão nacional a esta forma de mobilidade, mas importa dar "cada vez mais confiança para que aumente o número de utilizadores".
Para que a mobilidade elétrica se afirme, é necessário conciliar 3 domínios: "Veículos; carregamento eficiente; reforço da capacidade de infraestrutura de energia. A conjugação destes três vetores constitui um ‘triângulo virtuoso’ para a afirmação da mobilidade elétrica em Portugal.